Mais de cinco horas por dia. Este é o tempo médio que os brasileiros passam mexendo no celular, segundo pesquisa da plataforma Data.IA. Seja assistindo a um vídeo, conversando com alguém ou até trabalhando, o compacto e útil aparelho dificilmente sai das nossas mãos.
Além dos efeitos mais conhecidos do uso excessivo do celular, como dores de cabeça e ansiedade, ele também pode causar problemas de postura. Um efeito colateral preocupante e que vem chamando a atenção dos especialistas recebeu um nome sugestivo: text neck ou pescoço de texto.
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Pescoço de texto: o que é o problema da atualidade
Chega uma hora que o peso da cabeça, e do hábito, começam a afetar o corpo, causando dores e tensões musculares no pescoço e ombro, condição que recebe o nome pescoço de texto.
De acordo com o ortopedista e traumatologista da Afecc-Hospital Santa Rita, Daniel Solino, o corpo humano não foi projetado para ficar tanto tempo curvado para frente e essa sobrecarga repetitiva pode levar ao desgaste prematura dos discos intervertebrais.
Este hábito pode causar dores crônicas, hérnias de disco e até mesmo alterações na curvatura da coluna, ocasionando incapacidade funcional leve a moderada.
Para se ter ideia, a cabeça humana, em uma posição neutra, pesa em torno de 5 kg. No entanto, quando nos inclinamos em um ângulo de 60 graus, posição comum ao usar o celular, essa carga pode chegar a 27 kg.
Já a coordenadora do curso de Fisioterapia do Unesc, Rosimara Dalla Bernardina, ressaltou que este é um problema cada vez mais comum entre as novas gerações.
“O uso inadequado das telas é considerado fator de risco crescente, principalmente, entre os jovens. Entre as regiões mais afetadas estão o pescoço (cervical), ombros, região lombar e punhos”, pontuou a fisioterapeuta.
Efeitos cumulativos e silenciosos
As dores imediatas durante o uso do celular já são um grande incômodo, mas não são os únicos efeitos. Daniel Solino destaca que mau uso do celular pode desencadear uma série de complicações ortopédicas.
“Entre as complicações podemos citar a retificação da lordose cervical, dores tensionais no trapézio e ombros, compressão de nervos cervicais, redução da mobilidade da coluna, alterações degenerativas precoces”, explica.
Outra preocupação, segundo a fisioterapeuta, é que crianças entre seis e dez anos já vêm apresentando alterações na flexão cervical ao usar o celular, o que afeta a postura.
“Nos adultos que já têm alguma doença pré-existente, como escoliose ou hérnia de disco, o quadro pode se agravar ainda mais”, completa.
Ela ainda destaca que os principais sinais de que há algo de errado são: dores na cervical, rigidez, cefaleia (dor de cabeça) e, em alguns casos, formigamento nos braços.
É possível se prevenir?
A boa notícia é que, sim, com alguns hábitos simples é possível evitar os efeitos negativos do uso do celular. As indicações dos especialistas são:
- Manter o celular na altura dos olhos;
- Fazer pausas frequentes;
- Evitar longos períodos com o pescoço inclinado;
- Alongamentos cervicais;
- Exercícios para ombros e região torácica.
Uso consciente
O celular já é considerado uma parte indispensável da nossa rotina, mas ao mesmo tempo que ele traz muitos pontos positivos, é importante estarmos cientes do que pode ser prejudicial ao nosso corpo.
O ortopedista lembra que, assim como aprendemos a proteger os olhos com a luz azul, precisamos agora proteger a coluna da má postura induzida pela tecnologia.
“A educação postural deve começar ainda na infância, dentro de casa e nas escolas. O uso responsável do celular é fundamental para o bem-estar de toda a população”.