Política

STJ quer coordenação com tribunais para reduzir recursos

STJ quer coordenação com tribunais para reduzir recursos STJ quer coordenação com tribunais para reduzir recursos STJ quer coordenação com tribunais para reduzir recursos STJ quer coordenação com tribunais para reduzir recursos

Brasília – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) quer ampliar a identificação dos recursos repetitivos, casos com tese semelhante que tramitam nos vários tribunais do País, para evitar a subida dos processos à Corte. A proposta é “racionalizar” o trabalho em coordenação com os tribunais estaduais e federais para definir de maneira mais rápida casos semelhantes que chegam na Justiça e, assim que identificados, determinar a “afetação” de todos os processos – ou seja, suspender a tramitação em todas as instâncias até o julgamento pelo STJ.

Também serão tomadas medidas dentro do STJ para evitar a distribuição de número grande de agravos aos ministros e reconhecer a entrada de casos com demanda repetida em cada seção. A seção de Direito Privado já conta, desde junho do ano passado, com um núcleo específico para verificar recursos repetitivos. Em um ano, foi possível diminuir em 30% a distribuição de processos aos ministros. A intenção é criar núcleos deste tipo para as outras duas seções da Corte – a de direito público e a de direito penal.

O núcleo analisa a entrada de recursos ligados a empresas classificadas como “grandes demandantes” – da área de telefonia e da área financeira. Cerca de 1.500 processos por mês eram dirigidos ao núcleo, mas com a identificação dos temas repetitivos o número caiu para 500 em um ano. “No momento que se começa a fazer afetação de temas semelhantes, esses processos ficaram suspensos nos tribunais inferiores e pararam de chegar ao STJ”, disse nesta quarta-feira o ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

Desde setembro, o tribunal conta com uma Comissão Especial de Recursos Repetitivos, liderada por Sanseverino, para discutir o assunto. A preocupação é com o aumento contínuo do número de processos em tramitação no País. Em 1990, logo após a criação, o STJ recebeu 15 mil processos. No ano passado, o número chegou a 310 mil. A distribuição dos mais de 300 mil processos no STJ corresponde a uma média de 10 mil casos por ano para cada um dos 30 ministros analisar.

Dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que até o final do ano a Justiça brasileira pode alcançar 100 milhões de casos em tramitação.”O aumento tem sido vertiginoso”, diz Sanseverino. A maioria dos tribunais do País já conta com núcleos destinados à coordenação de processos referentes a recursos repetitivos, chamados de Nurer. A intenção é estimular o trabalho de cada núcleo nos 27 tribunais estaduais e cinco Tribunais Federais, que abrangem cerca de 80% de toda a jurisdição do País.

Sanseverino menciona o núcleo do TJ do Rio Grande do Sul como exemplo de bom funcionamento. Foi a justiça gaúcha que identificou o crescimento de processos que questionam nota de crédito dada a consumidores por empresas. Em um único dia, entraram mais de 30 mil processos sobre o tema no Estado. O Nurer gaúcho entrou em contato com o ministro, que é relator de caso sobre o tema no STJ, que imediatamente declarou o recurso como caso representativo de controvérsia, para suspender todas as ações sobre o mesmo tema.

“Precisamos de rápida identificação do problema e busca de soluções”, disse Sanseverino. O recebimento de volume muito alto de processos no STJ, de acordo com ele, prejudica a análise das demandas individuais “que ficam perdidas na multidão de processos”, disse. Para estimular que os núcleos de maneira adequada, o STJ convocou uma reunião para o dia 3 de novembro com todos os tribunais do País.

Serão tomadas medidas também dentro da própria Corte, entre elas a tentativa de evitar a distribuição de número elevado de agravos para os ministros. Os agravos em recurso especial, uma forma de recurso, representam hoje 60% dos processos da Corte.

Em mais de 90% dos casos, o tribunal nega o agravo. Para mudar esse cenário, o tribunal pretende criar um núcleo especial para fazer a triagem prévia destes recursos e rejeitar de imediato o que não deve prosperar. “Queremos também aprimorar o cadastro dos recursos para facilitar a comunicação geral aos tribunais quando há decisão sobre um assunto afetado”, afirmou.