Por trás dos painéis, decisões que importam Por trás dos painéis, decisões que importam Por trás dos painéis, decisões que importam Por trás dos painéis, decisões que importam
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Por Dani Klein e Mariana Klein, especialistas em ESG e líderes da curadoria da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025

A programação da Conferência Sustentabilidade Brasil 2025, etapa oficial da COP 30, não nasceu de uma planilha automatizada, nem seguiu o roteiro das tendências mais compartilhadas nas redes. Ela foi construída a partir de um processo cuidadoso, intenso, muitas vezes conflituoso, mas sempre coerente com aquilo que defendemos: um evento com conteúdo técnico de excelência e um compromisso inegociável com diversidade, representatividade e conexão com a realidade dos territórios.

Em 2024, o que a gente conhecia como teoria se materializou de forma indigesta no bastidor. Comentários como “não tem mulher preparada pra esse painel”, “você vai escolher alguém pela cor da pele ou pela competência?”, “ele é referência, não pode ficar de fora”, ou ainda “pessoa trans vai dar tom de militância” não vinham de anônimos mal-intencionados, mas de profissionais com cargo, formação e, muitas vezes, discurso alinhado com a pauta da equidade — pelo menos até o momento em que eram convidados a ceder espaço. O que se apresentava como análise técnica, em muitos casos, revelava preconceitos estruturais que ainda insistem em se camuflar sob o argumento da excelência.

Curadoria técnica e cuidadosa

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Não naturalizamos, nem suavizamos. É bom tirar o filtro das palavras e nomear sem medo os preconceitos na cara. Respondemos apontando o racismo, a misoginia, a transfobia e os privilégios que sustentam a ausência de vozes diversas em espaços de poder. E assim, aprendemos que curadoria é, também, um exercício de enfrentamento e o palco, ainda que se proponha plural, não deixa de ser um lugar de disputa.

Em 2024, fechamos a conferência com cerca de 40% de mulheres e mais de 20% de pessoas diversas na programação. Foi o início de uma virada de chave que, neste ano, se consolidou em critério. Em 2025, a meta se ampliou para 50% de mulheres, 40% de perfis diversos, e o compromisso assumido desde o início de que, se alcançarmos a meta, vamos além. O que antes exigia explicação agora é ponto de partida e quem participa da construção já chega sabendo das regras do jogo.

A curadoria foi orientada por escuta ativa e busca qualificada. Utilizamos a metodologia da bola de neve, acionando redes técnicas e territoriais, buscando referências para além dos circuitos habituais, conectando pessoas que vivem os temas com quem os estuda e propõe políticas sobre eles. E algo importante mudou: o que no ano passado precisou ser enfrentado com dureza, neste ano passou a ser trazido, espontaneamente, por quem reconhece a importância de indicar nomes diversos, de pesquisar, de sair do óbvio. A resistência virou cultura, e isso muda tudo. Inclusive nossa vibração!

Diversidade e Inclusão como tema transversal

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E já que muitos têm perguntado, é bom esclarecer: sim, teremos painéis sobre diversidade e inclusão, mas não do jeito que se espera. Serão quarenta, porque em cada trilha, em cada eixo de discussão, houve um esforço intencional para garantir que pessoas com experiências vividas, trajetórias plurais e saberes muitas vezes invisibilizados estivessem presentes. Não criamos uma sala isolada para “quem gosta do tema”. O que estamos fazendo é ocupar os espaços – todos! Porque esse não é um evento para segregar, é para misturar.

A Conferência Sustentabilidade Brasil 2025 não foi desenhada para acomodar nomes conhecidos nem para agradar patrocinadores, partidos ou algoritmos. Cada painel que compõe essa programação passou por discussões reais, por decisões conscientes e por escolhas que nem sempre foram simples, mas foram necessárias. O que sustenta esse evento não é o que está impresso no crachá. É o que está por trás de cada escolha que chega ao palco.

Felipe Mello

Colunista

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.

Biólogo, mestre em Desenvolvimento Sustentável e especialista em Gestão de Projetos, com 23 anos de experiência em projetos nas diversas vertentes que envolvem o desenvolvimento sustentável. É coautor de um livro sobre Gestão de Projetos Socioambientais e de diversos capítulos de livros e artigos técnico científicos publicados na área da sustentabilidade. Atua ainda como Head de Conteúdo ESG na Rede Vitória.