Saúde

Mucormicose: doença causada pelo "fungo negro" não é uma novidade. Entenda os riscos

Apesar de parecer uma novidade, a doença não surgiu agora, e já é conhecida há muito tempo pelos médicos. Especialistas explicam que o fungo pode ser encontrado naturalmente no meio ambiente

Bianca Santana Vailant

Redação Folha Vitória
Foto: Reprodução/ Twitter

Nos últimos dias, uma "nova doença" tem preocupado os brasileiros: a mucormicose, também conhecida como fungo negro. Apesar de parecer uma novidade, a doença não surgiu agora, e já é conhecida há muito tempo pelos médicos. Trata-se de uma doença infecciosa rara causada pelo fungo Rhizopus spp., que pode ser encontrado naturalmente no ambiente. 

"Não é uma doença nova, são fungos que sempre estiveram presentes no meio ambiente, o contágio é feito a partir da inalação do que chamamos de esporos, que são uma das formas evolutivas do fungo, uma forma mais resistente que se dissemina mais no ambiente", explicou a médica infectologista Ana Carolina D'Ettorres.

A especialista reforçou ainda que esse tipo de fungo é encontrado "no meio ambiente, em vegetais, alimentos em decomposição, no solo, e nós somos expostos diariamente a ele". Ainda segundo a especialista, a mucormicose se manifesta com mais frequência em pessoas que possuem o sistema imunológico mais debilitado. 

"Pessoas com imunidade preservada acabam o eliminando de forma natural por meio dos mecanismos protetores da via aérea respiratória. Já nas pessoas com a imunidade prejudicada, os diabéticos, pessoas com câncer e que usam corticóides em doses altas, por exemplo, esses fungos podem se tornar potencialmente invasivos e acabar provocando doenças mais sérias", explicou.

Por estar presente no ambiente, é difícil estabelecer uma forma de prevenção da doença. A orientação da especialista é para que, em casos de pessoas com baixa imunidade, os cuidados com higiene sejam redobrados. 

"A forma de prevenir realmente é difícil de definir, porque ele está presente em todo o nosso meio de convívio do dia a dia. Mas pessoas com imunidade prejudicada devem evitar obras, ambientes com muita movimentação de poeira, de terra, e contato com a terra diretamente, que são as principais formas de contágio", destacou Ana Carolina.

Sintomas de mucormicose

Os sintomas de infecção pelo fungo negro são variados, depedem do sistema imunológico do paciente e do órgão que foi atingido pelo fungo. 

"As manifestações da infecção vão desde uma rinite com febre, até doenças muito invasivas, que podem provocar necrose pulmonar, absessos cerebrais, osteomielites. Este é um fungo que é capaz de provocar uma grande gama de manifestações", disse. 

Ana Carolina reforçou que "é uma doença que tem cura e tratamento, mas que é potencialmente letal. Quando presente no organismo, pode deixar grandes sequelas", pontou a infectologista.

De forma geral, os principais sinais e sintomas de mucormicose são:

- Nariz entupido;

- Dor nas maçãs do rosto;

- Perda da cartilagem do nariz, nos casos mais graves;

- Secreção nasal esverdeada;

- Dificuldade para enxergar e inchaço nos olhos, quando há comprometimento ocular;

- Tosse com catarro ou com sangue;

- Dor no peito;

- Dificuldade para respirar;

- Convulsão;

- Perda da consciência;

- Dificuldade para falar.

Além dos sintomas lisados, quando o fungo atinge a pele podem aparecer lesões avermelhadas, endurecidas, inchadas, dolorosas e que, em algumas situações, podem se tornar bolhas e formar feridas abertas e com aspecto preto.

Em casos mais avançados, a pessoa com mucormicose pode apresentar uma coloração azulada na pele e dedos arroxeados e isto ocorre devido à falta de oxigênio provocada pelo acúmulo de fungos nos pulmões.

Mucormicose e Covid-19

A mucormicose é uma doença rara, mas que acontece mais facilmente em pessoas que possuem o sistema imunológico comprometido e, por isso, pode acontecer em pessoas com covid-19.

"Foram publicados alguns casos de covid em concomitância com a mucormicose, mas ainda não está estabelecido um nexo causal entre essas duas doenças. Pode ser devido ao fato de os pacientes covid estarem usando corticóides há muito tempo, mas isso ainda não foi estabelecido um risco relacionado ao covid", explicou a infectologista. 

Ana Carolina destacou ainda que, no caso do óbito registrado no país, o paciente não estava apenas com covid-19, mas também era diabético, o que naturalmente já o colocaria no "grupo de risco" da mucormicose. 

"No caso que foi descrito no Brasil o paciente era diabético, o que por si só já teria maior risco de desenvolvimento da doença. Além disso, ainda não foi estabelecido um nexo causal entre a covid e a mucormicose", finalizou. 



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