A digitalização acelerada do setor financeiro tem levado bancos a fechar agências físicas no país. Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2025, realizada pela Deloitte, 82% das transações bancárias no Brasil já são feitas por canais digitais, sobretudo pelo celular e pelos aplicativos bancários. No Espírito Santo, essa realidade não é diferente.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) destaca que os canais digitais se consolidam como o principal ponto de relacionamento financeiro. Até a primeira quinzena de novembro, 26 agências fecharam suas portas no Espírito Santo, conforme divulgado pelo Sindicato dos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários-ES). Entre as instituições com unidades fechadas estão:
| Bancos/Instituições | Unidades fechadas |
| Santander | 3 |
| Bradesco | 9 |
| Itaú | 7 |
| Banestes | 1 |
| Caixa | 6 |
Já nos últimos cinco anos, segundo o sindicato, cerca de 40 unidades e postos de atendimento foram fechados.
De acordo com o economista-chefe do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES), Felipe Storch, o fechamento de agências bancárias faz parte de um movimento global de digitalização e busca por eficiência.
Para os bancos tradicionais, o impacto é positivo do ponto de vista de custos, pois reduz despesas com aluguel, manutenção e pessoal, além de aumentar a rentabilidade por cliente. No entanto, há um custo social relevante: parte da população perde o acesso físico a serviços financeiros, o que pode afetar a inclusão financeira e a confiança no sistema bancário.”
Felipe Storch, economista-chefe do Ibef-ES

Riscos do fechamento de bancos
Apesar de fazer parte de um movimento digital, o economista alerta para os riscos do fechamento das instituições, especialmente em relação a demissões e clientes.
Segundo Storch, os postos de trabalho estão sendo reduzidos e as demissões estão aumentando nas instituições. Esse alerta também é feito pelo Sindibancários-ES, uma vez que, em 2025, cerca de 40 demissões foram realizadas em bancos no Estado.
Além disso, os clientes, especialmente idosos e pessoas com baixa escolaridade, podem sofrer com as dificuldades geradas pelo acesso digital.
A aposentada Ângela Maria Rodrigues, de 67 anos, conta que tem muita dificuldade com os aplicativos bancários e quem a ajuda é seu neto.

Quem mexe para mim na minha conta é meu neto. Eu não sei nem entrar, nem como funciona. Ele que mexe e paga as coisas para mim. Só sei usar os cartões. Eu não sei mexer, então sempre vou ter essa dificuldade de usar! Sempre vou precisar de alguém para me ajudar fazer as coisas.”
Ângela Maria Rodrigues, aposentada
Além disso, ela mora em Nova Almeida, na Serra, e sua agência bancária fica em Jacaraípe, bairro vizinho, então antes do seu neto a auxiliar com as plataformas digitais, ela precisava se locomover até o local para retirar o benefício da aposentadoria.
Bancos devem oferecer atendimento acessível, diz Procon
O Instituto Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon-ES) informou que mesmo com a modernização digital, as instituições financeiras devem assegurar atendimento de qualidade, acessível e seguro a todos os consumidores.
Os bancos também devem comunicar previamente qualquer alteração nos serviços e oferecer alternativas adequadas de atendimento. Porém, segundo o órgão, mesmo com a digitalização dos serviços, é importante manter alternativas de atendimento presencial ou oferecer suporte a quem não consegue utilizar os meios eletrônicos.
O Procon afirmou que não há um prazo específico definido em lei para que as agências comuniquem aos consumidores sobre o fechamento. Entretanto, o princípio da informação obriga o banco a comunicar com antecedência razoável qualquer alteração que afete o consumidor.
Até o momento nenhuma reclamação sobre fechamento de instituições financeiras foi aberta junto ao órgão.
O que dizem os bancos
O Folha Vitória entrou em contato com as instituições financeiras. Dentro desse processo, algumas agências passam por uma adequação do seu tamanho físico e outras, por uma unificação.
De acordo com o Bradesco, cerca de 98% do total de operações feitas pelos clientes acontecem através de canais digitais, assim, a instituição tem promovido algumas mudanças em seu modelo de atendimento, transformando parte de suas agências em unidades de negócio.
O Banco do Brasil informou que nos últimos três anos nenhuma de suas agências fechou no Espírito Santo, mas entre o período de 2020 e 2021, oito agências tiveram seu encerramento devido à crescente adesão de clientes aos canais digitais.
O Banestes destacou que investe na presença física e digital e que não houve diminuição da base de funcionários do banco, mas sim um aumento. A instituição informou que mantém unidades em todos os municípios do Estado.
O Itaú informou que 97% de todas as suas transações ocorrem através de canais digitais e que para os próximos anos passará a adotar um modelo mais consultivo e nichado em suas agências físicas.
Já o Santander informou que o fechamento de algumas agências faz parte do movimento do banco em acompanhar a mudança de comportamento dos clientes, pois quase toda a totalidade de suas operações acontece de forma remota, por meio dos canais digitais, mas não informou os números.
Já a Caixa informou manter presença física em todo o Espírito Santo, mas sem especificar a diminuição de funcionários ou fechamento de agências.
Apesar de revelarem dados sobre modernização e digitalização, apenas o Banco do Brasil declarou se houve e quantas foram as agências físicas fechadas nos últimos anos.
Cooperativas
Na contramão dos bancos, as cooperativas de crédito seguem outro caminho e ao invés de fecharem agências, estão ampliando seu atendimento físico.
O Sicoob, por exemplo, nos últimos três anos, inaugurou 26 novas agências no Espírito Santo.
Já o Sicredi abriu 31 novas unidades no Estado nos últimos dois anos, sendo 10 só neste ano.
Ambas as instituições destacaram a importância de se conectarem fisicamente com seus clientes e que estar próximo do associado faz diferença no mercado.
Segundo Storch, com o aumento das cooperativas no interior, gera-se mais renda e empregos, o que causa mais ganhos para a comunidade.
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos