CRM-ES realizou uma pesquisa sobre Violência no Ambiente de Trabalho Médico. Imagem: Folha Vitória
CRM-ES realizou uma pesquisa sobre Violência no Ambiente de Trabalho Médico. Imagem: Folha Vitória

Uma pesquisa sobre Violência no Ambiente de Trabalho Médico, realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) e divulgada nesta terça-feira (9), revelou que mais de 8 em cada 10 médicos que responderam ao levantamento já sofreram algum tipo de violência. Desses, 75% foram alvos entre agosto de 2024 e agosto de 2025.

A pesquisa ainda revelou que 53% dos profissionais agredidos têm menos de 5 anos de formado e 46,2% disseram que foram agredidos de duas a cinco vezes. De acordo com o CRM-ES, 333 médicos capixabas participaram da primeira edição da pesquisa, o que representa 2,06% dos atuantes no Espírito Santo.

Além disso, 54,3% disseram que mudaram a forma como praticavam medicina após sofrer violência, se tornando mais defensivos e desconfiados. O presidente do Conselho, Fernando Tonelli, que atua como psiquiatra, também chamou atenção para os efeitos psicológicos da agressão.

Eu atendo no consultório colegas vítimas destes incidentes e o dano psicológico é muito grave, tão grave quanto o físico. 41,5% disse ter notado um dano psicológico de impacto moderado e 31,1% relatou grande impacto.

Fernando Tonelli, presidente do Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES)
333 profissionais capixabas responderam à pesquisa. Imagem: Folha Vitória

O consultório foi o principal ambiente de agressões

Em 53,4% dos casos, as agressões aconteceram dentro do consultório, em 17,4% na sala de emergência e outros 15,4% no corredor ou recepção da instituição de trabalho. Casos em centros cirúrgicos, quartos dos pacientes, ambiente online e até mesmo fora da instituição foram citados.

Em 53,4% os profissionais relataram estar sozinhos e em 46,6% o fato foi presenciado por outras pessoas, como colegas e pacientes.

Pacientes foram os agressores em 73,5% dos casos

Ao serem questionados sobre quem cometeu as agressões, na maioria das vezes, pacientes foram apontados em 73,5% dos casos, seguidos de familiares ou acompanhantes (67,7%), superior hierárquico (19%) e agentes públicos (15,4%).

A médica generalista, de 24 anos, Maria Júlia Roseira Bessa Ferraz, esteve presente durante a apresentação da pesquisa. Em 24 de agosto, ela prestava apoio à sala vermelha, em uma UPA de Guarapari, quando foi alvo de agressões verbais por parte do vereador Oldair Rossi (União).

Segundo a própria médica, a confusão teria sido motivada pelo atendimento de uma paciente. Em um áudio gravado por uma testemunha é possível ouvir o vereador dizendo: “Se falar isso de novo, te dou voz de prisão. Agora, faça isso de novo que você vê, eu estou fazendo o que aqui? Estou fazendo política aqui? Eu vou chamar o 190 para você. Me respeita, sou fiscal”.

Ele precisava que a paciente que ele estava acompanhando fosse passada na frente, apesar de ela já estar aguardando exames e estar sem dor no momento. Mas ele queria que ela fosse passada na frente e operada às pressas, sendo que não era o critério dela ainda.

Maria Júlia Roseira Bessa Ferraz, em entrevista ao Folha Vitória
Maria Júlia Roseira Bessa Ferraz é médica generalista. Foto: Folha Vitória

Após o ocorrido, o vereador publicou um vídeo em suas redes sociais pedindo desculpas pelo ocorrido. O parlamentar disse que sentia muito se a profissional havia se sentido diminuída, coagida ou menosprezada.

“Em nenhum momento quis causar qualquer mal-estar. Reconheço seu trabalho e o trabalho de toda a equipe da UPA. Não tenho dúvida de que estavam prestando o melhor serviço possível”, afirmou.

Veja o vídeo na íntegra:

Oldair foi suspenso do cargo por 76 dias. Durante este período, ele e os assessores de seu gabinete ficarão sem receber salários.

CRM-ES diz que tomará medidas

Segundo o presidente do CRM-ES, os dados mostram a importância de tomar medidas urgentes para a proteção dos médicos durante o exercício da profissão.

Segundo o conselho, uma proposta de Projeto de Lei que obrigue as unidades públicas de saúde a contar com segurança pessoal, além da patrimonial, será apresentada à Assembleia Legislativa.

Também será solicitado ao Ministério Público, às secretarias municipais, à Secretaria de Estado da Saúde e à Secretaria de Estado da Segurança Pública medidas de proteção como a instalação de botão do pânico e campanhas de conscientização.

“Usaremos esses dados para uma atuação forte e incisiva, pressionando as autoridades e instituições para garantir que a classe médica capixaba tenha o respeito, a segurança e as condições de trabalho dignas que merece”, disse Fernando Tonelli.

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Aline Gomes

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.

Jornalista pela Universidade Federal de Viçosa e estudante de Publicidade e Propaganda na Unopar, atuou como head de copywriting, social media, assessora de comunicação e analista de marketing. Atua no Folha Vitória como Editora de Saúde desde maio de 2025.