Atividade física
Imagem: Freepik/Reprodução

Vivemos na era do culto ao movimento. A atividade física, felizmente, está cada vez mais presente na vida das pessoas, e os benefícios para a saúde cardiovascular são bem estabelecidos: melhora da pressão arterial, controle do colesterol, regulação da glicose, ajuda no peso e, claro, proteção contra infartos e arritmias.

Mas será que é possível exagerar no exercício? Existe um “ponto de virada” onde o esforço físico, ao invés de ajudar, passa a ser um risco para o coração?

A resposta curta é: sim, é possível exagerar, especialmente quando não há acompanhamento adequado ou quando o exercício se torna extremo.

Atividade física é um remédio poderoso

Antes de mais nada, é importante deixar claro: o sedentarismo é uma das maiores ameaças à saúde do coração. A recomendação das principais sociedades médicas é de, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade aeróbica moderada (como caminhada rápida) ou 75 minutos de atividade intensa (como corrida ou spinning). Combinado com treinos de força, os ganhos são ainda maiores.

Alguns estudos mostram que exercícios regulares reduzem a mortalidade cardiovascular em até 30%, de forma semelhante a alguns medicamentos. Ou seja, se fosse um comprimido, o exercício seria uma das pílulas mais eficazes já criadas.

O problema está no excesso não supervisionado

O que a ciência tem observado nos últimos anos é que, em algumas pessoas — especialmente aquelas que praticam esportes de alta intensidade, com carga volumosa e repetitiva — o coração pode sofrer adaptações que não são tão saudáveis.

Entre os riscos já documentados, estão:

  • Cicatrizes no músculo cardíaco, que aumentam o risco de arritmias;
  • Dilatação excessiva das cavidades do coração;
  • Aumento do risco de fibrilação atrial (uma arritmia comum, mas que aumenta o risco de AVC e insuficiência cardíaca);
  • Em raros casos, morte súbita, especialmente em atletas com doenças cardíacas não diagnosticadas.

Vale lembrar que esses riscos estão mais associados a esportes de resistência extrema ou de alta performance, como os praticados por atletas de elite ou amadores com treinos extenuantes e sem acompanhamento multidisciplinar.

Coração de atleta ou sinal de alerta?

É comum que o coração de quem treina intensamente apresente alterações que, em um exame desatento, possam ser confundidas com doença: bradicardia (batimentos mais lentos), aumento do tamanho das câmaras cardíacas ou pequenas alterações no eletrocardiograma. Essas mudanças são adaptações fisiológicas e, na maioria das vezes, não indicam risco.

O problema é diferenciar o que é uma adaptação normal do que pode ser o início de uma doença cardíaca, como uma miocardiopatia ou uma arritmia maligna. E isso só é possível com avaliação especializada, especialmente em atletas que vão além do exercício recreativo.

Quem deve se preocupar?

Alguns sinais indicam a necessidade de uma avaliação com cardiologista:

  • Dor no peito durante ou após o exercício;
  • Palpitações ou desmaios;
  • Histórico familiar de morte súbita ou doenças cardíacas;
  • Hipertensão ou colesterol alto mal controlados;
  • Idade acima de 40 anos e início recente de prática esportiva intensa.

Além disso, se você está se preparando para provas de resistência (meia maratona, maratona, triatlo, etc), o ideal é realizar um check-up cardiológico completo, com eletrocardiograma, ecocardiograma e, em alguns casos, teste ergométrico ou exames mais avançados.

Conclusão: equilíbrio é a chave

O exercício físico é um dos maiores aliados da saúde do coração. O que precisamos é de bom senso, acompanhamento e individualização. Cada corpo responde de forma diferente, e o que é seguro para um pode não ser para outro.

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O papel do cardiologista, nesse contexto, é ajudar você a extrair o máximo benefício do exercício com o mínimo risco. Não se trata de desencorajar a prática esportiva, mas de fazê-la com consciência e segurança.

Portanto, mexa-se! Faça, porém, com responsabilidade. Seu coração agradece e a sua saúde também.

Dr. Vitor Dornela de Oliveira

Colunista

Médico cardiologista e arritmologista, com formação pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP). Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sócio-fundador do Instituto Salutare. Site: http://www.drvitordornela.com/

Médico cardiologista e arritmologista, com formação pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor-FMUSP). Graduado em Medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Membro titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e Sócio-fundador do Instituto Salutare. Site: http://www.drvitordornela.com/