O recente relato do cantor Júnior Lima sobre o diagnóstico de síndrome nefrótica em sua filha, de 3 anos, chamou a atenção para uma condição que, embora não seja tão conhecida pelo público, pode ter impacto significativo na saúde. A síndrome nefrótica é um distúrbio que compromete o funcionamento dos rins, mais especificamente a parte responsável pela filtragem do sangue: o glomérulo.
É possível imaginar essa estrutura como uma peneira muito fina, que permite a passagem de substâncias pequenas e úteis, como água e sais minerais, mas retém proteínas importantes, especialmente a albumina.
Quando ocorre a síndrome, essa “peneira” se danifica, deixando escapar grandes quantidades de proteínas para a urina — algo que não deveria acontecer. Esse vazamento provoca alterações características: inchaço no corpo (principalmente nas pernas, rosto e abdômen), urina espumosa, redução dos níveis de proteína no sangue e aumento de colesterol e triglicerídeos.
Impacto da síndrome nefrótica no organismo
A perda de proteínas pela urina, chamada proteinúria, gera um desequilíbrio que afeta vários sistemas do corpo. As proteínas ajudam a manter o equilíbrio de líquidos nos vasos sanguíneos, atuam na imunidade e participam da coagulação.
Sua falta pode provocar retenção de líquidos, enfraquecimento do sistema de defesa e maior risco de tromboses. Sem o tratamento adequado, a síndrome nefrótica pode evoluir para doença renal crônica e causar complicações graves, como infecções severas e desnutrição.
Principais sinais de alerta
Entre os sintomas mais comuns estão:
- Inchaço (edema), mais evidente no rosto pela manhã e nas pernas ao longo do dia;
- Urina espumosa, indicativo de excesso de proteína eliminada;
- Cansaço e fraqueza;
- Ganho de peso rápido, relacionado ao acúmulo de líquidos.
Diante desses sinais, é fundamental procurar um médico nefrologista, que fará os exames para confirmar o diagnóstico e identificar a causa.
O que provoca a síndrome nefrótica
As origens podem ser primárias, quando o problema está diretamente no rim, ou secundárias, associadas a outras doenças ou condições.
Entre as causas primárias, destacam-se:
- Doença de lesões mínimas: mais comum em crianças, geralmente com boa resposta ao tratamento;
- Glomeruloesclerose segmentar e focal;
- Nefropatia membranosa.
Essas condições afetam células especializadas chamadas podócitos, responsáveis por manter a integridade do filtro glomerular. Quando danificadas, favorecem o vazamento de proteínas.
Entre as causas secundárias, estão:
- Diabetes mellitus;
- Lúpus eritematoso sistêmico, doença autoimune que ataca os próprios tecidos do corpo;
- Infecções;
- Uso de alguns medicamentos, como anti-inflamatórios.
Quem pode ter?
A síndrome nefrótica pode atingir qualquer pessoa, em qualquer idade. Porém, o tipo de causa varia conforme a faixa etária.
Em crianças, predomina a doença de lesões mínimas, com alta taxa de cura.
Em adultos, são mais comuns a glomeruloesclerose segmentar e focal e a nefropatia membranosa, que geralmente exigem acompanhamento prolongado.
Tratamento: personalizado para cada caso
O tratamento depende da causa, da gravidade e da idade do paciente. Ele pode incluir:
- Corticóides e outros imunossupressores, para controlar processos inflamatórios e autoimunes;
- Medicamentos anti-hipertensivos, que também reduzem a pressão dentro do glomérulo e diminuem a perda de proteínas;
- Tratamento de doenças de base, como diabetes e lúpus;
- Controle de colesterol e triglicerídeos.
Nas crianças, especialmente na doença de lesões mínimas, a resposta aos corticóides costuma ser rápida e eficaz, com resolução do quadro na maioria dos casos. Já nos adultos, a abordagem pode exigir combinações de medicamentos e períodos mais longos de tratamento.
Tem cura?
Algumas formas, como a doença de lesões mínimas, têm cura completa. Outras não têm cura definitiva, mas podem ser controladas por muitos anos com tratamento e acompanhamento médico.
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Mesmo quando o quadro é crônico, é possível manter boa qualidade de vida, desde que se evite a progressão para doença renal avançada. Para isso, são essenciais consultas regulares com o nefrologista, adesão aos medicamentos prescritos e controle de fatores de risco, como pressão alta, diabetes e colesterol elevado.
Vivendo com síndrome nefrótica
Conviver com a síndrome nefrótica requer cuidados contínuos, que incluem:
- Dieta equilibrada, orientada por nutricionista, para controle de sal, líquidos e gorduras;
- Monitoramento da pressão arterial;
- Exames periódicos, para acompanhar função renal e níveis de proteína na urina;
- Prevenção de infecções, já que a perda de proteínas enfraquece o sistema imunológico.
Em casos mais graves ou quando há evolução para doença renal crônica, pode ser necessário tratamento dialítico ou, em situações específicas, transplante de rim.
A síndrome nefrótica é um distúrbio que, apesar de silencioso em seu início, pode ter consequências graves se não tratado adequadamente. Com diagnóstico precoce e tratamento correto, é possível controlar a doença e preservar a função renal, garantindo uma vida ativa e saudável.