Foto: Arquivo
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O doce queridinho do momento, que viralizou nas redes sociais e virou meme por estar enriquecendo confeiteiros e dentistas: o morango do amor! Aquele morango fresco coberto por uma casquinha brilhante de açúcar caramelizado. É gostoso, fotogênico e… pegajoso.

A boa notícia é que dá para aproveitar sem transformar o prazer em risco para os dentes e para restaurações. A seguir, explico por que o açúcar importa, por que doces pegajosos e duros são piores, e trago passos práticos — inclusive cuidados extras para quem tem próteses, restaurações ou facetas.

Mas não pense que essa coluna é para te convencer a não consumir o doce do momento! Acredito realmente que com equilíbrio é possível degustar muita coisa boa na vida!

Por que o açúcar causa cárie (e por que a frequência pesa tanto)

As bactérias da placa usam açúcares “livres” (os adicionados a alimentos/bebidas, além dos presentes em mel, xaropes e sucos) para produzir ácidos. Esses ácidos tiram minerais do esmalte (desmineralização).

Se os “ataques ácidos” são repetidos ao longo do dia, o dente não tem tempo de se remineralizar, e a cárie se instala. O ponto-chave, portanto, é quanto açúcar entra na boca ao longo do dia e com que frequência isso acontece. Revisões que embasaram as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostraram relação dose-resposta: reduzir o consumo de açúcares livres para ≤10% das calorias diárias diminui o risco de cárie — e reduções adicionais para <5% trazem benefício extra.

Na prática, tanto a quantidade quanto a frequência de açúcar importam. Comer açúcar muitas vezes ao dia mantém o pH da boca baixo por mais tempo, favorecendo a cárie; por isso, concentrar doces junto às refeições costuma ser menos nocivo do que “beliscar” o dia inteiro.

O que torna o “morango do amor” mais desafiador para os dentes?

Açúcar concentrado e exposição prolongada. A casquinha dura libera açúcar devagar enquanto já que é mais difícil de ser removida da superfície do dente! Quanto mais grudenta a cobertura, mais resíduos açucarados ficam retidos em fissuras e margens de restaurações, prolongando a queda de pH.

E aqui entra um outro fator: a acidez natural do morango. Como toda fruta cítrica ou semicítrica, o morango tem pH relativamente baixo, capaz de amolecer temporariamente o esmalte. Por isso, não é recomendado escovar imediatamente após comer: aguarde cerca de 30 minutos para permitir que a saliva neutralize a acidez e reestabeleça a dureza do esmalte, evitando desgaste por abrasão.

Dicas práticas para curtir o doce com menos riscos:

  • Coma junto da refeição. Preferir o morango do amor como sobremesa (e não como belisco entre refeições) reduz a frequência de exposições ao açúcar e aproveita o pico de saliva da refeição.
  • Prefira casquinhas mais finas. Elas liberam menos açúcar total e, principalmente, reduzem o risco de fraturas dentárias ou lascas em restaurações, facetas e dentes naturais. Quanto mais espessa e dura a casca, maior a força necessária para morder — e, consequentemente, maior o risco de acidente.
  • Evite “ficar chupando” a casquinha. Mastigue e termine o doce mais rapidamente para reduzir o tempo de exposição.
  • Beba água em seguida. Um gole de água ajuda a remover resíduos e iniciar a neutralização.
  • Espere 30 minutos para escovar. Esse tempo é ainda mais importante no caso do morango do amor, que combina acidez da fruta e açúcar caramelizado. Use creme dental fluoretado e evite enxaguar a boca com água após a escovação para manter o efeito protetor.
  • Use fio dental: Açúcar retido entre dentes é terreno fértil para cárie proximal.
  • Se tem próteses, coroas ou facetas, mastigue com cuidado. Evite morder diretamente com dentes restaurados ou anteriores, pois a força para romper a casca dura pode trincar ou soltar peças (aqui vale a pena considerar se vale o risco!).
  • Próteses removíveis: retire e higienize logo após o consumo.

Quanto de açúcar é “aceitável”?

Para um adulto, 10% das calorias equivalem a ~50 g de açúcares livres/dia; 5% seriam ~25 g. Duas unidades grandes de morango do amor podem facilmente atingir essa cota. Portanto, consuma de forma ocasional e planeje o restante da ingestão de açúcar no dia.

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O morango do amor pode fazer parte de um momento especial, desde que você conheça e aplique estratégias para reduzir seu impacto nos dentes: preferir casquinha fina, comer junto às refeições, beber água depois, aguardar 30 minutos para escovar, e redobrar os cuidados se tiver próteses, facetas ou restaurações. Assim, dá para aproveitar o doce… e manter o sorriso saudável.

Dra. Flávia Gama

Colunista

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto

Cirurgiã-dentista. Especialista em Ortodontia. Mestre em Radiologia e Habilitada em Laserterapia. @flaviagama.orto