Saúde

Bullying pode triplicar risco de suicídio em adolescentes

Projeto brasileiro visa reduzir números de violência provocada entre jovens

Bullying pode triplicar risco de suicídio em adolescentes Bullying pode triplicar risco de suicídio em adolescentes Bullying pode triplicar risco de suicídio em adolescentes Bullying pode triplicar risco de suicídio em adolescentes
Foto: Divulgação

Um estudo publicado no Journal of the American Academy of Child e Adolescent Psychiatry mostra que adolescentes de 12 a 15 anos que passaram por traumas relacionados a bullying têm risco de suicídio triplicado. De acordo com a pesquisa, realizada no Reino Unido, com base em dados de 48 países, o pensamento suicida aumenta conforme os casos de bullying tornam-se mais frequentes.

Pelo menos 17% dos pesquisados vítimas de bullying consideraram tirar a própria vida para escapar da perseguição de colegas. Quase 80% afirmaram que o problema causa ansiedade e a maioria (56%) falou que muitas vezes perde noites de sono. Além de afetar a saúde mental, o problema interfere no desempenho acadêmico e na frequência escolar.

A violência deve ser inadmissível num ambiente concebido para proteger e educar. O alerta é do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que divulgou o documento “O enfrentamento da violência que afeta o ambiente escolar”. Com o fim do período de férias e o retorno de crianças e adolescentes às atividades escolares, o tema volta a preocupar famílias e também pediatras, que a partir de agora contam com uma série de orientações da Pediatria sobre como adotar ações concretas de prevenção à violência.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 42% dos alunos da rede pública de ensino relataram ser vítima de violência física ou verbal. O número alarmante, divulgado no fim de 2018, é resultado de uma pesquisa realizada com mais de 6.700 estudantes de 12 a 29 anos, em sete capitais do País: Maceió (RN), Fortaleza (CE), Vitória (ES), Salvador (BA), São Luís (MA), Belém (PA) e Belo Horizonte (MG). O estudo é uma parceria do Governo Federal com a Organização dos Estados Interamericanos (OEI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).

Propondo o diálogo e a formação de agentes multiplicadores de informações para combater a raiz do problema, o Programa #EscolaQPrevine realizou diversas atividades na Escola Municipal Roberto Weguelin de Abreu, em Duque de Caxias (RJ). Foram nove meses de atuação do Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção (GEPeSP), a ONG Associação pela Saúde Emocional de Crianças (ASEC) e a empresa Comunicação e Expressão no local, convidando estudantes a debater saúde emocional e estratégias para lidar com sentimentos, emoções e traumas.

Dayse Miranda, doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e coordenadora do GEPeSP, explica que maior exposição a eventos traumáticos e  situações de violência aumenta a vulnerabilidade e o adoecimento psíquico e emocional das vítimas. O comportamento suicida é um dos fatores associados aos sintomas da Transtorno de Estresse Pós-traumático.

De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP/RJ), a Baixada Fluminense reúne os índices mais altos de criminalidade do Estado do Rio de Janeiro. Nos últimos 18 anos (2000 a 2018), em média 1.862 pessoas morreram por homicídio doloso na região. Anualmente, são 52 homicídios por 100 mil habitantes.

A escola Municipal Roberto Weguelin de Abreu recebeu o projeto-piloto por estar localizada no bairro de Imbariê, área altamente violenta de Duque de Caxias. “Essas localidades são marcadas pela violência extrema, na qual o poder público não consegue desempenhar ações de prevenção. Por isso, nosso trabalho busca criar uma rede de apoio, que forme multiplicadores, promovendo o protagonismo e a autonomia dos participantes, para que eles desenvolvam habilidades emocionais e sociais para tomar decisões assertivas, mas também para auxiliar os outros a fazê-las”, explica Dayse.

SINAIS DE ALERTA

De acordo com o texto, o bullying representa uma das modalidades de agressão mais comuns entre os estudantes. Entre os sinais de alerta que podem ser observados na vítima estão: mudanças de humor, recusa em ir à escola, pedido de mesada extra, isolamento social, atendimentos frequentes no serviço médico escolar, além do surgimento de dores vagas, arranhões e hematomas.

Há ainda manifestações mais severas, como ofensas verbais, ofensa sexual e agressões físicas graves, que podem acontecer dentro da escola ou no seu entorno. Outras modalidades de atos violentos – como vandalismo, furtos e até mesmo homicídios – também podem ser praticados pelos estudantes, sem relação com o problema do bullying. As motivações são variadas, mas geralmente estão relacionadas ao envolvimento com álcool ou outras drogas.

RENDIMENTO ESCOLAR

O documento ressalta ainda a existência de outras formas de violência presentes na sociedade que, embora não atinjam diretamente os estudantes, são causas de piora no rendimento escolar, como tiroteios e outros atos criminosos que influenciam no funcionamento da escola.

“Os barulhos de tiros ou de atividades noturnas que ferem a lei do silêncio acabam por perturbar o sono, o tempo e a qualidade do estudo em casa. Tiroteios impedem a saída de alunos e professores de suas casas, provocando perda de dias de aula, além de medo e apreensão. A violência que atinge familiares, resultando em mortes, também tem impacto enorme na vida pessoal e acadêmica dos alunos”, ressalta o texto.