Lipoproteína (a)
Imagem: Canva/Reprodução

Uma nova diretriz sobre dislipidemias e prevenção da aterosclerose, lançada em São Paulo no mês de setembro desse ano, durante o 80º Congresso Brasileiro de Cardiologia, trouxe várias atualizações em termos de classificações de risco, escores, recomendações terapêuticas e inclusão de novos marcadores de risco cardiovascular.

Dentre esses marcadores de risco da nova Diretriz, um dos mais destacados foi a Lipoproteína (a), também conhecida como Lp(a).

O que é a Lipoproteína (a)?

A Lipoproteína (a) é uma partícula cuja composição lipídica é muito semelhante ao LDL (lipoproteína de baixa densidade, popularmente conhecida como “colesterol ruim”).

Um aspecto interessante dela é que, ao contrário da maioria dos biomarcadores, seus níveis individuais no sangue são relativamente constantes ao longo de toda a vida (são extensamente determinados geneticamente), não sendo afetados pela idade, sexo, estado de jejum, dieta ou estilo de vida.

Além de suas propriedades pró-aterogênicas, a Lp(a) também possui efeitos pró-trombóticos e pró-inflamatórios, características estas que, por si só, a associam com o risco cardiovascular e justificam o crescente estudo e interesse científico por essa lipoproteína.

Recomendações sobre a dosagem e utilização da Lp(a):

Na população geral, como triagem universal, sugere-se medir a Lp(a) uma única vez durante a vida, para ajudar na avaliação de risco cardiovascular e/ou no tratamento;

Em grupos determinados, como indivíduos com doença arterial coronariana (DAC) inicial, estenose aórtica, insuficiência cardíaca (IC), antecedentes familiares de doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA) em idade jovem ou de níveis elevados de Lp(a), é sugerido que sua dosagem também seja feita uma vez ao longo da vida, para ajudar na avaliação do risco cardiovascular e/ou no tratamento;

Recomenda-se como metodologia de escolha para a medição de Lp(a) o uso de um ensaio independente da isoforma, que quantifique o número de partículas por litro (nmol/L). A dosagem baseada em unidade de massa (mg/dL) deve ser evitada, pois as fórmulas de conversão não corrigem adequadamente as diferenças entre os métodos e, portanto, não são indicadas;

Todavia, a medição de Lp(a) por meio de ensaio não dependente da isoforma, ou seja, que apresenta os resultados em unidades de massa (mg/dL), pode ser utilizada caso seja a única opção disponível;

O valor de referência sérico utilizado para estratificação de risco cardiovascular, sem meta terapêutica definida, é de inferior a 75 nmol/L (inferior a 30 mg/dL), independentemente do estado de jejum.

Em indivíduos com níveis elevados de Lp(a) iguais ou superiores a 50 mg/dL (ou 125 nmol/L), cuja concentração é majoritariamente influenciada por fatores genéticos, recomenda-se realizar uma investigação em cascata entre os familiares. Essa abordagem pode ajudar na identificação de outros possíveis portadores e na detecção precoce do risco cardiovascular;

Conclusão

Apesar de ainda ser relativamente desconhecida da população geral e pouco avaliada rotineiramente, a Lp(a) é um importante marcador de risco para a doença cardiovascular aterosclerótica (DCVA), infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) e estenose/calcificação da valva aórtica, mesmo em indivíduos com baixos níveis de LDL (“colesterol ruim”).

LEIA TAMBÉM | Tempo é cérebro: como identificar um AVC e o que fazer imediatamente

Diante de todo o exposto, duas mensagens finais podemos destacar:

  • Todos os adultos, uma vez na vida, devem ter os níveis de Lp(a) avaliados, a fim de identificar um risco residual cardiovascular aumentado;
  • Uma Lp(a) elevada é um fator agravante e deve ser considerada para reclassificação de risco, bem como na intensificação do acompanhamento e da terapêutica.
Dr. Pedro Serrão Morales

Patologista

Médico Patologista Clínico; ​ Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF);​ Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML); ​ Responsável Técnico do Laboratório Morales (Grupo Tommasi); ​ Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF); ​ Editor de Medicina Laboratorial da Afya (Afya Whitebook/Portal Afya); ​ Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças Tórax Ary Parreiras (IETAP SES-RJ).

Médico Patologista Clínico; ​ Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF);​ Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML); ​ Responsável Técnico do Laboratório Morales (Grupo Tommasi); ​ Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF); ​ Editor de Medicina Laboratorial da Afya (Afya Whitebook/Portal Afya); ​ Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças Tórax Ary Parreiras (IETAP SES-RJ).