Saúde

Estados precisam dobrar o ritmo de vacinação para cumprir calendários; ES ganha destaque

Melhor situação vive o Espírito Santo, que aplicou a primeira dose em 1,2 milhão dos 3 milhões de adultos e também prevê alcançar toda a população em outubro

Estadão Conteúdo

Redação Folha Vitória
Foto: arquivo/ Tânia Rego/ Agência Brasil

Para cumprir a promessa de imunizar antecipadamente sua população adulta contra a covid-19, Estados que anunciaram a medida vão precisar pelo menos dobrar o número de pessoas vacinadas por dia. É o que aponta levantamento do Estadão que compara a atual cobertura vacinal com as novas metas divulgadas pelos governos locais.

Ao menos 13 unidades federativas projetam aplicar mais cedo a primeira dose em todos os maiores de 18 anos, com datas finais que variam entre agosto e o fim de outubro. Inicialmente, a previsão era concluir a vacinação até o fim do ano. Para antecipar o prazo, esses Estados alegam ser preciso receber os repasses previstos pelo Ministério da Saúde, que planeja distribuir 213,3 milhões de doses.

Pesquisadores avaliam que, apesar de ser possível cumprir os novos cronogramas, a estratégia corre risco de falhar se houver falta de adesão de público ou atrasos importantes na entrega de lotes previstos pelo governo federal. Também alertam que, em alguns locais, a antecipação do calendário pode ser resultado da baixa cobertura vacinal em grupos prioritários até o momento.

Espírito Santo se destaca entre os Estados

Melhor situação vive o Espírito Santo, que aplicou a primeira dose em 1,2 milhão dos 3 milhões de adultos e também prevê alcançar toda a população em outubro. Para isso, a vacinação precisa avançar de 8,4 mil para 13,2 mil por dia (56,6%). 

"Nós só não detalhamos o período por semanas, porque acreditamos que ainda existem diversas instabilidades no Programa Nacional de Imunização e o calendário pode ser tanto prejudicado quanto antecipado", afirma o secretário da Saúde, Nésio Fernandes.

Com população adulta estimada em 6,9 milhões, o Ceará começou a imunizar a faixa etária entre 55 e 59 anos e é quem tem a previsão mais otimista de encerrar a primeira rodada da campanha no País: até 25 de agosto. 

Em contrapartida, também é a unidade que vai precisar acelerar mais o ritmo de vacinação. Dados do consórcio de veículos de imprensa apontam que o Ceará havia aplicado cerca de 2 milhões de primeiras doses até o início desta semana, 30% do público-alvo. Para atender os 70% restantes, portanto, a média diária de vacinados tem de quase quintuplicar: passando de 14 mil para 66,4 mil.

Segundo o plano do governo Camilo Santana (PT), a data foi projetada com base no número de pessoas inscritas no sistema para receber o imunizante - o cadastro é uma etapa exigida no Ceará.

"Fica autorizada a vacinação da faixa etária subsequente sempre que a meta de cobertura vacinal for atingida no porcentual de 90% na faixa etária superior", diz o programa. "Estima-se que em aproximadamente 70 dias o Estado consiga finalizar a vacinação da população em geral."

Em São Paulo, a promessa do governador João Doria (PSDB) é atender toda a população até o dia 15 de setembro. Entretanto, o Estado também tem o desafio de dobrar a aplicação diária da primeira dose. Em média, 109,6 mil novas pessoas receberam imunizante do início da campanha até segunda-feira. 

Esse indicador tem de subir para 240,7 mil, ou 119,5%. A população estimada em São Paulo é de 36 milhões, dos quais 13,6 milhões receberam a primeira dose até o início da semana. Em nota, a gestão Doria diz que a rede de saúde conta com 6 mil salas de vacinação e seria capaz de aplicar mais de 1 milhão de doses por dia - o que ainda não ocorreu.

Os governos de Pará, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná também prometem finalizar o cronograma até 30 de setembro. Entre eles, o governo gaúcho é quem precisa acelerar menos, aumentando o atendimento médio dos atuais 25,2 mil para 48,6 mil (92,6%). Para o potiguar, o salto deve ser de 184% (5,8 mil para 16,5 mil), enquanto que no Pará a meta é ainda mais difícil, de 11 mil para 41,1 mil, ou 273%. 

Entre as estratégias, o Rio Grande do Norte diz que pretende realizar mutirões de vacinação e incentivar a busca ativa pelos municípios por meio da Atenção Básica. Já o Pará prevê emprestar funcionários para os municípios.

O anúncio mais recente foi do governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), anteontem. Com população adulta estimada em 8,7 milhões e ações que preveem vacinação em dias e horários alternativos, o ritmo no Estado tem de subir 136%, de 21,8 mil para 51,5 mil vacinados a cada 24 horas. Segundo a gestão local, o novo cronograma foi elaborado considerando "ao menos um envio de imunizante por semana" e a "disponibilidade da Janssen (vacina de dose única) e de novas remessas até setembro".

Professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor), Jorge Kalil alerta que antecipar o calendário nem sempre é positivo. "Quando começa a diminuir o número de vacinados por dia, significa que há menos pessoas de grupos prioritários buscando o posto de saúde. 

Então, alguns lugares decidem avançar por idade para não ficar com doses estocadas", afirma. "Para o plano dar certo, é preciso que as vacinas cheguem e as pessoas compareçam."

No Rio, a cobertura para os grupos prioritários ainda está em 58,4% em relação à primeira dose. Para satisfazer a previsão de atender todas as pessoas acima de 18 anos até o fim de outubro, o Estado tem de quase triplicar o atendimento. Hoje, a média é de 25,1 mil vacinas por dia.O necessário são 73,3mil. "O desenvolvimento do calendário está associado ao envio de vacinas pelo Ministério da Saúde", diz a gestão Claudio Castro (PL), em nota.

Também com prazo em outubro, os outros Estados que precisam acelerar a vacinação são: Piauí (141,7%), Minas (118,2%), Paraíba (114,8%), Alagoas (98,1%) e Santa Catarina (97,4%). "Com a quantidade total prevista de distribuição de doses pelo Ministério da Saúde entre os meses de junho e outubro, considerando que Minas receberá 10% do total, deverá aplicar mais de 140 mil doses por dia", diz o governo Romeu Zema (Novo).

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai pondera que seria "temeroso" anunciar a antecipação de cronogramas estaduais sem ter 100% de garantia de que as doses estão disponíveis, uma vez que há histórico de atrasos e até entregas de lotes menores. "A gente corre o risco de frustrar as pessoas e isso afetar na adesão." 

Esse é o motivo alegado por Bahia, Pernambuco, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul para, diferentemente de outro locais, não apresentarem cronogramas. "A questão é: vai ser mantida a entrega de vacinas? Todos os meses, a gente tem uma quebra de expectativa", diz o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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