PMMA: saiba o que é a substância que fez mulher perder o lábio superior
Médicos explicam os riscos do preenchedor, quais os sintomas de que algo não está bem, além das técnicas mais modernas e seguras para fins estéticos
A busca pelo corpo dos sonhos terminou de forma trágica para a balconista de farmácia Mariana Michelini, de 35 anos. Após se submeter a uma harmonização facial, em julho de 2020, sofreu uma grave reação e perdeu o lábio superior. Desde então, vive uma luta para reconstruir parte do rosto.
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Há pouco mais de três anos, Mariana vem usando suas redes sociais para alertar as pessoas sobre os riscos do uso do PMMA (polimetilmetacrilato). Em seus relatos, contou que não sabia que a médica responsável pelo procedimento havia usado a substância. Pensou ser apenas ácido hialurônico. A descoberta veio após as primeiras reações no lábio e o resultado de uma biópsia.
Pela internet, Mariana conta ainda com a ajuda de um "vaquinha solidária" para arrecadar dinheiro para seguir com as cirurgias.
Quais os riscos do PMMA?
Para entender os riscos do polimetilmetacrilato a reportagem do Folha Vitória ouviu duas médicas: a cirurgiã plástica Patrícia Lyra e a dermatologista Priscila Passamani. Elas esclareceram dúvidas a respeito da substância, os perigos dela ser aplicada no corpo e o que pode ser feito para removê-la.
Veja a entrevista com a cirurgiã plástica Patrícia Lyra
1. O que é o PMMA?
"PMMA é a abreviação de polimetilmetacrilato, um polímero sintético amplamente utilizado em uma variedade de aplicações, incluindo medicina, odontologia, engenharia e fabricação.
No contexto médico e estético, o PMMA é frequentemente utilizado como um material de preenchimento para corrigir rugas, sulcos e outras imperfeições na face".
2. Ele é indicado para quê?
"O PMMA (polimetilmetacrilato) é frequentemente indicado para correções de pequenas deformidades e em pacientes com lipodistrofia de HIV, que são pacientes com baixa resposta imunológica".
3. Quais as complicações do uso incorreto do PMMA?
"As mais simples são os nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos ocasionando danos estéticos e funcionais desastrosos e irreversíveis, e as complicações mais graves como necroses, cegueiras, embolias e óbitos apresentam maior frequência com este produto do que com os preenchedores absorvíveis, ficando evidente que o PMMA (que é não-absorvível), NÃO deve ser utilizado de maneira indiscriminada".
4. É seguro usar o PMMA? Quem pode aplicá-lo?
"O uso seguro do PMMA (polimetilmetacrilato) está sujeito a várias considerações. Embora seja aprovado para certos fins médicos, como preenchimento facial em cirurgia plástica, seu uso deve ser realizado por profissionais médicos qualificados, como cirurgiões plásticos ou dermatologistas, em ambientes controlados e seguros. Há plano específico para a inserção do produto.
A aplicação inadequada ou por pessoas não treinadas pode resultar em complicações sérias. Portanto, é essencial buscar orientação médica adequada antes de considerar qualquer procedimento envolvendo o PMMA, pois como é um produto não absorvível, a possibilidade de reação a corpo estranho é real".
Veja a entrevista com a dermatologista Priscila Passamani
1. O PMMA é muito usado para fins estéticos?
"Foi comercializado no Brasil, liberado pela Anvisa há muitos anos, há mais de 25 anos. Não se sabe porque ele continua liberado. Na época, ele foi liberado para tratamentos estéticos de disfunções das pessoas com HIV positivo que causa lipodistrofia, a perda de gordura central da face e que fazia o estigma das pessoas que estavam passando por aquela situação.
Foi liberado numa época em que não existia tratamento a longo prazo para o HIV. As pessoas morriam. Não se via o futuro. As pessoas usavam, perdiam a vida antes de 10 anos e não se via tantos problemas."
2. É definitivo? Pode ser removido? Como?
"É um produto ultra barato e que tem essa característica, por ser um derivado de acrílico, eles colocam no meio de gel, e aí entra no corpo e nunca vai ser degradável pelo corpo porque é um material de corpo estranho.
Antigamente, não sei porque as leis não mudaram, de porque não terem tirado isso do comércio. Com esse boom da estética foi se vendo que era um produto que ficava definitivo e foi se usando em pessoas que não eram HIV positivas.
Ele não pode ser removido sem ser por forma cirúrgica, somente cortando, fazendo grandes cirurgias e mutilando as pessoas, porque se você colocar um produto desse no lábio, por exemplo, que é o que aconteceu com essa moça, que foi enganada pelo profissional e colocou PMMA, na boca, no mento, e aí teve uma reação de corpo estranho, onde começa o inchaço, começa o edema, começam dores articulares..."
3. Quando procurar um médico?
"Ao decidir fazer um tratamento estético você deve sempre procurar um médico de sua confiança. Também seja curioso. Olhe quais são os produtos que estão sendo aplicados em você para saber o que está sendo colocado dentro do seu corpo. Isso é muito importante. E nunca deixar colocar PMMA em qualquer região do corpo.
4. Existem técnicas melhores, mais seguras e modernas? Quais?
"As técnicas mais seguras são feitas por meio de produtos seguros. Existem produtos a base de ácio hialurônico que são compatíveis com o corpo humano e existem múltiplas variedades desses ácidos hialurônicos de durezas maiores, menores, mais finos, partículas menores, mais próprias para a boca, partículas maiores que podem definir o malar.
São compatíveis com o corpo, mas não são definitivos e tem uma durabilidade ampla de um ano, um ano e meio que podem fazer essa volumização, esse contorno, essa proposta de uma beleza elegante e não dessa desarmonização que está acontecendo aí no mercado.
Procure um profissional que use técnicas reconhecidas e, mais uma vez, que use produtos que sejam compatíveis com o corpo-humano. Não existe milagre. Até uma cirurgia plástica ela não tem durabilidade de mais de 5 anos. Em 5, 10 anos, a gente envelhece, o corpo muda corpo envelhece, a gente envelhece, a época muda. O ser-humano é cíclico. Envelhecer faz parte do apreciar a vida", finaliza.
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