Entenda porque o cantinho do pensamento não funciona

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Psi. Renata Bedran

Ao contrário do que muitos pais acreditam, o cantinho do pensamento não é uma ferramenta efetiva a longo prazo. Na verdade, o cantinho do pensamento é uma forma de castigo. E tanto o cantinho do pensamento, como castigo são nocivos para criança, em vários níveis: na sua relação consigo mesma, com o outro e com o mundo. Crianças não têm capacidade de pensar sobre o que fizeram de errado. Elas são ativas, barulhentas, “erram”, têm explosões de sentimentos, e isso é absolutamente normal dentro do desenvolvimento delas.

Colocar a criança num cantinho do pensamento é puni-la, e isso só a deixará com uma mistura de sentimentos ruins provocados pelo castigo: raiva, ressentimento, vergonha, medo, sentimento de inadequação, além dela não entender porque seus pais estão fazendo isso com ela. A criança que precisa de um adulto de referência para aprender a modelar seus comportamentos, recebe humilhação, é julgada e se sente como uma pessoa ruim. Esse adulto em quem ela deveria confiar para ensiná-la sobre como lidar com suas emoções, a desrespeita.

A criança não vai refletir sobre o que ela fez, porque ela não consegue. A criança pequena não tem capacidade de lidar com pensamentos altamente abstratos. Se você perguntar o que ela fez de errado e ela responder certo (ou seja, aquilo que o adulto considerou errado), é simplesmente porque ela repete o que você disse ou o que acabou de acontecer. A mesma lógica serve para o pedido de desculpas. Não adianta você pedir para o seu filho(a) se desculpar, se ele realmente não tem essa intenção, ou seja, só está falando “desculpa” porque você o está obrigando.

O que fazer nessas horas então?

Ajude a criança a eleger um local para que ela vá quando queira se sentir melhor. Pode ser o quarto dela, o quarto de brinquedos, um banheiro inutilizado. Vocês podem “decorar” juntos esse cantinho, colocando almofadas, bichos de pelúcia, algo que seu filho goste. Deixe o cantinho aconchegante e prazeroso.

Quando achar que a criança precisa se acalmar, convide-a a ir para o seu cantinho da calma (de se sentir melhor, da paz, vocês podem nomear juntas). Se a criança quiser que você a acompanhe, não tem problema. A intenção não é puni-la deixando-a sozinha.

Com o tempo, a própria criança seguirá para esse cantinho quando perceber que precisa se acalmar. Aproveite esse tempo para que vocês pais se acalmem também. Pode ser pais e filhos juntos, ou cada um no seu cantinho da calma.

Depois que você e seu filho estiverem calmos, conversem. Explique o que ele fez, peça firme e gentilmente, para ele não fazer novamente, se abracem (o abraço libera ocitocina que nos faz sentir bem).

Assim, à medida que ele cresce, ele vai adquirindo capacidade de perceber seus erros, e o pedido de desculpas partirá dele mesmo, sem que você precise exigir.

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Psi. Renata Bedran

Psicóloga Clínica e Educadora Parental em Disciplina Positiva. Certificada em Disciplina Positiva pela DPA-USA. Graduada em publicidade e marketing pela Emerson College, Boston, USA. Pós graduada em Psicologia Hospitalar e Pós graduada em Educação Positiva. Trabalha orientando os pais de crianças da primeira infância em como educar os filhos com respeito e empatia. Atua também como psicóloga infantil. @psi.renatabedran