ARTIGO

Home office pode limitar inovação nas empresas; veja 5 pontos de atenção

Diretor do Senac-ES, Richardson Schmittel, orienta empresas sobre a flexibilização do trabalho

Redação Folha Vitória

Foto: pexels

*Artigo de escrito por Richardson Schmittel, doutor em Administração e diretor regional do Senac-ES

Um dos temas mais debatidos no último ano foi a possibilidade de manutenção do trabalho remoto ou híbrido nas organizações. 

Contudo, resolvi escrever acerca do tema não em função do debate recente, mas por ter vivido essa experiência bem antes da chegada das tecnologias maduras existentes hoje e até do grande número de empresas que aceitassem essa modalidade de trabalho. Isso aconteceu entre os anos 2010 e 2015. 

Com base nessa experiência, posso relatar com propriedade os benefícios e os desafios do trabalho remoto.

>> Quer receber nossas notícias 100% gratuitas? Participe da nossa comunidade no WhatsApp ou entre no nosso canal do Telegram!

O trabalho remoto consegue afastar uma série de problemas das organizações, reduzido custos dos empregados e das empresas, proporcionando contratações de profissionais cada vez mais distantes, com o melhor fit cultural e técnico para as organizações. 

Em um Artigo publicado pela Harvard Business Review, em 2023, há um alerta sobre a necessidade cada vez mais presente das empresas americanas em promover o home-office, em função de ocorrência de inundações, clima extremo, desastres naturais, furacões, tempestades de neve, entre outros problemas.

No Brasil, vimos em 2023, fenômenos como o El Nino, por exemplo, diminuíram a produtividade das empresas, impedindo acesso da força de trabalho, além de outros problemas que afastaram profissionais de grandes centros, como as emergências sanitárias, o trânsito caótico e a violência, que fazem com que as pessoas busquem moradia próximo ao local de trabalho, ou optem pelo trabalho home-office. 

São inegáveis os benefícios do trabalho remoto quando analisamos sob o contexto do acesso ao ambiente físico. Porém, é necessário avaliar também sob a ótica da produtividade, da criatividade e da inovação.

Dados publicados na Revista Época Negócios, na edição de fevereiro de 2024, mostram que as empresas que mantiveram modelos híbridos ou flexíveis de trabalho em 2022 tiveram mais vendas do que empresas que voltaram para o modelo presencial dos escritórios. 

Isso pode ser uma realidade quando tratamos de produtividade individual, ou seja, aquela relacionada à aplicação da força de trabalho de um trabalhador sem que seja necessário um forte sistema de colaboração.

No entanto, a realidade nos mostra que a solução de problemas e as inovações ocorrem em ambientes com conexões mais próximas e legítimas entre as pessoas, pois entre a geração das ideias e suas implementações é necessário uma série de interações para comunicar, buscar apoio e implantar a solução. 

O mesmo artigo, da Época Negócios, apresenta que, quando avaliamos o home-office sob a perspectiva da inovação, o contexto se inverte. O trabalho remoto dificulta a inovação.

Avaliando outro cenário, foi observado que existe 22% a mais de chances de equipes que trabalham presencialmente de registrar uma patente, em relação a equipes que trabalham remotamente, ou seja: a probabilidade de alcançar uma inovação diminui quando há mais distância entre os participantes. 

Isso provavelmente ocorre por falta de ambiente para os processos sociocognitivos, necessários para o desenvolvimento de ideias.

LEIA TAMBÉM: Confira o edital do concurso do Banestes com 538 vagas de nível superior

Retorno à minha experiência pessoal com o home-office, para relatar exatamente a montanha-russa que era trabalhar em um sistema híbrido, presencial e home-office. 

Vivia momentos de muita produtividade e pouca criatividade quando estava trabalhando da minha residência, fugindo do trânsito e me concentrando em atividades individuais. Isso era muito produtivo, porém, o contraponto apontado na reportagem também estava presente na minha rotina. 

Quando estava em casa, sempre tinha a sensação de que estava perdendo momentos importantes na empresa, mesmo que isso não se concretizasse na prática.

Nesse contexto, compreendo que adotar ou não uma estrutura home-office depende da cultura, da estratégia, do momento de cada empresa e das funções exercidas por seus profissionais. 

Para as empresas que estão buscando a flexibilização do local de trabalho, deixo algumas orientações valiosas para seus gestores:

1 )Declare os valores da empresa sistematicamente aos empregados que estão home-office: eles tendem a ter menos senso de pertencimento e cabe ao gestor estimular isso neles.

2) Dê voz aos empregados: como os momentos de interação para geração de conhecimento tácito dentro das empresas são raros, isso deve ser estimulado pelo gestor, propondo momentos adequados para essas trocas, mesmo que on-line.

3) Sejam mais atentos e observadores: desenvolver algumas habilidades como empatia, criatividade e solução de problemas pode ser desafiador quando não estamos em um ambiente naturalmente conectado. O gestor precisa ficar atento a esses pontos e buscar uma forma de monitorar isso junto aos seus colaboradores.

4) Invista em tecnologia: a produtividade e a interação dependem da facilidade de acesso aos recursos tecnológicos. É necessário que sejam intuitivos e promovam conexões rapidamente com outras pessoas da empresa.

5) Busque profissionais qualificados para definir sua estratégia de home-office: é muito comum que o gestor avalie primeiramente as tecnologias disponíveis para produtividade e monitoramento dos empregados, bem como as questões legais ao definir uma estratégia home-office. 

Contudo, questões psicológicas e comportamentais não podem ser negligenciadas, visto que a segurança psicológica no ambiente de trabalho é um dos pilares da cultura da inovação.

Foto: arquivo pessoal
Richardson Schmittel é doutor em Administração e diretor regional do Senac-ES


Pontos moeda