Imagem: Freepik
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Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deu saltos impressionantes no campo da voz. Hoje, sistemas conseguem reconhecer o que dizemos com alta precisão, transformar voz em texto, identificar quem está falando e até analisar emoções básicas no discurso.

Ao mesmo tempo, a tecnologia já é capaz de gerar vozes artificiais com timbres de precisão impressionante e realísticos, que soam quase idênticas às humanas. Esses avanços têm trazido benefícios importantes, mas também levantam questões éticas e riscos que precisam ser discutidos pela população.

Os dois lados da IA para a voz

De um lado, há potenciais ganhos significativos da IA, por exemplo:

  • Pessoas com dificuldades de linguagem e fala podem usar tecnologias de síntese vocal para se comunicar;
  • Os serviços à população podem ficar mais acessíveis garantindo inclusão digital;
  • Conteúdos educativos e informativos são produzidos de forma mais rápida;
  • Os sistemas de navegação em veículos são facilitados;
  • Tarefas do dia a dia podem ser comandadas por assistentes de voz cada vez mais naturais, tornando a experiência do usuário mais realística e atraente.

Mas, do outro lado, existe um alerta que não pode ser ignorado. A mesma tecnologia capaz de produzir vozes realistas também pode ser usada para falsificar mensagens e manipular áudios, criando falas que a pessoa nunca disse. Esse tipo de alteração pode gerar fraudes, ataques à reputação e golpes financeiros.

Importante lembrar que usar a voz de alguém sem autorização, especialmente para enganar ou prejudicar, pode configurar crime, incluindo falsidade ideológica, estelionato e violação de direitos de personalidade.

Limites éticos

Além dos aspectos legais, há limites éticos essenciais. A IA não deve substituir a presença humana em nenhuma situação, nem ser usada para manipular emoções ou criar informações enganosas. As pessoas têm o direito de saber se estão falando com um humano ou com uma máquina, seguindo os princípios da transparência e respeito.

E mesmo com toda a sofisticação tecnológica, há algo que a IA não consegue reproduzir plenamente: a essência da voz humana. A voz carrega mais do que ondas sonoras. Transmite emoção, história, cultura, intenção.

É pela voz que criamos vínculos, mostramos empatia, expressamos personalidade e estabelecemos relações de confiança. Na comunicação humana sutilezas do discurso como pausas, hesitações, mudanças de ritmo e tonalidade revelam muito mais do que palavras e a IA ainda não consegue substituir isso plenamente.

A voz é um marcador identitário único

A voz transmite autenticidade sem perder a profundidade afetiva e social que só um ser humano é capaz de comunicar. Pela voz apresentamos quem somos, nossa personalidade e emoções. Cada indivíduo tem a sua voz e sua identidade vocal.

Por isso, no centro de qualquer discussão sobre IA e voz deve estar o uso responsável e humano da comunicação. A tecnologia pode ser uma grande aliada, mas não substitui o olhar atento, a escuta empática, a assertividade e o propósito que orientam a fala entre pessoas.

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Mesmo em tempos de uso da IA na voz, os laços e a vivência moldada por cada inflexão, hesitação ou sorriso audível são insubstituíveis. Em um mundo cada vez mais automatizado, valorizar a autenticidade da voz humana é essencial para manter viva a conexão que nos torna verdadeiramente sociais.

A IA transforma, acelera e amplia possibilidades, mas é a nossa voz, carregada de humanidade, que continua sendo insubstituível.

Dra Carolina Anhoque

Fonoaudióloga

Fonoaudióloga, Especialista em Voz, Mestre em ciências fisiológicas, Doutora em Neurociências, Professora associada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Coordenadora do Núcleo de Voz do ES (VozES). @carol_anhoque

Fonoaudióloga, Especialista em Voz, Mestre em ciências fisiológicas, Doutora em Neurociências, Professora associada da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e Coordenadora do Núcleo de Voz do ES (VozES). @carol_anhoque