Por um dia inteiro, a fé vira cuidado. É assim nas ações sociais que a Igreja Cristã Maranata (ICM) realiza na Grande Vitória. Na última delas, dia 11 de outubro, no Maanaim de Cariacica, houve uma verdadeira força-tarefa voluntária para a realização de serviços, todos gratuitos, com mais de 10 mil atendimentos realizados.
O que se vê nessas ocasiões é mais do que um evento de cidadania; é a igreja vivendo o que prega: a Palavra que acolhe e serve. Entre os atendimentos realizados no dia da ação social de Cariacica, estavam orientação jurídica e previdenciária, inclusão digital, emprego, defesa do consumidor, vacinação, oftalmologia com prescrição de óculos, odontologia, corte de cabelo, bazar solidário e outros serviços, todos movidos por uma mesma engrenagem: o voluntariado.

“Nosso salário é a bênção do Senhor”: a visão que inspira o mutirão
O pastor da ICM Luiz Fernando Pitta resume a cultura do servir na Maranata: “Todos os pastores da Igreja Cristã Maranata (ICM) são voluntários; não recebemos salário para sermos pastores. Nosso salário é a bênção do Senhor e a honra de trabalhar para Deus”.

Ele lembra que o Evangelho sempre andou junto do cuidado concreto: “Em toda ação maravilhosa do Senhor Jesus no Evangelho existia o lado social. Há um sentido profético em tudo isso que nos interessa em primeiro lugar, e há um sentido social”.
E explica por que a igreja convoca tantos voluntários a somar: “Fazer esse trabalho é quase uma obrigação nossa, já que temos capacidade de mobilizar a sociedade, os governos – prefeitura, estado, governo federal – e empresas”.
Voluntários: tempo doado que vira transformação
Nos consultórios, nos balcões de informações, na triagem, a oferta é a mesma: tempo. Para o advogado Saulo Brandão de Aquino, servir cura quem serve, daí sua motivação de atuar na Ação Social: “Eu não falo ‘perdendo’, eu falo ‘ganhando’ uma manhã de sábado. No momento em que a gente dá, a gente recebe, né? Os mais beneficiados são todos aqueles que estão servindo. Porque todos que servem são curados imediatamente: da vaidade, da arrogância, da prepotência. Nós todos somos colocados em paz e igualdade”.

Na pediatria, a médica Priscila Silva Griffo descreve o sentido e o alcance prático do voluntariado: “A gente devolve com o nosso serviço; isso é fruto do nosso amor pela obra do Senhor. As pessoas saem felizes com o atendimento e ainda recebem oração: elas vêm pelo corpo e saem com a alma cheia de alegria”.

Na coordenação da área de saúde, o pastor Robson Silva de Souza conta o que acontece nos bastidores para que ninguém fique sem atendimento: “Sabemos do dia a dia, mas eles trocam plantão para estarem aqui. Não perdemos o dia, ganhamos um dia abençoado e maravilhoso”.

E no bazar – onde roupas e calçados ganham novo destino –, o pastor Manoel Bento de Oliveira mostra como cada peça passa por triagem e vira dignidade: “As irmãs voluntárias se reúnem, fazem triagem. Algumas peças precisam ser lavadas, outras não dão para usar. O que está apto vai para doação”.

O fruto dessa dedicação, diz ele, ultrapassa o material: “Uma senhora entrou, foi recebida, foi atendida e saiu maravilhada, dizendo ‘Eu quero participar dessa igreja’. Nossa bênção maior é essa”.
Quem recebe também encontra a Palavra
A proposta do mutirão é clara: resolver o que trava a vida – documento, consulta, direito, vaga, vacina – para que o coração possa ouvir. Quem passou por lá confirma. Gilberto Saint Clair de Oliveira, por exemplo, resolveu várias demandas: “É bom ter tudo centralizado num lugar só. Eu vim procurar oftalmologista, fui muito bem tratado, fiz exame e depois recebi os óculos também. Aproveitei e me vacinei contra a gripe. Passei para ver uma coisa e acabei fazendo mais coisas. É muito bom ter essas ações”.

Para quem trabalha a semana inteira, o sábado vira chance real de organizar a vida. Lorena Coelho Siqueira da Ressurreição Brites conta que conseguiu oftalmologista e dentista para o esposo e a minha filha. “Um sábado para conseguir fazer isso é muito vantajoso para nós, que trabalhamos. Em um só lugar consegui resolver várias coisas que estavam pendentes há tempos.”

E ela descreve o efeito espiritual disso tudo: “Além da parte técnica, tem a parte espiritual: a gente se sente num pedacinho do céu”.
Serviço e salvação: um mesmo chamado
A Ação Social não é o fim. É o meio que remove barreiras e abre caminho para a mensagem central da fé. Como resume o pastor Pitta: ver gente sendo atendida, saindo satisfeita e descobrindo direitos que, por falta de informação, não alcançavam é parte de um testemunho maior – o de que Deus vê, cuida e chama.
No fim do dia, muita gente volta para casa com um direito garantido, uma orientação, um remédio, óculos, vacina – e uma experiência de acolhimento. É quando o atendimento das demandas materiais alcança as demandas espirituais: a oração que consola, a Palavra que orienta, a comunhão que permanece. E o voluntário – aquele que doou tempo e trabalho – descobre, de novo, que no momento em que a gente dá, a gente recebe.