Política

Sem entrelinhas, Hartung defende Pazolini ao governo do ES: “Boa alternativa”

Ex-governador alçou o prefeito de Vitória ao cargo mais alto do Estado. Ele também diz quem é o "Kassab capixaba" da articulação política

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Paulo Hartung (foto: Ascom/PH)
Paulo Hartung (foto: Ascom/PH)

Após sinalizações, recados e falas em favor de uma renovação na política capixaba, o ex-governador Paulo Hartung (PSD) tirou as entrelinhas do discurso e defendeu abertamente o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), como uma “boa alternativa” para a disputa ao governo do Estado no ano que vem.

Em entrevista para a coluna De Olho no Poder, Hartung voltou a rasgar elogios ao prefeito e à gestão da Capital e após ser questionado se Pazolini seria o seu candidato a governador, respondeu: “Espero que ele seja o meu e o seu”.

“Temos um nome muito bom, que é o Pazolini, nosso prefeito de Vitória, que está se colocando como candidato e eu acho que é uma boa alternativa. Está demonstrando ter boa capacidade administrativa, montou uma boa equipe, trabalha com planejamento, está executando, está entregando. E, acima de tudo, é um homem íntegro, honesto, acho que isso é uma coisa muito importante. Você ter um prefeito que está administrando o principal orçamento municipal do Estado e demonstra integridade, compromisso com o combate à corrupção, isso é muito bom. É um bom nome jovem para cumprir essa tarefa”, disse Hartung, em entrevista concedida à coluna na última terça-feira (23).

A citação a Pazolini foi espontânea. Veio após a coluna questionar se havia alguma possibilidade, ainda que mínima, do ex-governador participar como candidato do pleito de 2026, ao governo ou ao Senado. Em maio, na ocasião de sua filiação, Hartung praticamente descartou – embora não tenha cravado – sua participação na eleição.

“A resposta que eu te dei lá (em maio) está valendo hoje. O Estado precisa de renovação, está na hora de arejar as lideranças políticas. Eu disse que um grupo político quando fica muito tempo no governo gera fadiga de material, vira um condomínio de poder e abandona o interesse público. É o fim do mundo”, afirmou, antes de citar Pazolini.

Na entrevista anterior, Hartung já tinha defendido a renovação, citando um grupo de jovens líderes: “No Estado, eu defendo a renovação política, oxigenar a política. Temos um grupo de novos líderes que emergiram no Estado, acho que o ideal é que um desses líderes assuma o bastão”.

Mas, agora, ele aponta exclusivamente para Pazolini.

Sinais, fortes sinais…

Na semana passada, Hartung publicou em seu perfil do Instagram uma mensagem que já indicava seu posicionamento mais incisivo.

Numa referência a Pazolini ser o segundo prefeito de capital mais bem avaliado do País, escreveu: “Na última vez que isso aconteceu, eu era prefeito de Vitória. Os astros estão se alinhando novamente”.

A coluna perguntou se, com a postagem, Hartung estaria “prevendo” que o prefeito percorreria a mesma trajetória que ele, que após deixar a Prefeitura de Vitória, foi eleito governador. E ele respondeu:

“Ao contrário do que falam, eu sou muito transparente no que penso, sempre fui. Minhas posições sempre foram muito claras. Quando eu fui prefeito de Vitória, foram feitas pesquisas nacionais sobre as grandes cidades do Brasil e eu estive em primeiro lugar numa e o prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos, em segundo. Numa outra pesquisa, ele ficou em primeiro e eu em segundo. Então, quando eu vi essa divulgação, falei: ‘Olha, isso aconteceu quando eu estava na prefeitura, bom que esteja repetindo. Porque foi da prefeitura que eu fiz essa caminhada, cheguei ao governo do Estado. Isso que eu quis dizer com a postagem”, revelou.

Por trás das articulações?

Embora ainda falte mais de um ano para a eleição, as articulações nos bastidores andam a todo vapor. E de todos os lados.

Recentemente, Hartung esteve em Linhares, para uma palestra num evento político-empresarial. Antes de subir ao palco para contar um pouco de sua experiência para a jovem plateia, o ex-governador almoçou com o ex-prefeito de Linhares Bruno Marianelli (Republicanos) e com Regis, um dos filhos do também ex-prefeito e ex-deputado Guerino Zanon (PSD).

Conforme noticiou a coluna, logo após o encontro começaram os burburinhos de que o nome de Guerino estaria sendo cotado para compor a chapa de Pazolini, como vice, na disputa ao governo no ano que vem.

A junção dos dois selaria, de vez, a aliança entre o PSD e o Republicanos e, nos cálculos de estrategistas políticos, formaria uma chapa competitiva – com Guerino Zanon somando onde Pazolini é mais fraco e vice-versa.

Mas, ao ser questionado sobre o encontro e sobre a eventual possibilidade de uma dobradinha Pazolini-Zanon, Hartung não deu detalhes.

“Fui a Linhares para fazer uma palestra para jovens empreendedores e fui convidado para almoçar com o ex-prefeito Bruno Marianelli – que já trabalhou comigo no governo – e com Regis, filho do Guerino. Almoçamos juntos. Depois fui para o evento e fiz a palestra. A realidade é essa, o resto é muita especulação. É um processo muito longo. Eleição é só no final do ano que vem, tem muito tempo pela frente”, afirmou.

A coluna insistiu e quis saber de Hartung se era uma possibilidade a chapa Pazolini-Zanon. Mas o ex-governador, saiu pela tangente:

“Eu acho que a gente tem que ter calma, porque tem muita água para rolar, muito tempo pela frente. As coisas estão muito longe ainda, o legal é que tem novos líderes no Brasil, novos líderes no Espírito Santo. Isso é muito bom. Guerino Zanon é uma pessoa espetacular, já fizemos tantas coisas juntos na vida, todo mundo sabe o quanto gosto dele. Mas não pode colocar o carro na frente dos bois”.

“Kassab capixaba”

Na mesma semana do evento em Linhares, Hartung se reuniu com o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, para um café. O encontro foi registrado pelo ex-governador numa postagem em sua conta do Instagram em que ele chama Erick de “nosso coordenador”.

Erick deixou o secretariado da Prefeitura de Vitória para se dedicar ao partido, à montagem de chapa e à candidatura de Pazolini.

É ele que, juntamente com o deputado federal Evair de Melo (PP), tem montado as agendas e aberto o caminho para a “interiorização” do prefeito, com incursões praticamente todos os finais de semana. É dele também a missão de conversar com as legendas, para ampliar a base de apoio de Pazolini.

Perguntado sobre o título de coordenador dado ao ex-presidente da Assembleia, Hartung comparou Erick ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, que é conhecido nacionalmente pela sua habilidade política de dialogar, formar alianças e atrair bons quadros para o partido.

“Sempre falei que ele é um coordenador nosso, é um homem muito político, de bastidor, é uma espécie de ‘Kassab capixaba’. Cara bom de conversa com as lideranças. Ele foi um bom presidente da Assembleia Legislativa, conviveu não só no meu governo nessa posição, então é um bom quadro que temos aí. Nem todo mundo é da rua, das redes sociais. Cada um tem sua qualificação e ele é um bom quadro de bastidor, uma pessoa de muito valor, um bom articulador”.

Após falar do aliado, Hartung revelou qual será o seu papel no grupo que está se formando entre o PSD e o Republicanos: “Vou ajudar, apoiar, bater palmas de pé para as coisas que estão andando”.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.