Quando a nuvem cai: problema na AWS expõe dependência global de serviços online

Na manhã desta segunda-feira (20 de outubro de 2025), a Amazon Web Services (AWS), divisão de computação em nuvem da Amazon, enfrentou uma grande pane global que tirou do ar dezenas de sites, aplicativos e plataformas digitais em diversos países. O episódio, que durou algumas horas, reacendeu o debate sobre a dependência mundial de provedores de nuvem e o impacto em serviços essenciais.


O que aconteceu

A falha atingiu a região US EAST 1 (Virgínia, EUA), uma das mais utilizadas do mundo. Foram registradas altas taxas de erro, lentidão e interrupções em mais de 80 serviços da AWS.

A região US EAST 1 (Norte da Virgínia) é considerada o “coração operacional” da AWS por uma combinação de fatores técnicos, históricos e estratégicos. Aqui estão os principais motivos:

A US EAST 1 foi a primeira região criada pela Amazon, ainda em 2006, quando o modelo de computação em nuvem começou a ser disponibilizado comercialmente.
Por isso, milhares de empresas e desenvolvedores adotaram essa região como padrão desde o início — e muitos sistemas legados continuam hospedados ali até hoje.

Por padrão, quando um usuário cria recursos na AWS (como S3, EC2, Lambda, etc.) sem especificar uma região, a AWS utiliza automaticamente a US EAST 1.
Isso faz com que ela concentre uma enorme quantidade de dados, aplicações e APIs. Em alguns casos, até painéis e consoles administrativos globais da própria AWS dependem dela.

A Virgínia possui uma das maiores concentrações de data centers e cabos de internet do planeta, com latência baixíssima para os principais hubs da América do Norte e da Europa.
Além disso, o estado oferece energia estável, incentivos fiscais e políticas de neutralidade de rede, tornando-o um ponto estratégico para data centers de grande porte.

Muitos serviços da própria AWS (como IAM, CloudFront, Route 53 e S3) possuem infraestrutura primária ou de controle nessa região. Mesmo que você hospede seus sistemas em outro país, é provável que alguma parte do backend da AWS (como autenticação, logs ou monitoramento) dependa de servidores da US EAST 1.

A US EAST 1 tem custo mais baixo e maior disponibilidade de recursos (máquinas, instâncias e armazenamento) em comparação com regiões menores ou mais recentes.
Isso faz com que startups, empresas e desenvolvedores a escolham como primeira opção, ampliando ainda mais sua concentração de uso.

Por reunir tanto volume histórico e estrutural, quando a US EAST 1 enfrenta instabilidade, o impacto é global. Mesmo empresas que hospedam seus serviços em outras regiões podem sofrer reflexos indiretos porque dependem de APIs ou autenticações que passam por lá.

Os problemas que aconteceram hoje afetaram serviços fundamentais como bancos de dados, DNS (responsável por traduzir nomes de sites em endereços de IP) e sistemas de autenticação. Isso provocou um efeito dominó que se espalhou por diversos aplicativos, sites e plataformas.

A Amazon informou que os serviços já começaram a apresentar sinais de recuperação, embora ainda apresentem lentidão e instabilidade em algumas regiões.


Principais serviços afetados

Entre os serviços internos da AWS mais impactados estavam:

  • DynamoDB, banco de dados gerenciado usado por milhões de aplicações.
  • Serviços de DNS e roteamento de rede, que causaram falhas generalizadas de acesso.
  • APIs e sistemas de autenticação, essenciais para login e comunicação entre aplicativos.

Esses componentes são a espinha dorsal de milhares de serviços digitais no mundo todo e qualquer falha neles tem impacto global imediato.


Empresas e plataformas atingidas

A lista de empresas afetadas inclui grandes players de diferentes segmentos:

  • Redes sociais e apps de comunicação: Snapchat, Signal e Discord ficaram fora do ar ou apresentaram instabilidade.
  • Plataformas de jogos: Fortnite, Roblox e League of Legends registraram falhas de conexão e login.
  • Serviços financeiros: Coinbase e Venmo tiveram interrupções em transações e autenticação.
  • Serviços da própria Amazon: Alexa, Prime Video e serviços internos de e-commerce ficaram parcialmente indisponíveis.
  • Empresas de telecom e governo em países da Europa e América do Norte também relataram instabilidade em portais e sistemas de atendimento.

O problema evidenciou o quanto a economia digital global é interdependente da AWS, responsável por cerca de um terço de toda a infraestrutura de nuvem do planeta.


Impactos técnicos, financeiros e estratégicos

Técnico: O episódio mostra a fragilidade das arquiteturas centralizadas em um único provedor. Mesmo com múltiplas regiões e zonas de disponibilidade, há pontos críticos capazes de gerar um efeito cascata global.

Financeiro: Ainda não há estimativas oficiais de prejuízo, mas falhas dessa magnitude podem gerar perdas de centenas de milhões de dólares em faturamento, especialmente para empresas de streaming, e-commerce e fintechs. Cada minuto offline representa perda direta de receita, publicidade e confiança.

Estratégico: O incidente reforça a necessidade de diversificação e resiliência. Organizações que operam 100% na nuvem precisam rever suas arquiteturas e considerar abordagens multirregião ou até multiproveedor. O evento também alerta governos e grandes empresas sobre a dependência de poucos provedores para serviços críticos.


Amazon Web Services (AWS) opera uma das maiores e mais distribuídas infraestruturas de nuvem do planeta, organizada em “regiões” (regions) e “zonas de disponibilidade” (availability zones).

Cada região representa um conjunto de data centers independentes dentro de um país ou área geográfica, e cada uma contém duas ou mais zonas (instalações físicas separadas) para garantir alta disponibilidade e redundância.

A Amazon Web Services (AWS) opera uma das maiores e mais distribuídas infraestruturas de nuvem do planeta, organizada em “regiões” (regions) e “zonas de disponibilidade” (availability zones).

Cada região representa um conjunto de data centers independentes dentro de um país ou área geográfica, e cada uma contém duas ou mais zonas (instalações físicas separadas) para garantir alta disponibilidade e redundância.

A seguir, está a lista atualizada das regiões e localizações dos servidores da AWS pelo mundo (2025):

Américas

  • EUA (Norte da Virgínia)
  • EUA (Ohio)
  • EUA (Norte da Califórnia)
  • EUA (Oregon)
  • Canadá (Central)
  • Brasil (São Paulo)
  • Chile (Santiago)

Europa

  • Irlanda (Dublin)
  • Reino Unido (Londres)
  • França (Paris)
  • Alemanha (Frankfurt)
  • Suécia (Estocolmo)
  • Espanha (Madri)
  • Itália (Milão)
  • Suíça (Zurique)

Ásia-Pacífico

  • Tóquio (Japão)
  • Osaka (Japão)
  • Seul (Coreia do Sul)
  • Pequim (China) operado por parceiro local
  • Ningxia (China operado por parceiro local
  • Hong Kong (China)
  • Cingapura
  • Sydney (Austrália)
  • Jacarta (Indonésia)
  • Mumbai (Índia)
  • Hyderabad (Índia)
  • Melbourne (Austrália)

Oriente Médio e África

  • Bahrein
  • Emirados Árabes Unidos (Dubai)
  • Israel (Tel Aviv)
  • África do Sul (Cidade do Cabo)

Regiões especializadas

Além das regiões públicas, a AWS mantém regiões dedicadas e restritas para governos e projetos sensíveis:

  • AWS GovCloud (EUA – Leste e Oeste) – para uso governamental americano.
  • AWS Secret Region e Top Secret Region – para agências de segurança dos EUA.
  • AWS Outposts / Local Zones / Wavelength Zones – pequenas extensões da nuvem AWS instaladas próximas a grandes centros urbanos e operadoras de telecomunicações em mais de 30 países (como Los Angeles, Nova York, Tóquio, Londres, São Paulo e Mumbai).
  • Total de regiões ativas: 33
  • Zonas de disponibilidade: mais de 105
  • Novas regiões anunciadas: Malásia, Nova Zelândia, Tailândia e México

O que as empresas podem fazer agora

  1. Mapear dependências de infraestrutura e serviços de terceiros.
  2. Implementar redundância entre diferentes regiões ou provedores.
  3. Estabelecer planos de contingência e comunicação claros para usuários e equipes internas.
  4. Monitorar continuamente indicadores de performance e disponibilidade.
  5. Treinar equipes para lidar com falhas em larga escala e planos de recuperação rápida.

O apagão global da AWS é um lembrete poderoso de que a nuvem não é infalível. A transformação digital trouxe velocidade e escalabilidade, mas também um novo tipo de vulnerabilidade: a dependência de um pequeno grupo de gigantes tecnológicos que sustentam boa parte da internet moderna.

Hoje, milhões de usuários perceberam que, por trás de cada clique, há uma complexa teia de servidores, e que quando ela falha, o mundo inteiro sente o impacto.


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Jackson Galvani

Empresário no mercado de tecnologia, foi eleito um dos melhores Gerentes de TI do Brasil, é Coordenador da ExpoTI, Palestrante e Presidente do HDI-Brasil no ES. www.jacksongalvani.com.br

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