
O anúncio da gravidez de Laís Caldas, casada com Gustavo Marsengo, ambos ex-participantes do Big Brother Brasil, viralizou nas redes sociais por um detalhe inesperado: a médica afirmou que utilizava métodos contraceptivos. O caso traz à tona o debate sobre o fenômeno apelidado nas redes sociais de ‘Bebê Mounjaro’: gestações imprevistas que ocorrem durante o uso da tirzepatida, medicamento originalmente indicado para o tratamento do diabetes tipo 2 que tem sido amplamente utilizado para o emagrecimento.
O “nó” no estômago
O Mounjaro atua no organismo retardando o esvaziamento gástrico. Isso significa que os medicamentos ingeridos via oral passam muito mais tempo no estômago antes de serem absorvidos pelo intestino, o que compromete a eficácia da pílula.
De acordo com a Dra. Camila Pitanga Salim, médica endocrinologista e pesquisadora do Centro de Pesquisa Clínica e Diagnóstico do Espírito Santo (CEDOES), o risco é real.
“O Mounjaro, por retardar o esvaziamento gástrico, acaba atrapalhando a absorção dos anticoncepcionais orais. O mecanismo não tem relação direta com a droga e sim pela sua ação na motilidade gastrointestinal”, explica a especialista.
Fases de maior risco
A interferência não acontece de forma linear durante todo o tratamento. Segundo a Dra. Camila, a atenção deve ser redobrada em momentos específicos de ajuste da medicação:
“O risco é maior no início do tratamento, na fase de escalonamento de doses e a cada mudança de dose”.
A médica orienta que, nestes períodos, a estratégia de proteção deve ser alterada. “A orientação é associar um segundo método contraceptivo, como os de barreira (como preservativos), durante o início do tratamento e toda a fase de escalonamento de dose. Essa orientação deve ser seguida até que a paciente esteja numa dose estável por pelo menos 4 semanas ou trocar o método contraceptivo”, afirma.
Perda de peso e “salto” na fertilidade
Além da falha na absorção do remédio, o próprio emagrecimento pode “destravar” a capacidade reprodutiva da mulher. “Em alguns casos específicos, quando a infertilidade está associada ao excesso de peso e alterações hormonais, como síndrome dos ovários policísticos, a perda de peso pode melhorar a fertilidade da mulher”, destaca a endocrinologista.
Para quem não deseja engravidar, a boa notícia é que métodos que não passam pelo sistema digestivo continuam seguros. “Outros métodos contraceptivos (como DIU, implante hormonal ou anel vaginal) não sofrem alteração na sua eficácia”, pontua a pesquisadora.
Riscos desconhecidos na gestação
O alerta médico final vai para a segurança da mãe e do bebê, já que a ciência ainda não tem todas as respostas sobre o impacto da droga no feto. “Não existem estudos conclusivos do Mounjaro durante a gravidez, então os riscos ainda são imprevisíveis e desconhecidos tanto para o bebê como para a gestação em si”, finaliza a Dra. Camila Pitanga Salim.