Dependência em calmantes supera a de cocaína entre brasileiros, segundo levantamento da Fiocruz
A pesquisa identificou que cerca de 306 mil brasileiros eram dependentes de benzodiazepínicos, enquanto os viciados em cocaína somavam 275 mil
Um levantamento divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), traz dados alarmantes sobre o uso de calmantes no Brasil. Em 2015, cerca de 1,2 milhão de indivíduos entre 12 e 65 anos era dependente de alguma substância lícita ou ilícita, sem ser álcool ou tabaco. Além disso, 13 em cada 100 usuários de drogas possuem dependência, revela o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira.
O estudo mostra também que cerca de 8,9 milhões de brasileiros são dependentes de álcool, cigarro ou alguma outra droga. Em relação ao uso de medicamentos sem prescrição médica nos 30 dias antes da pesquisa, o número de brasileiros que consome remédios ultrapassa o de usuários de cocaína, assim como a dependência.
A droga ilícita mais consumida no Brasil é a maconha. De acordo com o levantamento, mais de 11,7 milhões de pessoas, o que representa 7,7% da população, já consumiram. Cerca de 450 mil pessoas são dependentes da substância e, apenas nos 12 meses antes, 3,8 milhões haviam feito uso.
Sobre as drogas lícitas, o álcool é a principal. Cerca de 46 milhões relatam ter feito consumo nos 12 meses anteriores à pesquisa, que foi realizada em 2015. Dessas pessoas, 25,3 milhões relataram o consumo em binge, ou seja, cinco ou mais doses para homens e quatro ou mais para mulheres em uma única ocasião nos 30 dias antes. O levantamento estima que 2,3 milhões de consumidores de álcool sejam dependentes da substância.
O consumo de medicamentos dos benzodiazepínicos, popularmente conhecidos como calmantes, sem prescrição médica ou utilizados de forma inadequada, supera o uso de cocaína.
Em 2015, 21 milhões de brasileiros com idade entre 12 e 65 anos haviam consumido algum medicamentos de tarja preta sem receita médica ou de maneira diferente da prescrita. O número representava 1,4% da população e, se considerado o uso ao menos uma vez no decorrer da vida, sobre para 3,9%.
A pesquisa identificou também que cerca de 306 mil brasileiros eram dependentes de benzodiazepínicos, enquanto os viciados em cocaína somavam 275 mil.
"Entre os aproximadamente 13 milhões de indivíduos que reportaram ter utilizado medicamentos não prescritos ao menos uma vez na vida, a idade mediana do primeiro consumo foi menor entre os homens do que entre as mulheres (19, 8 anos e 24,2 anos respectivamente), sendo esta diferença estatisticamente significativa", ressalta a Fiocruz.
Álcool e violência
A relação entre álcool e diferentes formas de violência também foi abordada pelos pesquisadores que detectaram que, aproximadamente 14% dos homens brasileiros de 12 a 65 anos dirigiram após consumir bebida alcoólica, nos 12 meses anteriores à entrevista. Já entre as mulheres esta estimativa foi de 1,8%. A percentagem de pessoas que estiveram envolvidos em acidentes de trânsito enquanto estavam sob o efeito de álcool foi de 0,7%.
Cerca de 4,4 milhões de pessoas alegaram ter discutido com alguém sob efeito de álcool nos 12 meses anteriores à entrevista. Destes, 2,9 milhões eram homens e 1,5 milhão, mulheres. A prevalência de ter informado que “destruiu ou quebrou algo que não era seu” sob efeito de álcool também foi estaticamente significativa e maior entre homens do que entre mulheres (1,1% e 0,3%, respectivamente).
Percepção de Risco
A percepção do brasileiro quanto às drogas atrela mais risco ao uso do crack do que ao álcool: 44,5% acham que o primeiro é a droga associada ao maior número de mortes no país, enquanto apenas 26,7% colocariam o álcool no topo do ranking.
Segundo coordenador do levantamento e pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz, Francisco Inácio Bastos,os principais estudos sobre o tema, como a pesquisa de cargas de doenças da Organização Mundial de Saúde, não deixam dúvidas: o álcool é a substância mais associada, direta ou indiretamente, a danos à saúde que levam à morte”, afirmou Bastos.
“Tanto o álcool quanto o crack, porém, representam grandes desafios à saúde pública. Os jovens brasileiros estão consumindo drogas com mais potencial de provocar danos e riscos, como o próprio crack. Além disso, há uma tendência ao poli uso [uso simultâneo de drogas diferentes]. Por isso é tão importante atualizar os dados epidemiológicos disponíveis no país, para responder às perguntas de um tema como o consumo de drogas, que se torna ainda mais complexo num país tão heterogêneo quanto o Brasil”, advertiu.
Com informações do Portal R7.