Aécio, Vandinho e Perillo (foto: divulgação)
Aécio, Vandinho e Perillo (foto: divulgação)

Um dia após o prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), iniciar as tratativas sobre uma possível entrada no PSDB para disputar o Palácio Anchieta, o presidente da legenda no Espírito Santo, deputado estadual Vandinho Leite, se reuniu com a cúpula tucana nacional.

Na tarde de quarta-feira (26), em Brasília, Vandinho teve uma conversa a portas fechadas com o atual presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, e com Aécio Neves, que assume a legenda hoje (27). Na pauta, o comando do PSDB capixaba.

Foi Aécio quem recebeu, na terça-feira (25), a comitiva canela-verde, formada pelo prefeito, pelo deputado federal Victor Linhalis (Podemos) e pelo presidente da Câmara de Vila Velha, Osvaldo Maturano (PRD).

O encontro entre eles teria sido marcado por um deputado federal tucano, a pedido de Linhalis. O trio capixaba fez uma visita de cortesia, para parabenizar Aécio pelo retorno ao comando da sigla, mas também aproveitou a ocasião para sondar o terreno sobre a viabilidade do projeto de Arnaldinho no ninho.

Conforme noticiou a coluna na terça-feira (25), Arnaldinho teria dito a Aécio que é pré-candidato ao governo e que está em busca de um abrigo partidário. Não foi feito convite de filiação, mas as portas ficaram abertas para um novo diálogo.

Para o grupo liderado por Arnaldinho, o saldo da conversa foi positivo e promissor. Mas, do lado de Vandinho, o encontro não foi visto da mesma forma.

Embora a coluna tenha apurado que não foi tratado, abertamente, sobre o comando do partido no Estado, Vandinho e aliados ficaram cismados. Primeiro porque o deputado não foi informado, pelo prefeito, sobre o encontro com Aécio.

No meio político-partidário, ir à Executiva nacional antes de passar pela liderança local para tratar qualquer assunto é visto como “atropelo” e costuma atrair resistência, ruído interno e desconfiança entre os correligionários.

E, segundo, que ninguém sabe ao certo o que o novo presidente tucano pretende implementar nos estados, seja na estrutura partidária ou nas alianças já construídas.

Soma-se a isso o calendário tucano, que aponta para uma reorganização interna iminente – e que coloca ainda mais pressão sobre quem ocupa cargos de comando.

Maturano, Arnaldinho, Aécio e Victor em encontro em Brasília (foto: Instagram)

Presidência expira no domingo

Não só no Espírito Santo mas em todo o País, a vigência dos mandatos dos presidentes estaduais do PSDB expira no próximo domingo (30). Isso significa que, de garantido, Vandinho tem o comando do partido no Estado até o final de semana.

Caberá ao novo presidente nacional, Aécio Neves, definir, em cada estado, se monta uma nova executiva ou se mantém a atual.

A coluna conversou com alguns tucanos de alta plumagem do Estado e de fora e ninguém cravou qual será o futuro da legenda no Espírito Santo. Mas, todos foram unânimes em afirmar que terá um balizador: o alinhamento com a estratégia nacional a ser implementada por Aécio.

Nos últimos anos, o partido que já governou o Brasil por dois mandatos e deixou como legado, entre outras coisas, a estabilização da economia e o Plano Real, encolheu, perdeu sua posição de principal opositor ao PT e viu muitos de seus quadros políticos baterem asas do ninho.

Para manter o partido vivo, o ex-governador de Minas Gerais tem como principal meta mais que dobrar o número da bancada federal na Câmara dos Deputados em 2026. Hoje, o partido conta com 13 deputados – Aécio quer eleger 30.

Há também espaço para os projetos majoritários. O próprio Aécio é cotado para concorrer ao governo de Minas Gerais, além de Perillo em Goiás e Ciro Gomes no Ceará. Mas, as candidaturas governamentais não são a prioridade número um do PSDB.

Aécio quer fortalecer o partido e esse fortalecimento passa, necessariamente, por aumentar a bancada na Câmara Federal.

Com um maior número de parlamentares, o partido ganha musculatura para negociar com outras bancadas e com o governo e, de quebra, ainda aumenta o volume de recursos do fundo partidário, o tempo de TV durante as campanhas, etc.

Mas o que a estratégia nacional de sobrevivência do PSDB tem a ver com a escolha dos dirigentes partidários nos estados? Tudo.

Segundo apuração da coluna, Aécio tende a deixar no comando dos ninhos estaduais quem melhor se alinhar, pragmaticamente, às metas do partido.

Em outras palavras, ocupará o cargo de presidente regional quem apresentar nomes para montar uma chapa federal competitiva, capaz de aumentar a bancada federal tucana nas eleições de 2026.

E teria sido nesse ponto que Vandinho tentou demonstrar força na reunião com Aécio e Perillo.

Nove nomes

Segundo interlocutores do PSDB nacional e regional ouvidos pela coluna, o presidente capixaba teria apresentado uma lista com nove nomes de possíveis pré-candidatos a deputado federal para a cúpula nacional.

Os nomes dos nove pré-candidatos não foram divulgados – a justificativa para a coluna foi a tal da “questão estratégica” –, mas entre eles estariam ex-deputados federais e estaduais. Nomes já testados nas urnas.

No Estado, para fechar uma chapa federal, cada partido precisa ter 11 candidatos, respeitando as cotas exigidas por lei. Ter nove nomes a oito meses do início das convenções partidárias passa a segurança de que o dever de casa está sendo feito, ainda que para o ano que vem tudo possa mudar.

Hoje, o PSDB integra a base aliada do governo do Estado e trabalha para apoiar o vice Ricardo Ferraço (MDB) ao Palácio Anchieta – além de Casagrande e Luiz Paulo ao Senado. Não há previsão de se investir numa candidatura própria ao governo do Estado.

Em contrapartida ao apoio, o PSDB espera receber do governo ajuda para montar a chapa federal. Que tipo de ajuda seria essa? Indicações de nomes fortes que possam se filiar ao partido e disputar.

Essa “dependência” do Palácio Anchieta para conseguir levar um grupo competitivo para as urnas não é exclusividade dos tucanos e nem inédita.

Na eleição passada (2022), Casagrande suou a camisa para atender os aliados de sua frente ampla. Já no final do prazo, quadros políticos e puxadores de votos trocaram (ou foram trocados) de legenda para equilibrar o grupo para o pleito.

Hoje, a leitura que o comando do PSDB capixaba faz é que fora do projeto do governo do Estado dificilmente a sigla conseguirá manter as chapas que já estão sendo construídas.

Em outras palavras, o que teria sido transmitido para Aécio e Perillo é que se o partido decidir bancar uma candidatura ao governo e deixar o palanque de Ricardo e Casagrande, correria o risco de colocar a perder a chapa federal, que é a prioridade do partido em todo o país.

Outras reuniões marcadas

Além de Vandinho, os ex-prefeitos Max Filho (Vila Velha) e Luiz Paulo Vellozo Lucas (Vitória) também vão participar, em Brasília, da eleição da nova Executiva nacional, hoje. Eles fazem parte do diretório nacional e têm direito a voto – vão votar em Aécio.

Embora a assessoria de Aécio tenha dito que os diretórios estaduais serão definidos “mais à frente”, os capixabas devem aproveitar a viagem à capital federal para abordar o cenário no Estado. Como bom mineiro, Aécio deve ouvir e conversar com todo mundo.

Em tempo: Max e Luiz Paulo também se pronunciaram sobre uma possível entrada de Arnaldinho no ninho tucano. O posicionamento dos ex-prefeitos será tratado numa próxima coluna.

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Fabiana Tostes

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.

Jornalista graduada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e acompanha os bastidores da política capixaba desde 2011.