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Caneta emagrecedora nacional: Olire substitui Mounjaro e promete -20 kg. Mas pode?

Produto à base de tirzepatida começa a ser comercializado no Brasil como alternativa ao Mounjaro

Leitura: 7 Minutos
Caneta emagrecedora nacional/Foto: Reprodução
Caneta emagrecedora nacional/Foto: Reprodução

Com a popularização de medicamentos injetáveis para emagrecimento, como Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), o Brasil começa a ver surgir versões nacionais desses produtos, prometendo resultados semelhantes a custos reduzidos.

Um dos nomes que mais chama atenção atualmente é o Olire, apontado como uma caneta injetável que “substitui o Mounjaro” e promete a perda de até 20 kg.

Disponível em farmácias de manipulação em diversas cidades brasileiras, o Olire é comercializado como fórmula individualizada, à base do princípio ativo tirzepatida, o mesmo utilizado no medicamento original da farmacêutica norte-americana Eli Lilly, aprovado para uso no Brasil sob prescrição médica.

A crescente oferta do produto em redes sociais, clínicas estéticas e influenciadores levanta uma série de questões: pode ser usado livremente? Tem registro na Anvisa? É seguro? A promessa de emagrecimento acelerado com uso de injetáveis é compatível com as diretrizes médicas ou esbarra em riscos à saúde pública?

O QUE É A TIRZEPATIDA E COMO FUNCIONA

A tirzepatida é uma molécula inovadora aprovada para o tratamento de diabetes tipo 2 e também para obesidade. Ela atua em dois receptores hormonais do intestino humano — o GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1) e o GIP (polipeptídeo insulinotrópico dependente da glicose). A combinação dessa dupla ação reduz o apetite, aumenta a saciedade e melhora o controle glicêmico.

O medicamento original com tirzepatida se chama Mounjaro, lançado globalmente pela Eli Lilly e aprovado no Brasil pela Anvisa para o tratamento de diabetes tipo 2. Em 2023, a agência norte-americana FDA aprovou o uso da tirzepatida também como tratamento para obesidade, em doses maiores, sob o nome Zepbound.

Estudos clínicos multicêntricos indicaram que pacientes com obesidade sem diabetes, ao usarem tirzepatida, perderam em média 15% a 20% do peso corporal total ao longo de 72 semanas, desde que associados a dieta e prática de exercícios físicos.

O QUE É O OLIRE: FORMULAÇÃO NACIONAL MANIPULADA

O Olire não é um medicamento registrado com marca pela Anvisa. Em vez disso, é uma formulação manipulada, oferecida por farmácias magistrais que trabalham com prescrição personalizada.

O produto utiliza tirzepatida grau farmacêutico, em concentrações que variam conforme orientação médica, e é disponibilizado na forma de caneta preenchida, semelhante aos dispositivos de aplicação usados em medicamentos como Ozempic e Victoza.

Por estar dentro do escopo da manipulação magistral — ou seja, individualizada para um paciente com receita médica — o Olire não precisa de registro formal na Anvisa como um produto industrial. No entanto, isso não significa que o uso seja livre de riscos ou que o medicamento possa ser prescrito indiscriminadamente.

Segundo as normas da Resolução RDC nº 67/2007, farmácias de manipulação podem formular medicamentos a partir de princípios ativos permitidos no país, desde que haja prescrição, controle de qualidade e rastreabilidade da matéria-prima. A tirzepatida, embora aprovada no Brasil, não está ainda amplamente padronizada para manipulação, o que gera debate entre profissionais de saúde e farmacêuticos.

Caneta Mounjaro para tratamento de obesidade MKPhoto12/Shutterstock
Caneta Mounjaro para tratamento de obesidade MKPhoto12/Shutterstock

PODE SUBSTITUIR O MOUNJARO?

Na prática clínica, alguns médicos têm prescrito tirzepatida manipulada como alternativa ao Mounjaro, sobretudo diante da escassez do produto original e de seu alto custo (que pode ultrapassar R$ 2.000 por mês). O Olire, nesse contexto, surge como uma tentativa de democratizar o acesso à substância, com custo que varia entre R$ 500 e R$ 800 mensais, dependendo da dose e farmácia.

No entanto, vale ressaltar que a equivalência entre medicamentos industrializados e manipulados não é garantida, já que a pureza, estabilidade, biodisponibilidade e segurança podem variar conforme o fornecedor da matéria-prima e o processo de fabricação.

A Anvisa já emitiu alertas sobre a importação e o uso de insumos farmacêuticos ativos (IFAs) sem garantia de origem, especialmente no caso de novos medicamentos de alta complexidade como a tirzepatida.

O RISCO DA AUTOMEDICAÇÃO E DA VENDA SEM PRESCRIÇÃO

Um dos principais pontos de preocupação entre endocrinologistas e entidades médicas é a popularização do uso dessas canetas manipuladas fora de um ambiente controlado. Em diversas redes sociais, o Olire vem sendo promovido por influenciadores e até mesmo clínicas estéticas sem vínculo com endocrinologistas, o que contraria as boas práticas médicas e éticas.

A tirzepatida, assim como a semaglutida, pode provocar efeitos adversos importantes, incluindo:

  • Náuseas, vômitos e diarreia
  • Risco de hipoglicemia (em pacientes diabéticos)
  • Pancreatite
  • Alterações na vesícula biliar
  • Perda excessiva de massa magra
  • Efeitos psicológicos ligados à imagem corporal

Além disso, o uso prolongado sem monitoramento pode mascarar distúrbios alimentares ou gerar dependência emocional do medicamento para controle de peso.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) reforçam que medicamentos para emagrecimento devem ser usados apenas com acompanhamento profissional, em pacientes com indicação clínica e sempre como parte de um plano terapêutico completo, que inclui reeducação alimentar, suporte psicológico e atividade física.

EXISTE AUTORIZAÇÃO DA ANVISA?

Sim, a tirzepatida é um princípio ativo aprovado pela Anvisa, presente em medicamentos com registro no Brasil. No entanto, o Olire, como marca ou produto manipulado, não possui registro próprio, pois se encaixa na categoria de formulação magistral individualizada.

Isso significa que:

  • Pode ser prescrito e manipulado com receita médica válida
  • Deve ser preparado por farmácias magistrais autorizadas e fiscalizadas pela vigilância sanitária
  • Não pode ser vendido livremente ou divulgado com promessas terapêuticas sem respaldo científico

O marketing de medicamentos manipulados com promessas de “emagrecimento rápido” ou “perda de 20 kg” pode configurar infração sanitária e publicidade enganosa, conforme determina o Código de Defesa do Consumidor e as normas da Anvisa.

CONSUMIDORES DEVEM ESTAR ATENTOS

A crescente demanda por soluções de emagrecimento rápidas e supostamente seguras, como as canetas injetáveis, exige maior responsabilidade por parte de quem vende e consome. O Olire, embora baseado em um princípio ativo eficaz e aprovado, não é isento de riscos e não deve ser utilizado sem acompanhamento médico.

Especialistas recomendam atenção a:

  • Farmácias de manipulação que não exigem prescrição
  • Vendas em redes sociais, marketplaces ou sites sem registro
  • Informações vagas sobre a procedência do ativo
  • Doses padronizadas oferecidas sem consulta individual

O emagrecimento saudável, segundo consensos médicos, envolve não apenas a perda de peso, mas a mudança sustentável de comportamento, redução de riscos metabólicos e preservação da saúde física e mental.

Laísa Menezes, repórter do Folha Vitória
Laísa Menezes

Repórter

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.