Saúde

Mito ou verdade: descongestionante nasal vicia? Médicos explicam

Saiba como o medicamento age no organismo e os riscos a médio e longo prazos do uso em excesso dos descongestionantes nasais

Ana Carolina Monteiro

Redação Folha Vitória
Foto: Divulgação / Pexel

Para muitos, os descongestionantes nasais são indispensáveis quando o assunto é desentupir rapidamente o nariz. Porém, o "alívio" proporcionado pelo produto pode não ser nada bom para a saúde a longo prazo. Especialistas, inclusive, afirmam que ele provoca uma dependência muito rápida para quem usa.

Antes é preciso esclarecer como ele age no organismo. Por isso, o Folha Vitória ouviu dois otorrinolaringologistas, médicos responsáveis por tratar doenças ligadas ao nariz, ouvido e garganta.

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Os descongestionantes, de maneira geral, possuem um mecanismo de ação chamado vasoconstrição. Mas o que é isso? Eles contraem os vasos sanguíneos e dessa maneira diminuem o volume das estruturas existentes dentro do nariz, ampliando o espaço para a passagem do ar.

Segundo Giulliano Luchi, o medicamento pode ser encontrado em versões diferentes. "Nós temos gotas, gotas tópicas, a grande maioria de pingar dentro do nariz, e temos alguns também que são comprimidos tomados por via oral, alguns em associação com analgésicos, outros associados a antialérgicos".

Mas, afinal, descongestionante nasal vicia mesmo?

O uso constante e indiscriminado do descongestionante nasal vicia, sim. Porém, é fundamental entender que o nariz entupido é fruto de uma vasodilatação. Os vasos, portanto, se enchem de sangue, atrapalhando a passagem do ar. 

E é aí que entra em ação o descongestionante agindo de modo oposto. Isso significa que ele diminui a espessura dos vasos, melhorando a respiração. Por fazer essa vasoconstrição, ou seja, promover a redução do volume das estruturas, leva o paciente a sentir, imediatamente, o aumento de ar passando pelo nariz. 

"Porém, normalmente, cerca de 3 a 4 horas depois, essa substância leva ao que a gente chama de efeito rebote de vasodilatação, ou seja, a mesma substância que levou à vasoconstrição, diminuindo as estruturas e melhorando o fluxo aéreo, leva a uma vasodilatação, aumentando o volume das estruturas como se fosse um edema e levando a uma obstrução nasal, explica Giulliano.

Quando isso acontece, o paciente vai utilizar a mesma medicação para, mais uma vez, desentupir o nariz. "Então o paciente utiliza para tratar um efeito já tratado por ela, entrando num ciclo vicioso onde não consegue ficar sem a medicação".

Os perigos do uso excessivo

A otorrino Andressa Camporez faz um alerta sobre os riscos do uso em excesso dos descongestionantes nasais. 

"Como os vasoconstritores nasais são derivados da adrenalina, a médio e longo prazo, podem trazer efeitos colaterais ao serem absorvidos pela corrente sanguínea, como aumento da pressão arterial e arritmias cardíacas".

A especialista lembra também que o ideal é buscar e tratar as prováveis causas dos constantes congestionamentos como, rinite alérgica, doenças nasais como polipose, hipertrofia de adenoide, desvio do septo nasal e tumores, por exemplo. O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico.

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Luchi disse que existem inúmeros protocolos de tratamento da obstrução nasal. Eles contemplam medicações seguras e que podem ser usadas por mais tempo e sem os efeitos colaterais dos descongestionantes nasais.

Por que é tão difícil parar de usar descongestionante nasal?

Andressa explica que a dificuldade está diretamente ligada ao efeito rebote provocado pelo medicamento e à redução do tempo de efeito.

"Porque ele causa uma rinite vasomotora ou rinite medicamentosa: ele atua diminuindo o tamanho do corneto nasal, fazendo uma vasoconstrição local, porém o uso contínuo leva a uma menor resposta local, o efeito passa em um intervalo menor de horas e o paciente sente necessidade de aplicação continua".

Para descontinuar o uso, na grande maioria das vezes, é necessário tratamento e acompanhamento com um médico. 

"O desmame consiste no desuso completo da medicação e uso de medicação local, como os corticosteroides nasais e sistêmicas como os anti-histamínicos e até corticoide oral, logo no começo, para que o paciente consiga suspender o uso do vasoconstrictor", esclarece. 

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E mais! "Por isso usamos o termo desmame, pois se a mãe continua amamentando, mesmo que uma vez ao dia, o leite não para de ser produzido. Com essa medicação é a mesma coisa, se o paciente usa pelo menos uma vez ao dia os efeitos deletérios acontecem e a lá outras medicações não fazem o efeito desejado", disse Andressa.

Giulliano ressalta que a obstrução nasal é um sintoma que diminui, e muito, a qualidade vida do paciente. 

"Escolas que pesquisam isso mostram que é um sintoma realmente que incomoda muito e o paciente muitas vezes vai usar essa medicação e ela vai levar a um obstrução. À medida que tem em mãos, começa a andar com um vidrinho desses no bolso e utiliza durante todo o dia".

O grande problema é que, diante disso, vai "tratando" o sintoma e ao mesmo tempo cria problemas com o passar do tempo. (...) Em termos de nariz de respiração e fisiologia nasal e também em termos de sistema cardiovascular", disse.

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