Foto: Marcos Santos/USP
Antioxidante poderá ser utilizado no desenvolvimento de protetores solares com a capacidade de prevenir o aparecimento de lesões e do câncer. 

Um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) revela que o uso de antioxidantes é capaz de prevenir as consequências da exposição à luz ultravioleta (UVA) do sol. Os pesquisadores estudaram células de pacientes com xeroderma pigmentoso variante (XP-V), uma doença genética rara, e verificaram que a luz UVA provoca danos na capacidade de reparação das células, evitados quando são tratadas com antioxidante.

A descoberta abre a possibilidade de desenvolver protetores solares capazes de prevenir lesões e o câncer de pele.

O paciente com xeroderma pigmentoso apresenta deficiência no reparo das lesões do DNA causadas pela luz solar, o que pode gerar mutações. Já no caso da XP Variante, outra manifestação da doença, o defeito é na replicação do DNA contendo lesões. O resultado, no entanto, é o mesmo: os pacientes apresentam pele seca e extremamente sensível ao sol, além de terem um risco duas mil vezes maior de desenvolver câncer de pele, em idades menores de 20 anos.

Foto: Canal USP
Segundo o professor Carlos Menck, o tratamento com antioxidante tornou células mais preparadas para reparar danos causados pela exposição à luz do sol.

Comandada pelo professor Carlos Frederico Martins Menck, do Departamento de Microbiologia do ICB, a pesquisa inovou ao analisar o efeito da luz UVA em células de pacientes com XP-V e em células sem o defeito – até então, estudava-se os efeitos de UVB e UVC. “UVC é completamente barrada pela camada de ozônio e apenas 5% de UVB consegue passar. Enquanto isso, 95% de UVA atinge a nossa superfície. Nesse sentido, trabalhar com UVA nos aproxima de nossa realidade”, explica.

Reparo do DNA

Durante o estudo, os pesquisadores descobriram que, de quatro a seis horas após a irradiação de UVA, as células sofrem um processo oxidativo que inibe o reparo do DNA. “Esse efeito foi muito mais grave nas células com o defeito XP-V. Embora tenham um sistema de reparo normal, a luz UVA gera radicais de oxigênio capazes de inibir esse reparo, ou seja, de impedir a remoção dos dímeros de pirimidina”. 

Os dímeros de pirimidina são as principais lesões provocadas pela radiação ultravioleta. Como tentativa de solucionar o estresse oxidativo nas células, o pesquisador utilizou o antioxidante N-acetilcisteína (NAC) para tratar células XP-V antes de irradiá-las.

Com isso, descobriu-se que o antioxidante funciona como um método de prevenção. “Quando tratamos as células com antioxidante antes da irradiação, elas ficam mais preparadas para enfrentar a oxidação”, aponta o professor. “Assim, as proteínas responsáveis pelo reparo não são oxidadas e as células sofrem menos, de uma maneira geral”. 

Segundo Menck, a próxima etapa é testar os tipos de antioxidantes, verificar qual é mais eficiente no tratamento dessas células e discutir a possibilidade de produzir um protetor solar com a substância. “Acreditamos que o antioxidante nos cremes solares poderá prevenir os danos na capacidade de reparação da célula, prevenindo assim o câncer de pele em pacientes com XP-V e, por que não, na população como um todo”.

Com informações do Jornal da USP