O ecossistema de saúde brasileiro vive uma revolução silenciosa, porém acelerada. Em 2024, os investimentos em healthtechs no Brasil ultrapassaram a marca dos R$ 2 bilhões, consolidando o país como um dos principais polos de inovação em saúde da América Latina. O dado, revelado pelo Distrito Healthtech Report 2024, reforça uma tendência que já vinha em curva ascendente desde a pandemia, mas que agora se consolida como parte estratégica do sistema de saúde privado e público.
Segundo o relatório, o Brasil já conta com mais de 1.200 healthtechs ativas, com um crescimento de mais de 35% desde 2020. Destas, a maior parte se concentra nos segmentos de gestão de clínicas e hospitais, telemedicina, monitoramento remoto de pacientes e inteligência artificial para apoio diagnóstico.
Em 2024, o volume de aportes em healthtechs brasileiras somou R$ 2,1 bilhões, um crescimento de 18% em relação a 2023. As regiões Sudeste e Sul concentram cerca de 70% das startups do setor.
Aproximadamente 40% das soluções desenvolvidas visam aumentar a eficiência da gestão hospitalar, reduzindo em até 30% os custos operacionais de algumas instituições privadas.
Os dados também apontam que a telemedicina, que teve um boom durante a pandemia, manteve sua relevância: mais de 30 milhões de atendimentos remotos foram realizados apenas em 2024, segundo dados da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms).
Casos de sucesso
Nascida no Espírito Santo, a Mental Emotional Equity (Mee) é uma healthtech que vem ganhando projeção nacional ao oferecer uma solução completa para a saúde mental no ambiente corporativo. Criada em 2024 a partir da evolução da plataforma educacional 4U, a Mee ampliou seu escopo com mapeamentos validados de risco psicossocial e passou a incluir, no mesmo pacote, consultas de telepsicologia — uma demanda crescente dos departamentos de RH.
A mudança veio em sintonia com a nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-01), que tornou obrigatória a identificação e o gerenciamento formal dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho, sob pena de autuações e sanções legais. Com uma plataforma digital integrada, que combina diagnóstico, educação continuada e suporte clínico, a Mee oferece às empresas segurança jurídica, inteligência estratégica e cuidado real com seus colaboradores.
Para Andrea Camargo, sócia fundadora da Mee, a healthtech é um exemplo de inovação capixaba com visão global. “A Mee já atua em diversas regiões do país e se prepara para a internacionalização, em sintonia com as diretrizes da OMS e da OIT, que desde 2022 tratam a saúde mental como prioridade absoluta no mundo do trabalho”, destaca Andrea.
Entre outros destaques na área da saúde também tem a startup Laura, que usa IA para monitorar riscos de deterioração clínica em hospitais e já evitou milhares de internações prolongadas. Outra referência é a Pipo Saúde, plataforma que une dados, experiência do usuário e gestão de benefícios, e que recebeu um dos maiores aportes da área no último ano.
O que esperar dos próximos anos
De acordo com dados do Ministério da Saúde, especialistas do setor projetam que, até 2028, o mercado de saúde digital no Brasil poderá ultrapassar R$ 5 bilhões em investimentos anuais, impulsionado principalmente por IA generativa, prontuários eletrônicos interoperáveis e soluções preditivas baseadas em big data.
Para investidores, hospitais e gestores de saúde, o recado é claro: a transformação digital não é mais tendência — é estratégia. E os números mostram que quem aposta na inovação agora, colhe resultados sustentáveis e competitivos no futuro próximo.
Dra. Alice Sarcinelli é professora doutora da UFES, empresária e Head de Saúde da Rede Vitória de Comunicação
