ESPECIAL MENTE E CORPO

Saúde

Especial Mente e Corpo: Brasil é o segundo no ranking mundial de cirurgias plástica

Em 2009 foram 459.170 procedimentos cirúrgicos no país. Já em 2016, o número chegou a 839.288

Thaiz Blunck

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação

Quem nunca se olhou no espelho e encontrou alguma coisa que gostaria de mudar? Basta se encarar por alguns segundos para começar: um retoque aqui, outro ali e pronto. Tudo ficaria perfeito! Diante de uma sociedade cada vez mais exigente quando o assunto é aparência física, isso virou rotina e o difícil mesmo é encontrar alguém satisfeito com o próprio corpo e que afirme, com todas as letras, que nunca pensou em mudar nada.

Com a empresária Ivy Pracías, de 36 anos, foi assim. Após 13 anos de casada e duas gestações, ela começou a não gostar do que via quando ficava frente a frente com o espelho, a insatisfação começou a afetar até casamento. Depois disso, ela e o marido resolveram fazer um “investimento”.

“Eu tinha 33 anos , estava com dois filhos, 13 anos de casada e já não estava me sentindo bem comigo mesma. Eu tinha vergonha do meu marido. Aconteceu que um dia uma amiga me levou para uma consulta dela e no fim das contas eu acabei saindo com tudo agendado: silicone e abdômen. Peguei tudo o que eu tinha e não tinha, conversei com meu marido e resolvemos fazer um investimento em mim. A cirurgia foi ótima, já saí com a cintura fina e muita dor. Mas eu renasci e depois de todo o processo de cicatrização eu virei uma nova Ivy.”

A empresária foi uma das 839.288 mil pessoas que realizaram algum tipo de cirurgia estética em 2016. Atualmente, o Brasil é o segundo no ranking mundial de cirurgias plásticas e, entre os procedimentos mais realizados, o aumento de mama aparece em primeiro lugar, com 288.597 cirurgias, segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Em seguida, estão os procedimentos como a lipoaspiração (229.700), dermolipectomia abdominal, também conhecida como abdominoplastia (229.512), mastopexia, para levantar os seios (144.299) e redução de mamas (141.435).

O médico cirurgião plástico, Adriano Batistuta, destacou que a procura por procedimentos estéticos aumenta e muito nesta época do ano, entre o outono e o inverno.

Foto: Divulgação / Facebook

“Agora, durante o inverno, a procura por procedimentos é cerca de 30% maior por conta das férias e por conta das férias também. É o período em que as pessoas tiram um tempo para cuidar delas. Hoje, no meu consultório, os procedimentos mais procurados são a prótese de mama e a abdominoplastia e a grande maioria dos pacientes são mulheres.”

Em sete anos, o número de cirurgias estéticas apresentou um crescimento de quase 50%. O relatório divulgado pela SBCP, mostra que em 2009 foram 459.170 procedimentos, 380.118 a menos do que em 2016, quando o número foi de 839.288. A faixa etária que lidera o ranking é de 19 a 35 anos, seguido de 36 a 50 e 51 a 64 anos.

“Cabe ao médico não julgar a escolha do paciente. Cada um tem um gosto, mas a gente tem que informar se tecnicamente é possível ou não. É muito comum o profissional imprimir o gosto dele no paciente, então a gente tem que ouvir mais e tentar fazer aquilo que ele busca. Eu já operei mulheres de abdômen até 71 anos e no caso da prótese, tem pacientes com vontade de colocar desde os 17 anos. Nesse caso só com autorização dos pais e recomendamos também que a pessoa passe por um ginecologista."

No caso da realização de cirurgias após os 50, é preciso atenção redobrada. O médico geriatra e diretor de Medicina Preventiva da MedSênior, Roni Chaim Mukamal, afirma que os procedimentos devem ser apoiados, desde que ofereçam autoestima e bem estar ao paciente. No entanto, é preciso compreender o motivo para realização de tal cirurgia. 

"Realmente a gente tem visto isso. Os idosos, principalmente as mulheres, têm procurado mais procedimentos estéticos e plásticos. Se isso for trazer melhor autoestima e bem estar, a gente sempre apoia esses procedimentos. Porém, alguns cuidados são importantes: entender porque essa pessoa está querendo fazer aquele procedimento, ter uma avaliação psicológica para descobrir se é algum problema pontual, uma separação, uma perda e entender se realmente ele quer passar por uma cirurgia e deseja mudar alguma coisa."

Geriatra da Medsênior fala sobre os cuidados antes de cirurgias na terceira idade

Assim como é recomendado em qualquer faixa etária, todas as intervenções precisam de atenção no pré e pós-operatório. No caso dos idosos, esse cuidado deve ser ainda maior, a começar pela avaliação, conhecida como 'risco cirúrgico'. 

Foto: arquivo pessoal
"Quando a pessoa decide fazer, a gente precisa realizar uma avaliação global, não só a avaliação cardiológica, conhecida que é o risco cirúrgico. É importante ter uma avaliação geral porque esse idoso, em alguns casos, toma muitos remédios, tem muitas doenças, então o anestesista precisa saber se algum remédio tem que ser descontinuado ou algum outro precisa ser dado imediatamente no pós-operatório. O idosos têm mais riscos de complicações, como delírio e perda de força muscular, por exemplo. Então é importante uma reabilitação o quanto antes, estar com uma boa alimentação, dentro do peso e com as doenças controladas. Isso é fundamental para que a cirurgia dê certo, a recuperação seja boa e o resultado seja satisfatório."

A enfermeira Amanda Bernardino, de 40 anos, também passou por dois procedimentos cirúrgicos. As cirurgias foram realizadas em outubro do ano passado, mas ela ainda está em fase de recuperação por conta de complicações. Ela afirma que é preciso preparar o psicológico antes de decidir entrar no centro cirúrgico. 

"Fiz uma abdominoplastia e uma mastopexia com prótese, só que mais ou menos com uma semana, eu tive complicações. Antes da cirurgia plástica, você tem que preparar muito bem a parte psicológica porque eu sempre falo que a gente entra com saúde e sai doente. É um procedimento invasivo, que você perde sangue, fica debilitada, precisa da ajuda dos outros para tomar banho, se alimentar. Eu fiquei bem limitada e até hoje ainda estou usando cinta, dreno e um cateter, então temos que estar com a cabeça muito boa, saber que você fez aquilo, que pode dar certo, mas às vezes pode demorar o processo."

A ALIMENTAÇÃO É FUNDAMENTAL NA RECUPERAÇÃO


QUANDO A BUSCA PELO 'PERFEITO' SE TORNA UMA DOENÇA
Toda essa busca pelo corpo perfeito, sem defeitos e coisas que incomodam, se tornou comum. No entanto, no caminho dessa busca pelo corpo perfeito, a vontade de mudar uma ou duas coisas na aparência, acaba pode acabar se tornando uma obsessão. A psicóloga do Hospital Royal Care, Verônica Leal, destaca que as 'mulheres irreais' se tornaram referência e motivam as outras a chegaram o mais perto possível. 

"A mídia bombardeia mulheres irreais dotadas de beleza plásticas a todo momento, onde a maioria das mulheres acabam tomando isso para si como referência e buscam chegar o mais próximo possível daquela beleza que é idealizada pela própria mulher, buscando ela aceitação na sociedade e sendo vista sempre impecável beirando a perfeição. Sentir-se insatisfeito com alguma parte do corpo é considerado normal até um certo ponto. A partir do momento que essa insatisfação vira algo obsessivo, é hora de ficar atento e procurar ajuda. O TDC, conhecido como Transtorno Dismórfico Corporal, é a preocupação excessiva de algum defeito imaginário (ou quase mínimo) na aparência do indivíduo, levando ao sofrimento clinicamente significativo, ou seja, o sujeito começa a enxergar sua aparência de forma drástica, (imagem distorcida), onde somente ele enxerga imperfeições em seu corpo, recorrendo a procedimentos cirúrgicos dos quais visam a minimização dessas imperfeições, que muitas vezes não é suficiente para atingir a auto realização e a a auto aceitação."
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