Foto: Edu Hargreaves
Foto: Edu Hargreaves

Qual a importância de cuidar dos recursos hídricos em um mundo marcado por extremos climáticos? Essa foi a pergunta que norteou a mesa-redonda “COP 30 e Água”, realizada nesta segunda-feira (24), que reuniu especialistas brasileiros que participaram da COP 30 para debater a urgência de colocar a água no centro das políticas de adaptação. O encontro integrou a programação do XXVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos (SBRH), que acontece até quinta-feira e reúne especialistas, pesquisadores, gestores públicos, profissionais do setor produtivo e estudantes no Pavilhão de Carapina.

O moderador da mesa, Benedito Pinto Ferreira Braga Junior, que hoje atua como Presidente Honorário do Conselho Mundial da Água (WWC) e Presidente do Conselho Latino-Americano da Água (CLA), enfatizou que a mensagem central debatida na COP 30 é que a adaptação climática não pode mais ser adiada. Segundo ele, a variabilidade climática atual exige infraestrutura, investimentos robustos em redução de perdas e instrumentos econômicos capazes de incentivar o uso racional da água, sobretudo em cenários de crise hídrica.

”Os momentos de crise também abrem oportunidades para que profissionais da área convençam gestores públicos da importância de autonomia regulatória e de investimentos contínuos em saneamento. A água precisa estar no centro da discussão da próxima COP. Precisa se tornar protagonista, não apenas um coadjuvante”, destacou.

A pesquisadora do Instituto Tecnológico Vale (ITV), Rosane Barbosa Lopes Cavalcante, ainda alertou para o impacto direto da água na recorrência de desastres, lembrando que 90% das pessoas afetadas por eventos extremos sofrem consequências de desastres hídricos. Para ela, é fundamental tratar a água não apenas como um setor, mas como um elemento integrador de políticas, territórios e decisões.

Foto: Edu Hargreaves

Representando o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), José Antonio Marengo Orsini contextualizou o papel estratégico da água nas negociações climáticas internacionais, afirmando que o tema apareceu na COP tanto direta quanto indiretamente, em agendas de governos e da iniciativa privada. Marengo destacou que a resiliência climática depende da segurança hídrica e que os sistemas hídricos do mundo vivem sob pressão histórica, mas também um momento de transformação.

“Os impactos da mudança do clima se manifestam justamente pela água, secas, enchentes, tempestades e elevação do nível do mar, e que, por isso, a água é simultaneamente risco e base de adaptação. Muita água é um problema, mas nada de água também é um problema”, resumiu.

Já Samuel Barreto da The Nature Conservancy (TNC) defendeu uma mudança de paradigma: é preciso sair da lógica de gestão de desastres e avançar para uma gestão preventiva, fortalecendo soluções baseadas na natureza como elemento central de adaptação. Barreto ressaltou que as soluções baseadas na natureza podem responder por mais de um terço das reduções de emissões necessárias até 2030 para limitar o aquecimento global a menos de 2ºC. Ainda reforçou o papel dos ecossistemas como infraestrutura natural para enfrentar eventos climáticos extremos. “Água é um tema que todos compreendem e precisamos comunicar com clareza a urgência do problema”, finalizou.

O Secretário de Estado do Meio Ambiente do Espírito Santo, Felipe Rigoni, também esteve presente no debate e destacou o papel do Programa Reflorestar na melhoria das bacias hidrográficas capixabas, lembrando que mais de cinco mil nascentes já foram fortalecidas pela iniciativa. “O reflorestamento, restauração e manejo adequado da paisagem são medidas que contribuem diretamente para a resiliência climática. Quando falamos de adaptação climática, estamos falando de água”, afirmou.

O simpósio é promovido pela Associação Brasileira de Recursos Hídricos e conta com apoio da Secretaria de Recuperação do Rio Doce, do Governo do Estado do Espírito Santo e com o patrocínio da Cesan, Vale, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Itaipu Binacional, CBH Paranaíba, FLO-2D, Operador Nacional do Sistema Elétrico e DualBase.

A iniciativa também tem o apoio de diversas instituições e entidades do setor, como Abcon Sindcon, Abema, Abes, ABGE, ABMGeo, Abrage, Aesabesp, Aesas, Agerh, Apac, Apea-ES, Instituto Jones dos Santos Neves, Let’s Atlantica, Rebob, Universidade Federal do Espírito Santo, UFF, UFMG, UFPR, UFRGS, UFRN, Universidade Federal de Santa Maria, Unicamp, Universidade de Brasília, Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

Felipe Mello

Colunista

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.