Política

Transparência Capixaba lamenta votação relâmpago na Câmara de Vitória

Entidade disse, por meio de nota oficial, que a Câmara deu uma "aula de falta de transparência e de ausência de diálogo"

Transparência Capixaba lamenta votação relâmpago na Câmara de Vitória Transparência Capixaba lamenta votação relâmpago na Câmara de Vitória Transparência Capixaba lamenta votação relâmpago na Câmara de Vitória Transparência Capixaba lamenta votação relâmpago na Câmara de Vitória
Foto: Reprodução /Youtube

A ONG Transparência Capixaba emitiu uma nota oficial na qual lamentou as votações realizadas pela Câmara de Vereadores de Vitória, em regime de urgência, em que foram aprovadas mudanças na Previdência e redução de cargos comissionados na administração pública da capital. Segundo a ONG, “A Câmara de Vereadores de Vitória deu, nos últimos dias, uma aula de falta de transparência e de ausência de diálogo, e se furtou de seu papel precípuo de representar o povo da cidade e de contribuir para a discussão dos negócios e da administração da coisa pública”.  

A entidade também pede que outros órgãos se manifestem sobre o episódio ocorrido na Câmara. “Lamentamos. Somos contrários. Conclamamos todas as organizações da sociedade civil organizada do município, especialmente as dos servidores municipais e aquelas que são relacionadas à prestação de serviços públicos, que se manifestem contrariamente a esse tipo de procedimento”.

Depois de uma sessão extraordinária convocada para a última segunda (4), antes mesmo de os trabalhos legislativos começarem, a Câmara de Vitória aprovou o texto de reforma da Previdência municipal enviado pelo Executivo. Dos 15 vereadores da capital, apenas Karla Coser (PT), Aloísio Varejão (PSB) e Camila Valadão (Psol) votaram contra. Anderson Goggi (PTB) se absteve. O presidente, vereador Davi Esmael (PSD) não votou por estar presidindo a sessão.

Com a aprovação do Projeto de Lei 01/2021, a alíquota de desconto previdenciário aos servidores de Vitória passa de 11% para 14% para ativos e inativos. O projeto prevê ainda a criação de um regime de Previdência complementar para o município, para a qual terão que contribuir servidores ativos efetivos, da administração direta, autarquias, fundações e da Câmara. Os vereadores aprovaram também, no dia seguinte, o projeto que modifica a idade mínima de aposentadoria e cria regras de transição.

Uma das vereadoras que votou contra, Karla Coser (PT) disse na sessão: “Os sindicatos, os servidores, não tiveram acesso ao projeto que tem 66 páginas e foi entregue aos vereadores 10 minutos antes da sessão. Não tem como votar, é uma irresponsabilidade. Garanto que ninguém teve tempo de ler o projeto. Peço no mínimo de 24 horas para analisar”.

A nota da Transparência Capixaba também questiona a rapidez de votação e citou a Constituição para indicar que pode ter havido ilegalidade. “Sem entrar no mérito da proposta do Poder Executivo Municipal, o Poder Legislativo de Vitória descumpriu, flagrantemente, alguns preceitos constitucionais e mesmo regimentais. O princípio constitucional da publicidade dos atos públicos e a função regimental do Poder Legislativo de vigiar o Poder Executivo foram sumariamente descumpridos ao receber e aprovar, em menos de uma hora, uma proposta tão importante e de tão profundo impacto para a vida da cidade e de seus moradores. Ressalta-se que alterar o regime de Previdência pública não é um assunto trivial, de fácil compreensão. Não oportunizar aos cidadãos de Vitória, aos servidores impactados e mesmo aos próprios vereadores/as a discussão profunda e republicana da matéria, é um desserviço que certamente em nada se parece com ‘renovação’ na política capixaba”.

A assessoria da Câmara foi acionada para comentar a nota. O espaço está aberto à ampla manifestação.

Veja abaixo a íntegra da nota da Transparência Capixaba:

Transparência, clareza e simplicidade: nota pública da Transparência Capixaba sobre aprovação de projeto em caráter de urgência na Câmara de Vitória.

“Tudo o que pode ser dito pode ser dito claramente”

Ludwig Wittgenstein (Filósofo – 1889 – 1951)

Há poucos dias, municípios de todo o Brasil deram posse aos novos prefeitos/as, viceprefeitos/as e vereadores/as eleitos/as em 2020. Aqui em Vitória, além do novo prefeito e vice-prefeita, foram empossados 15 vereadores/as, entre novatos/as e reeleitos. Boa parte desses representantes do povo se elegeu sobre um discurso de renovação política, prometendo novas práticas, mais transparência e mais diálogo. Postulados centrais para o exercício da atividade política na democracia contemporânea, que se colocam antes das visões de mundo, eventualmente, defendidas por quaisquer dos/as representantes.

Infelizmente, o que se viu nos primeiros dias de trabalho da Câmara Municipal de Vitória é o diametral oposto dessas bandeiras: a Mesa Diretora da Câmara convocou, na segundafeira, 04/01/2021, sessão extraordinária para o mesmo dia, sem a devida publicização da pauta da sessão. Às 17h02min, a Prefeitura de Vitória protocolou o PL 1/2021 e às 17h12min, o PL 2/2021, que versavam sobre a reforma da previdência municipal. Às 18h, os projetos já estavam sendo pautados para votação no plenário da Câmara, sem tempo para a apreciação integral e discussão do complexo conteúdo da proposta legislativa.

Sem entrar no mérito da proposta do Poder Executivo Municipal, o Poder Legislativo de Vitória descumpriu, flagrantemente, alguns preceitos constitucionais e mesmo regimentais. O princípio constitucional da publicidade dos atos públicos e a função regimental do Poder Legislativo de vigiar o Poder Executivo foram sumariamente descumpridos ao receber e aprovar, em menos de uma hora, uma proposta tão importante e de tão profundo impacto para a vida da cidade e de seus moradores. 

Ressalta-se que alterar o regime de Previdência pública não é um assunto trivial, de fácil compreensão. Não oportunizar aos cidadãos de Vitória, aos servidores impactados e mesmo aos próprios vereadores/as a discussão profunda e republicana da matéria, é um desserviço que certamente em nada se parece com “renovação” na política capixaba.

Proposições legislativas precisam e devem seguir um processo legislativo próprio, constitucional e legalmente assegurados justamente para permitir a compreensão mais profunda da matéria, e mesmo para que o Legislativo preste uma de suas principais funções: a de aprimorar os atos e propostas do Poder Executivo.

A Câmara de Vereadores de Vitória deu, nos últimos dias, uma aula de falta de transparência e de ausência de diálogo, e se furtou de seu papel precípuo de representar o povo da cidade e de contribuir para a discussão dos negócios e da administração da coisa pública.

Antes de qualquer discussão de conteúdo, que pressupõe debate, disputa, convencimento, apresentação de dados e fatos, pensar eventuais alternativas, pudesse ser realizada, o Legislativo Municipal, em acordo com o Executivo da cidade, impossibilitou essa discussão.

Lamentamos. Somos contrários. Conclamamos todas as organizações da sociedade civil organizada do município, especialmente as dos servidores municipais e aquelas que são relacionadas à prestação de serviços públicos, que se manifestem contrariamente a esse tipo de procedimento.

Os acontecimentos de 6 de janeiro, verificados na capital dos Estados Unidos da América, demonstram a necessidade prático-política de não apenas tecermos loas à democracia, mas de operacionalizá-la de forma cotidiana para que seja reconhecida, apropriada e defendida por todos, ou, ao menos, por ampla maioria dos cidadãos e cidadãs.

Dada a violação do princípio constitucional da publicidade, conforme estabelece o Art. 37 da Constituição Federal, seria de todo justo, ao nosso sentir, que o Ministério Público analisasse a possibilidade de anulação dos procedimentos e a necessidade de sua realização com os devidos trâmites e procedimentos de publicidade tão importantes à democracia.


Vitória, 07 de janeiro de 2021
Transparência Capixaba
“Contra a corrupção, a favor do Espírito Santo”

Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.