Acessibilidade

Como a Maranata prepara os membros para alcançar quem precisa ver, ouvir e compreender a Palavra

Na Igreja Cristã Maranata (ICM), a discussão sobre acessibilidade ganha um contorno concreto: garantir que cada pessoa, com suas particularidades sensoriais e cognitivas, tenha acesso pleno à experiência de fé.

Leitura: 6 Minutos

Conteúdo Especial

Igreja Cristã Maranata Religião Acessar site

No Dia Nacional dos Surdos, celebrado nesta sexta-feira, 26 de setembro, a discussão sobre acessibilidade ganha um contorno concreto: garantir que cada pessoa, com suas particularidades sensoriais e cognitivas, tenha acesso pleno à experiência de fé.

Na Igreja Cristã Maranata (ICM), essa pauta deixou de ser promessa e tornou-se prática. O Seminário de Acessibilidade, realizado no dia 20 de setembro, no Maanaim de Domingos Martins (ES), consolidou um movimento que se espalha pelas igrejas: formar intérpretes, professores e voluntários; ajustar rotinas e ambientes; produzir material visual e tátil, e, sobretudo, remover barreiras para que os cultos e Escola Bíblica Dominial sejam compreensíveis para todos.

Seminário de Acessibilidade, em 20 de setembro de 2025, no Maanaim de Domingos Martins (ES). Foto: Marcos Salles

O retrato demográfico ajuda a dimensionar a urgência com a qual essa demanda deve ser atendida. O Censo 2022 mostra que 14,4 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. As dificuldades mais frequentes são enxergar – que atinge 7,9 milhões de pessoas – e andar ou subir degraus, presente em 5,2 milhões.

No campo auditivo, a dificuldade para ouvir alcança 2,6 milhões de brasileiros, enquanto os quadros de surdez profunda são estimados em cerca de 2,7 milhões. No universo da neurodiversidade, o Censo identificou 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de TEA (1,2%), com maior prevalência em crianças de 5 a 9 anos.

Seminário de Acessibilidade, em 20 de setembro de 2025, no Maanaim de Domingos Martins (ES). Foto: Marcos Salles

Na prática das igrejas, isso significa uma necessidade ainda maior de incorporar as Libras no culto e legendas nas transmissões, fontes ampliadas e alto contraste em projeções, leitura em voz clara; sinalização simples e objetiva nos espaços e, para autismo e TDAH, rotinas visuais, linguagem direta, redução de ruído, tarefas em etapas e pistas multissensoriais.

Seminário de Acessibilidade, em 20 de setembro de 2025, no Maanaim de Domingos Martins (ES). Foto: Marcos Salles

A Palavra para todos: conceito que vira prática

O secretário-geral da Igreja Cristã Maranata (ICM), Pr. Luiz Eugênio do Rosário Santos, deixa claro o propósito de formar gente para cuidar de gente.

Há pessoas que, muitas vezes, precisam de uma convivência numa comunidade, pessoas com autismo, idosos, pessoas que precisam de uma atenção. Então, o objetivo é treinar professores, pastores, membros para receber essas pessoas bem dentro da nossa Igreja, porque, na verdade, quando você recebe uma criança, alguém assim, você está recebendo a família toda. E essa família, muitas vezes, se sente desamparada pela sociedade.

Pr. Luiz Eugênio do Rosário Santos

No mesmo espírito, o gerente de Comunicação da Igreja Cristã Maranata (ICM), Pr. Josias Junior, afirma:

Falar em comunicação é falar na essência daquilo que a Bíblia ensina. A Bíblia é um projeto de Deus e tem uma missão. No atendimento dessa missão, que é atender a Palavra de Jesus, é que nós vemos o público de acessibilidade de uma maneira especial. Lançamos mão dos recursos disponíveis para chegar nesse público com o objetivo que ele também tenha o mesmo benefício que nós temos, viva a mesma alegria que nós vivemos e alcance a mesma bênção que nós alcançamos.

Pr. Josias Junior

Para que ouçam e entendam: Libras, linguagem e testemunho

A experiência com a comunidade surda aparece como sinal concreto de por que acessibilidade é central.

A médica hebiatra e psiquiatra e membro da Igreja Cristã Maranata (ICM), Ana Lucia Peixoto, alerta que é necessário capacitar e sensibilizar as pessoas da igreja para uma população que está chegando e tem chegado cada vez mais, que é a de pessoa com deficiência.

A palavra diz o seguinte: andar em amor. E é justamente isto, é você andar com essas pessoas, caminhar, mostrar o caminho. Um dia nós recebemos e agora nós estamos passando para que essas pessoas tenham acesso a palavra igual um dia nós todos tivemos.

Ana Lucia Peixoto
Ana Lucia Peixoto. Foto: Marcos Salles

O membro do Conselho Presbiteral da Igreja Cristã Maranata (ICM), Pr. Luiz Pitta, cita o exemplo de um jovem que nasceu com problema auditivo e que só teve acesso ao trabalho com Libras quando tinha por volta de 14 anos. Foi então que ele soube que Jesus Cristo salva e pôde aceitar o Senhor.

Eu o conheci com 16, 17 anos num seminário, quando o Senhor o batizou com o Espírito Santo. Precisava ver a alegria dele com a presença do Senhor no coração. Agora, como nós podemos ter alguém no nosso meio passando 14 anos sem ter acesso nenhum? Esse trabalho de Libras, que é um deles, e outros trabalhos nessa área de acessibilidade têm o objetivo de levar a Palavra do Senhor para que as pessoas tenham condições de aceitá-lo e ter oportunidade de escolher Jesus como salvador. Há toda uma consequência social muito boa, com a qual nós ficamos muito satisfeitos, mas o principal é o espiritual, é maravilhoso tudo isso.

Pr. Luiz Pitta

Autismo e TDAH: ensino que alcança o coração (e a atenção)

No eixo de neurodiversidade, o Seminário de Acessibilidade transforma conhecimento em prática dentro das salas, nos corredores e nos cultos. A professora de crianças na Igreja Cristã Maranata (ICM) Juliana Muniz registra:

Para mim é uma alegria imensa estar no Maanaim mais uma vez para falar sobre o trabalho de acessibilidade voltado para pessoas autistas, não só no público infantil. O número vem crescendo a cada dia, e hoje um a cada 31 nascimentos é de uma pessoa autista.

Juliana Muniz
Juliana Muniz. Foto: Marcos Salles

Por isso, a orientação, sublinha a educadora, precisa ir além do social: “É importante que nesse trabalho não venha a ser feita apenas a parte social, mas também a busca espiritual. O Senhor tem mostrado várias experiências assim.”

Outra professora de crianças na Igreja Cristã Maranata (ICM), a educadora Miriam Oliveira da Silva Rezuski afirma que as perspectivas histórica e pastoral precisam se encontrar em um mesmo cuidado:

O TDAH não é uma questão atual. A primeira vez que se citou o TDAH foi em 1798. A igreja percebe isso. Durante as aulas, a gente percebe que essas pessoas não têm o mesmo comportamento. Mas também elas precisam ser inseridas no corpo. É necessário que dentro da igreja a gente dê acesso à Palavra de Deus com clareza. rompendo a barreira do foco da atenção.

Miriam Oliveira da Silva Rezuski

E as famílias testemunham o efeito desse cuidado. Darlene Gloria Pinho, que viajou de Minas Gerais, sintetiza a experiência com a filha:

Esse é um trabalho maravilhoso, gratificante. Minha filha recebe esse resultado, esse abraço, esse acolhimento, é tudo de bom. Eu vim de Belo Horizonte, essa não é a primeira vez. Em abril eu vim, gostei, achei muito importante, foi um testemunho grande e eu volto todas as vezes.

Darlene Gloria Pinho

Um só corpo, muitos membros: formação que multiplica

A ideia é criar uma base comum, replicável, que una todas as igrejas Maranata no Brasil e no exterior. O coordenador-geral de Acessibilidade da Igreja Cristã Maranata (ICM), Pr. Lucimar Bizio, reforça que o seminário tem uma importância muito grande porque reúne pessoas do Brasil todo.

A troca de experiências, de materiais, de informações fortalece a base do trabalho. Quando a gente entra no mundo da acessibilidade, é um mundo complexo, com muitos sentimentos envolvidos. Então, essa formação e esse olhar diferenciado são muito importantes, a começar pelos pastores, as professoras, todos os membros da igreja. Onde quer que uma pessoa que precisa de acessibilidade esteja, que ela seja bem acolhida.

Pr. Lucimar Bizio
Pastores Lucimar Bizio e Luiz Pitta. Foto: Marcos Salles

A mensagem que o Seminário de Acessibilidade projetou para além do Maanaim de Domingos Martins é simples e exigente: a técnica abre portas, a fé dá sentido e o amor sustenta. Quando um jovem surdo entende a pregação em Libras, quando uma criança no espectro autista acompanha o louvor, quando um idoso com baixa visão participa da aula com material ampliado, a igreja cumpre parte do seu projeto de salvação: alcançar cada vida, sem exceção.