Desde que prometeu respostas instantâneas, o ChatGPT conquistou milhões de usuários que buscam agilidade em tarefas cotidianas. Mas, afinal, essa ajudinha tecnológica está mesmo facilitando nossa vida ou empurrando a preguiça porta adentro?
Estudos indicam que ferramentas de IA podem turbinar o desempenho em atividades de escrita. Pesquisadores do MIT observaram que, ao usar o ChatGPT para redação, profissionais tiveram uma redução de até 40% no tempo de conclusão das tarefas, além de elevar a qualidade dos textos em cerca de 18% em comparação a quem não contava com a ferramenta.
Na prática, isso significa ganhar mais tempo para focar em revisões estratégicas ou em ideias criativas que, de outro modo, ficariam na gaveta.
O outro lado da moeda
Porém, nem tudo são flores. Uma pesquisa acadêmica retomada de princípios do modelo I‑PACE identificou que o uso excessivo de IA pode gerar dependência, reduzir o engajamento cognitivo e até aumentar a “preguiça mental” em tarefas que demandam esforço crítico.
Em vez de exercitar a própria capacidade de formular argumentos ou buscar informações, há o risco de simplesmente copiar e colar respostas prontas, perdendo autonomia e aprofundamento.
O modelo I-PACE (Interaction of Person-Affect-Cognition-Execution) é uma estrutura teórica desenvolvida para explicar o uso problemático da internet (incluindo jogos online, redes sociais, pornografia digital, compras online, etc.) e comportamentos viciantes relacionados.
Foi proposto inicialmente por Matthias Brand e colaboradores em 2016 e atualizado em 2019. Ele é amplamente utilizado em estudos de psicologia e neurociência para entender como certos fatores se combinam e interagem ao longo do tempo, levando ao desenvolvimento de comportamentos compulsivos ou viciantes relacionados ao uso da tecnologia.
O que significa I-PACE?
I-PACE é um acrônimo em inglês para:
- Interaction of – interação
- Person – pessoa
- Affect – afeto
- Cognition – cognição
- Execution – execução
O modelo I-PACE é baseado na ideia de que o uso problemático da internet não surge de um único fator isolado, mas sim da interação complexa de fatores pessoais, emocionais, cognitivos e comportamentais.
Fatores Individuais (Person): são características pessoais e predisposições que aumentam o risco de uso problemático:
- Traços de personalidade (como impulsividade, neuroticismo).
- História de traumas ou abuso.
- Transtornos mentais pré-existentes (como ansiedade ou depressão).
Fatores Afetivos (Affect): envolvem estados emocionais e regulação emocional:
- Uso da internet para escapar de emoções negativas (fuga emocional).
- Dificuldade em lidar com o estresse ou tédio.
Fatores Cognitivos (Cognition): referem-se às crenças e expectativas relacionadas ao uso da internet:
- Crenças disfuncionais (“jogar me faz sentir poderoso”, “só sou aceito online”)
- Distorções cognitivas e autoengano.
Fatores Executivos (Execution/Control): estão ligados à capacidade de autocontrole e tomada de decisão:
- Baixa capacidade de inibição.
- Dificuldade em regular comportamentos automáticos.
Interações e Retroalimentação: o uso excessivo reforça padrões emocionais e cognitivos disfuncionais, gerando um ciclo vicioso.
- A longo prazo, há alterações neurológicas que fortalecem o comportamento compulsivo.
- Predisposição pessoal + emoções mal reguladas + crenças distorcidas + baixa autorregulação levam a uso excessivo e disfuncional da internet que retroalimenta e fortalece o comportamento aditivo.
- Entender e tratar vícios comportamentais, como dependência de redes sociais ou jogos online, desenvolver intervenções terapêuticas mais eficazes e estudos neurocientíficos sobre como o cérebro responde ao uso da internet.
Por que isso acontece?
Conforto imediato! A tentação de pedir “faça isso para mim” é forte quando o relógio corre contra o prazo. Menos prática e menos habilidade ao delegar sempre à IA, a oportunidade de desenvolver habilidades de escrita, pesquisa e pensamento analítico diminui.
É uma falsa sensação de segurança acreditar que o ChatGPT “sabe tudo” isso pode desencorajar a verificação de dados, o que pode levar a erros ou imprecisões não percebidas.
Como manter o equilíbrio?
Para não transformar seu assistente digital em “muleta”, vale adotar algumas práticas:
- Defina tarefas claras: use o ChatGPT ou outras IAs para ideias, esboços e pesquisas rápidas, mas reserve as análises finais e a revisão de conteúdo para si mesmo.
- Estabeleça limites de uso: combine consigo mesmo um tempo máximo diário de interação direta com a IA, dedicando o restante ao trabalho manual.
- Verifique fontes: sempre questione a procedência das informações e, quando possível, valide estatísticas ou dados com documentos oficiais ou estudos reconhecidos.
- Pratique a escrita livre: ocasionalmente, desligue a ferramenta e escreva “no braço” na verdade na mão né, isso mantém afiada a criatividade e fortalece as habilidades de comunicação.
O futuro da colaboração homem–máquina
O avanço das IAs conversacionais não é um vilão que venha nos roubar o emprego ou a motivação. Pelo contrário, quando usadas com critério, podem ser potentes aliadas na otimização de processos. A chave está em conhecer seus limites e garantir que, no centro da operação, continue havendo um pensamento crítico e criativo cultivado por cada um de nós. Afinal, mais do que a rapidez, a qualidade do nosso trabalho depende de como equilibramos cérebro e algoritmo.
A tecnologia pode ser uma valiosa aliada para todos nós, desde que seja utilizada de maneira equilibrada e segura, garantindo que todos nós tenhamos acesso seguro e informações confiáveis.
Compartilhe com a gente as suas experiências, ou se precisar esclarecer alguma dúvida entre em contato, será uma satisfação para nós poder te ajudar de alguma forma. Fique sempre ligado no Folha Digital.