A lavradora Ariane Borges Vieira com o bebê Alderico, que nasceu pesando 7kg
A lavradora Ariane Borges Vieira com o bebê Alderico, que nasceu pesando 6,5 kg. Fotos: Arquivo pessoal

A Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa) instaurou uma auditoria para investigar as condições do parto do bebê Alderico, que nasceu com 6,5 kg no Hospital São José, em Colatina, no dia 9 de agosto. A decisão foi tomada após a constatação de lesões na criança e na mãe, Ariane Borges Vieira, de 39 anos.

“Assim que tomou conhecimento do fato e, considerando a gravidade das lesões da mãe, Ariane Borges, e da criança, a Sesa determinou uma apuração imediata e minuciosa do caso”, informou a secretaria em nota.

O prazo para conclusão da investigação é de até 60 dias.

De acordo com Ariane, o parto deveria ter sido realizado por cesariana, conforme orientação do médico do pré-natal, devido ao tamanho do bebê. No entanto, a equipe hospitalar optou por induzir o parto normal.

A mãe relata que a criança nasceu com lesão no plexo braquial do braço esquerdo, sem movimento no membro, e precisou ser entubada. Alderico passou 10 dias na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) e atualmente realiza fisioterapia em casa.

A mãe também sofreu complicações graves, incluindo hemorragias e lacerações no útero, que exigiram 51 pontos. Quase dois meses após o parto, Ariane ainda apresenta sequelas físicas e psicológicas.

Nota do Hospital São José

O hospital divulgou nota afirmando que o parto normal foi resultado de avaliação médica criteriosa, considerando a segurança da mãe e da criança. Segundo a instituição, a gestante e o pai não manifestaram interesse pelo parto cesariano no momento da internação, e o procedimento seguiu protocolos internos.

O hospital esclareceu que houve erro no código do prontuário, que indicava cesariana, mas que o registro correto é de parto normal. A instituição afirmou ainda que o ultrassom mais recente, realizado em outra clínica, indicava peso estimado de 3,450 kg para o bebê, valor considerado dentro da normalidade.

A nota finaliza ressaltando solidariedade à família e compromisso com ética e atendimento humanizado, reforçando a importância do apoio da sociedade à família de Alderico.

Leia a íntegra da nota enviada pelo hospital:

“O Hospital São José vem a público esclarecer de forma transparente todos os procedimentos realizados com a paciente durante o cuidado e o nascimento do bebê Alderico, buscando reforçar o compromisso com a ética, a segurança e a excelência no atendimento às gestantes atendidas em nossa unidade. 

O prontuário completo da paciente aponta claramente para a realização de parto normal, mas foi identificado um erro no código constante na documentação de alta. Importante destacar que o hospital não considera essa anotação isoladamente, mas sim todo o prontuário e seus registros completos. No entanto, o procedimento foi atualizado como parto normal no mesmo prontuário.

Os registros hospitalares mostram que a gestante deu entrada na instituição às 11h30 do dia 8 de agosto. Em nenhum momento a mãe e pai do bebê (que esteve presente durante toda a internação) manifestaram interesse pelo parto cesariana e o hospital seguiu os procedimentos indicados, atento e respeitando a vontade dos mesmos.

O peso do bebê, baseado em ultrassom realizado em 3 de julho – em clínica sem vínculo com o hospital –, era de 3.450 kg. Esse exame é a referência para os trabalhos da equipe e não havia necessidade de repeti-lo, dada a proximidade do procedimento. A paciente possui histórico de oito partos normais, com bebês de peso elevado – inclusive um de 5 quilos -, e exames de bem-estar foram acompanhados de perto pela equipe multidisciplinar do hospital para garantir sua segurança.

A opção pelo parto normal foi tomada após avaliação do contexto clínico da paciente e, no momento da internação, ela não apresentava contraindicações para parto normal.

Assim como foi uma surpresa para a mãe, o elevado peso do bebê também surpreendeu toda a equipe médica durante o manejo do parto normal. É importante destacar que a equipe não tinha conhecimento prévio de que Alderico pesava 6,5 kg, pois o exame de referência disponível, vindo de outra instituição, apontava para um peso estimado de 3.450 kg, considerado dentro da normalidade.

A equipe do Hospital São José se solidariza com a mãe e a família de Alderico, reconhecendo as dificuldades enfrentadas, especialmente em condição de vulnerabilidade social e reforça seu compromisso com a ética, a competência e a compaixão, e incentiva a sociedade a apoiar esta família, mantendo sempre seu empenho pelo melhor cuidado a todos que precisarem de nosso atendimento.”

Entenda o caso

O pequeno Alderico Vieira dos Santos nasceu no último dia 9 de agosto. Inicialmente, a mãe da criança havia informado que ela nasceu com sete quilos, mas posteriormente o hospital corrigiu a informação para 6,5 kg.

Alderico nasceu de parto normal e, devido à dificuldade de retirar o bebê do útero da mãe, a criança teve uma lesão no plexo braquial, que é uma rede de nervos que se estende do pescoço ao braço. Por isso, Alderico perdeu totalmente os movimentos do braço esquerdo.

O bebê também teria nascido sem respirar e ficou internado por 10 dias na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (Utin) e já está em casa. Ele está passando por fisioterapia.

A mãe também sofre com as consequências do parto. Ela teve uma lesão no útero, precisou levar 51 pontos no órgão e ainda tem hemorragias, quase dois meses após o parto.

Pedido de ajuda

Ao todo, Ariane e o marido têm nove filhos. A família morava em Vitória, mas se mudou para a cidade de Água Doce do Norte à procura de trabalho na colheita de café. O marido, porém, ainda não conseguiu emprego. A família passa por dificuldades financeiras e pede ajuda para conseguir manter o sustento da casa e dar a Alderico o básico que ele precisa.

Um dos itens de que Ariane precisa é um carrinho de bebê, pois carregar a criança pesada nos braços está deixando-a com dores nos braços. O bebê também precisa de fraldas e roupas, além de fórmula infantil.

Quem quiser ajudar financeiramente ou com doações de itens de enxoval pode entrar em contato com Ariane pelo número (27) 99988-0938. A chave Pix é o CPF 116.202.847-58, em nome de Ariane Borges Vieira.

Leiri Santana, repórter do Folha Vitória
Leiri Santana

Repórter

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.

Jornalista pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e especializada em Povos Indígenas.