Imagem: Freepik
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A chupeta é um objeto presente na história de muitas famílias. Para alguns pais, ela é vista como aliada para acalmar o bebê, auxiliar no sono ou reduzir episódios de choro. Para outros, é algo a ser evitado desde o nascimento.

Não existe uma resposta única que sirva para todas as famílias — o que existe são efeitos conhecidos sobre o desenvolvimento da boca, da respiração e da fala da criança. Entender esses efeitos ajuda os pais a fazerem escolhas conscientes e, quando possível, adotarem estratégias que reduzam riscos.

A sucção é um reflexo natural e necessário nos primeiros meses de vida. É por meio dela que o bebê se alimenta e se regula emocionalmente. Porém, quando a sucção deixa de ser apenas nutritiva (leite materno ou mamadeira) e passa a ser não nutritiva, como com o uso prolongado da chupeta ou do dedo, mudanças estruturais podem ocorrer no desenvolvimento das arcadas dentárias e da face.

Consequências da chupeta retrô

A chamada chupeta “retrô”, aquela redonda e totalmente simétrica, é uma das que mais causam alterações negativas na boca. Seu formato arredondado e volumoso faz com que a língua seja empurrada para baixo e para trás quando a criança chupa. Isso interfere diretamente no posicionamento natural da língua, que deveria repousar no céu da boca.

Quando a língua não ocupa esse espaço, o palato (céu da boca) pode se tornar mais alto e estreito, o que reduz o espaço da arcada e pode contribuir para o surgimento de dentes anteriores projetados (dentes “pra frente”), além de favorecer respiração bucal.

Outro efeito comum da chupeta retrô é a chamada mordida aberta anterior, quando os dentes da frente não se tocam mesmo quando a criança fecha a boca. Este tipo de alteração não depende apenas dos dentes, mas da força e da frequência com que a chupeta é usada.

Crianças que usam chupeta por muitas horas ao dia e durante o sono apresentam maior chance de desenvolver essa mordida aberta. Além de questões estéticas, ela pode afetar a fala, dificultando a pronúncia de sons como /s/, /z/, /t/ e /d/.

Chupeta anatômica

Já a chupeta anatômica ou ortodôntica, embora não seja isenta de consequências, foi projetada para reduzir esses danos.

Ela possui um bico mais achatado e inclinado, que se adapta melhor ao céu da boca e permite que a língua permaneça em posição mais próxima da ideal. Isso não significa que ela não cause mudanças, mas indica que as mudanças tendem a ser menos intensas quando comparadas às provocadas pela chupeta retrô.

Diversos estudos em odontopediatria e ortodontia mostram que o risco de mordida aberta, mordida cruzada posterior e alterações musculares é menor quando se utiliza a chupeta ortodôntica e, principalmente, quando o uso é finalizado na idade adequada, preferencialmente até 2 anos, podendo se estender, em alguns casos, até 3 anos sob monitoramento de um profissional.

Tempo, frequência e intensidade

No entanto, é importante reforçar um ponto central: tempo, frequência e intensidade do uso são tão importantes quanto o modelo da chupeta. Mesmo a chupeta ortodôntica pode causar alterações se for utilizada por muitas horas ao dia ou mantida na boca enquanto a criança dorme.

Da mesma forma, uma chupeta retrô usada apenas em momentos pontuais de acalmar ou dormir, e descontinuada precocemente, pode gerar menos alterações do que o uso prolongado de qualquer modelo.

Alguns pais receiam retirar a chupeta porque acreditam que ela ajuda a regular a ansiedade e a proporcionar conforto emocional. E esse ponto é real: a chupeta pode, sim, ter função afetiva. Por isso, a decisão sobre usar ou não usar não deve ser baseada em culpa, e sim em informação.

Se a família optar pelo uso, é possível estabelecer limites saudáveis, como oferecer apenas em momentos de sono, evitar o uso prolongado durante o dia e retirar progressivamente por volta dos 2 anos.

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Outro fator importante é o acompanhamento profissional. Um odontopediatra pode avaliar o formato do palato, da mordida e da respiração da criança, sugerindo orientações personalizadas e, quando necessário, acadêmicas de transição. Caso a criança apresente sinais de respiração bucal, ronco, sono agitado ou atraso de fala, o acompanhamento integrado com fonoaudiólogo é recomendado.

Em resumo:

  • A chupeta retrô exerce maior pressão sobre a língua e o céu da boca, contribuindo para mordida aberta e céu da boca “apertado/fundo”.
  • A chupeta ortodôntica reduz, mas não elimina as consequências.
  • A duração do uso é mais determinante que o modelo.
  • Encerrar o uso entre 2 e 3 anos reduz significativamente danos à mordida e à fala.
  • A decisão final é da família, e deve ser respeitada e acolhida com carinho.

Cuidar da saúde bucal na infância é, acima de tudo, cuidar da formação da face e da respiração, bases para o desenvolvimento integral da criança. A chupeta pode ser uma ferramenta de acolhimento, mas, como toda ferramenta, precisa ser usada com atenção, tempo certo e acompanhamento. A ciência orienta. A família decide. E o profissional apoia.

Dra. Flávia Gama

Cirurgiã-Dentista

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto