Bruxismo infantil
Imagem: Canva/Reprodução

O som do ranger de dentes durante o sono de uma criança pode parecer apenas um incômodo passageiro. No entanto, esse hábito — conhecido como bruxismo infantil — é muito mais do que um simples barulho noturno.

Estudos recentes têm mostrado que ele pode estar associado a distúrbios do sono, alterações respiratórias e até interferências no crescimento da maxila e da face.

Entenda o bruxismo na infância

O bruxismo é caracterizado pelo ato involuntário de apertar ou ranger os dentes, geralmente durante o sono. Em crianças, sua prevalência varia de 13% a quase 50%, especialmente na fase pré-escolar. Aparentemente inofensivo, esse hábito pode gerar desgaste dentário precoce, dor na mandíbula, dor de cabeça e tensão muscular facial, mas seus efeitos vão além da boca.

Durante a infância, os ossos da face ainda estão em formação. Quando há pressão constante da musculatura mastigatória, como no bruxismo noturno, pode haver alterações no desenvolvimento da maxila, levando a problemas como mordida cruzada, desalinhamento dos dentes e até assimetrias faciais.

Além disso, o bruxismo costuma estar ligado a outros fatores, como respiração oral, uso prolongado de chupeta, estresse infantil e padrões inadequados de sono.

Relação entre bruxismo e distúrbios do sono

A conexão entre bruxismo e distúrbios do sono vem sendo cada vez mais estudada. Muitas crianças que rangem os dentes à noite também apresentam sinais de sono fragmentado, sono agitado, apneia do sono e ronco. Um dos motivos mais comuns é a hipertrofia das amígdalas e adenoides, que dificulta a passagem do ar e obriga a criança a respirar pela boca, prejudicando o sono e o crescimento facial adequado.

O impacto vai além da parte física. Crianças com sono de má qualidade têm maior risco de desenvolver sintomas como irritabilidade, déficit de atenção, hiperatividade e dificuldades escolares. Esses sinais muitas vezes são confundidos com transtornos psiquiátricos como o TDAH, mas podem ser consequências diretas de noites mal dormidas.

Por isso, quando um dentista identifica sinais de bruxismo em uma criança, ele não deve olhar apenas para os dentes. O ideal é que se investigue todo o contexto do sono, da respiração e do desenvolvimento craniofacial. Profissionais com formação em Odontologia do Sono ou em odontopediatria com enfoque funcional estão preparados para realizar esse tipo de avaliação.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico costuma envolver uma análise clínica da arcada dentária, da mordida, da respiração da criança e, em alguns casos, exames complementares como a polissonografia, que mede a qualidade do sono. Com base nesses dados, o tratamento pode ser iniciado.

O tratamento do bruxismo infantil deve ser avaliado individualmente. Em alguns casos pode ser apenas conservador e incluir o uso de placas miorrelaxantes, exercícios com fonoaudiólogos para melhorar a postura da língua e a respiração, orientações sobre higiene do sono, além de acompanhamento psicológico em situações de estresse emocional.

Nos casos em que há necessidade de intervenção, a realização de expansão do osso maxilar através de aparelhos ortodônticos associado a intervenções médicas, como a remoção das amígdalas ou adenoides, podem tratar de forma efetiva e prevenir o desenvolvimento de adultos com problemas respiratórios, como apneia do sono.

O acompanhamento é essencial

Mais do que proteger os dentes, o objetivo é garantir que a criança respire, mastigue e durma bem, promovendo um crescimento facial equilibrado.

Um acompanhamento multidisciplinar — com dentistas, otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e psicólogos — aumenta as chances de sucesso e evita complicações futuras, prevenir o desenvolvimento de adultos com problemas respiratórios, como apneia do sono.

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Se você percebe que seu filho range os dentes à noite, respira pela boca ou acorda cansado, vale a pena procurar ajuda especializada. A intervenção precoce pode fazer toda a diferença para o desenvolvimento saudável da face, da mente e do corpo. Porque dormir bem não é um luxo — é um direito, e começa com a atenção aos pequenos sinais.

Dra. Martha Salim

Colunista

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP), Mestrado em Patologia Bucodental (UFF), Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ), Capacitação em Odontologia Do Sono, Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso, Graduação em Odontologia (UFES), Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS), Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim

Doutorado em Cirurgia Bucomaxilofacial (UNESP), Mestrado em Patologia Bucodental (UFF), Especialização em Cirurgia Bucomaxilofacial (UERJ), Capacitação em Odontologia Do Sono, Capacitação em Sedação com ÓXido Nitroso, Graduação em Odontologia (UFES), Atua como professora de Cirurgia Bucomaxilofacial da UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Revisora Científica das Revistas: Journal of the Brazilian College of Oral and Maxillofacial Surgery (JBCOMS) e Brazilian Dental Science (BDS), Autora dos livros "Cirurgia Bucomaxilofacial: diagnóstico e tratamento" (1 e 2 edições), Anestesia Local e Geral na Prática Odontológica, além de colaborar com 38 capítulos de livros e artigos científicos publicados. @dramarthasalim