Quando se fala em Cosme e Damião, a imagem mais comum que vem à mente é a de crianças correndo atrás de saquinhos de doces distribuídos nas ruas. A tradição é tão forte no Brasil que, em muitos lugares, o dia 27 de setembro é sinônimo de balas, pipocas e brinquedinhos.
Mas, por trás dessa prática festiva, há uma história rica e cheia de curiosidades que vão muito além das guloseimas.
Cosme e Damião foram irmãos gêmeos nascidos na região da Síria, no século III. Ambos médicos, ficaram conhecidos por atender doentes sem cobrar nada, prática que lhes rendeu a fama de “anárgiros”, palavra grega que significa “inimigos do dinheiro”.
Essa postura solidária fez com que fossem vistos como símbolos de generosidade e cuidado com os mais frágeis, especialmente as crianças. Não à toa, são considerados santos pela Igreja Católica e cultuados por religiões de matriz africana, como orixás Ibejis.
Quem foram Cosme e Damião?
Cosme e Damião viveram entre o final do século III e início do século IV, na região da Síria. Os irmãos gêmeos foram médicos, que atendiam crianças, doentes e necessitados gratuitamente.
Além do trabalho com a saúde dos enfermos, os irmãos também abordavam a questão espiritual com os pacientes, tendo convertido muitas pessoas.
Cura de Paládia
Uma das histórias mais conhecidas de Cosme e Damião é a cura de Paládia, uma mulher hemorroísa. Por gratidão, ela ofereceu três ovos aos irmãos, que não aceitaram.
Porém, com a insistência da mulher, que implorou em nome de Cristo para que pegassem a oferenda, Damião aceitou os ovos. Por conta disso, Cosme chegou a pedir publicamente para que não fosse enterrado com o irmão após a sua morte.
Morte dos irmãos
Cosme e Damião morreram durante a perseguição aos cristãos no governo do imperador Diocleciano, no começo do século IV. Estima-se que o ano exato de suas mortes tenha sido 303 d.C.
Segundo o registrado na Legenda Áurea, que conta a história dos santos, os gêmeos foram primeiro jogados no fogo, de onde saíram ilesos. Depois, foram condenados à lapidação, mas as pedras voltavam contra os atiradores. Ainda, flechas lançadas pelos arqueiros feriram seus algozes. Por fim, Cosme e Damião só morreram por decapitação.
O Frei Paulo César Ferreira explica que, por conta do trabalho de cuidado e conversão com os enfermos, foram considerados mártires pela Igreja Católica e depois foram santificados.
Eles são tidos como padroeiros dos médicos, farmacêuticos e das faculdades de medicina.
Havia um terceiro irmão?
Algumas representações incluem Cosme e Damião com um terceiro irmão, conhecido como Doum. Eles seriam trigêmeos, mas Doum teria morrido ainda novo, por isso costuma ser representado como uma criança menor.
Algumas histórias dizem que após a morte do irmão, Cosme e Damião teriam se dedicado à medicina, aos 7 anos, principalmente ao cuidado com as crianças. Doum é reverenciado como o protetor das crianças até os sete anos de idade por algumas crenças.
Ibejis e a relação com as religiões de matriz africana
Nas religiões de matriz africana, como umbanda e candomblé, Cosme e Damião são associados aos orixás Ibejis, devido ao sicretismo religioso que liga santos e orixás.
Na tradição Iorubá, eles são filhos gêmeos de Iansã e Xangô. Outras crenças afirmam que são filhos de Iemanjá e tinham um terceiro irmão, chamado Idoú ou Doum. Segundo os contos, eles eram crianças que dominavam a magia e tinham grandes poderes, inclusive o de enganar a morte.
Segundo o Santuário Nacional da Umbanda, os orixás Ibejis são considerados protetores das crianças e simbolizam a pureza, a inocência e a bondade.
Os cultos africanos introduzidos pelos nagôs e bantos trouxeram ainda o conceito de transe infantil, denominado Erê (brincadeira), por isso alguns templos chamam as manifestações de espíritos infantis como Erês, ou simplemente Crianças.
Festa de Cosme e Damião
O dia de São Cosme e Damião é 26 de setembro no calendário da Igreja Católica. Porém, no Brasil, a celebração é um dia depois (27).
Isso ocorre porque o dia era mesmo em 27 de setembro, até 1969, quando houve reforma no Calendário Romano e a data passou a ser um dia antes (26), para não confundir com o dia de São Vicente de Paulo. Mas no Brasil a celebração continuou sendo na mesma data.
A festa se tornou muito popular no Brasil, com elementos e tradições oriundos das religiões católica e afro-brasileiras.
O hábito tradicional de distribuição de doces às crianças, por exemplo, está ligada à festa dos Erês. Acredita-se que Cosme e Damião utilizavam doces para cativar os pacientes infantis durante os tratamentos.