Apesar de popular, o uso de chip de testosterona pode ter efeitos colaterais graves e comprometer seriamente a saúde, sendo uma 'bomba' para o corpo/Canva
Apesar de popular, o uso de chip de testosterona pode ter efeitos colaterais graves e comprometer seriamente a saúde, sendo uma 'bomba' para o corpo/Canva

O chamado “chip da beleza”, também conhecido como chip de testosterona, implante hormonal ou até mesmo o uso de substâncias como gestrinona e ostarina, tem se popularizado como uma solução rápida e fácil para melhorar a estética e o desempenho físico.

Contudo, apesar de sua ampla aceitação, esses produtos, na verdade, são esteroides anabolizantes, substâncias proibidas em muitos países devido aos seus potenciais danos à saúde.

Nos últimos anos, o implante hormonal subcutâneo, que promete melhorar a disposição, a libido e até o ganho de massa muscular, tem atraído tanto homens quanto mulheres que buscam o que muitos chamam de “corpo perfeito” ou aumento de performance.

Porém, o uso desses implantes traz consigo uma série de riscos que não podem ser ignorados, desde efeitos colaterais superficiais, como a queda de cabelo, até complicações graves, como infarto do miocárdio e até cânceres.

A endocrinologista Dra. Lorena Lima Amato, especializada na área, alerta que, apesar da popularidade desses procedimentos, o uso indiscriminado de implantes hormonais não aprovados pode ter consequências desastrosas à saúde.

O QUE SÃO E COMO FUNCIONAM OS CHIPES HORMONAIS

Os chips hormonais, conhecidos também como implantes subcutâneos, consistem na aplicação de uma cápsula que libera uma quantidade controlada de hormônios no corpo ao longo do tempo. Entre os hormônios mais comuns nesse tipo de tratamento estão a testosterona, a gestrinona e, mais recentemente, a ostarina, um esteroide anabolizante.

Esses produtos, embora possam ser vendidos com o objetivo de aumentar a disposição, melhorar a libido ou até proporcionar ganho de massa muscular, são na realidade esteroides anabolizantes, substâncias químicas que alteram o funcionamento do organismo de maneira artificial. Embora a promessa seja de benefícios rápidos, os efeitos adversos podem ser devastadores.

“Esses implantes, que estão na moda como ‘chips da beleza’, têm como base os mesmos compostos usados em terapias hormonais para pessoas com deficiências hormonais específicas, e não têm aprovação para fins estéticos. Usá-los de forma indiscriminada não só é perigoso, mas também ilegal”, afirma a Dra. Lorena.

EFEITOS COLATERAIS: O QUE NINGUÉM TE CONTA

O uso do “chip de testosterona” e de outros implantes hormonais para fins estéticos pode levar a uma série de efeitos colaterais, que variam de problemas físicos a complicações mais graves. Abaixo estão alguns dos riscos conhecidos por médicos e especialistas:

  • Queda de cabelos: O aumento nos níveis de testosterona pode provocar calvície masculina e feminina, além de outros distúrbios capilares.
  • Risco aumentado de doenças hepáticas: O uso de esteroides pode prejudicar o fígado, aumentando as chances de desenvolver hepatite medicamentosa e outros danos hepáticos, inclusive tumores.
  • Problemas cardiovasculares: O uso prolongado pode elevar a pressão arterial e aumentar o risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
  • Trombose e coágulos sanguíneos: O uso desses hormônios pode aumentar o risco de trombose, que pode levar a complicações graves, como embolia pulmonar.
  • Alterações hormonais nas mulheres: Mulheres que utilizam o chip podem experimentar o engrossamento da voz e o aumento do clitóris, efeitos indesejados e difíceis de reverter.
  • Acne e espinhas: O uso de testosterona pode desencadear surtos de acne, comuns em quem utiliza esteroides, especialmente em zonas do rosto, costas e ombros.

Esses efeitos colaterais podem ser irreversíveis, e a única forma de minimizar esses riscos é interromper imediatamente o uso de tais substâncias. Mesmo assim, os danos já causados podem perdurar por anos, afetando a saúde física e emocional do usuário.

A FALTA DE REGULAMENTAÇÃO E A APROVAÇÃO DA ANVISA

Uma das questões mais alarmantes em relação ao uso do chip hormonal e outras substâncias similares é a falta de regulamentação e aprovação por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Boa parte desses hormônios usados para fins estéticos não tem patente ou controle adequado, o que significa que não são submetidos aos rigorosos testes de segurança exigidos para medicamentos e tratamentos médicos.

Isso implica que os produtos podem conter componentes desconhecidos, com efeitos imprevisíveis para a saúde dos usuários. Mesmo que algumas marcas de implantes hormonais sejam comercializadas no Brasil, apenas uma delas tem aprovação da ANVISA para uso contraceptivo. Para os outros, não existe garantia de que os ingredientes sejam seguros, ou que as doses aplicadas sejam adequadas para o uso prolongado.

“Esses produtos podem ter substâncias e doses inadequadas para o corpo humano, o que aumenta o risco de efeitos adversos. Além disso, ao serem utilizados sem o devido acompanhamento médico, os riscos se multiplicam”, explica Dra. Lorena.

O QUE DIZ A RESOLUÇÃO DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA (CFM)

Em 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) implementou a Resolução Nº 2.333/2023, que proíbe a prescrição de terapias hormonais para fins estéticos, ganho de massa muscular ou melhoria no desempenho esportivo. Essa decisão foi tomada após um crescente número de relatos de complicações graves associadas ao uso de esteroides anabolizantes e implantes hormonais para esses fins.

A Resolução visa proteger os pacientes de tratamentos não regulamentados e potencialmente perigosos. De acordo com a norma, os implantes hormonais devem ser usados apenas em casos específicos e com acompanhamento médico rigoroso, como no caso de reposição hormonal para tratar deficiências comprovadas de hormônios ou como método contraceptivo.

“Qualquer prescrição de terapias hormonais que não siga as orientações da Resolução 2.333/2023 é ilegal e coloca a saúde do paciente em risco”, alerta a endocrinologista.

A BUSCA PELO CORPO PERFEITO E A REALIDADE DOS RISCOS

A busca incessante pela aparência perfeita tem levado muitas pessoas a recorrerem a tratamentos rápidos e soluções mágicas, como o uso de implantes hormonais. No entanto, é fundamental que o público entenda que o “chip da beleza” não é uma solução mágica. Pelo contrário, pode ser um caminho perigoso que coloca em risco a saúde a longo prazo.

É necessário conscientizar a população sobre os efeitos adversos dessas substâncias e reforçar que a saúde deve ser a prioridade, mesmo quando se busca a estética ou o desempenho físico. A prescrição de terapias hormonais deve ser feita exclusivamente por médicos especialistas, com base em necessidades reais e devidamente comprovadas por exames clínicos.

Em um mundo onde a imagem corporal é cada vez mais valorizada, é importante ter cuidado com as promessas de resultados rápidos e fáceis. O “chip da beleza” pode até parecer uma solução tentadora, mas os riscos associados ao seu uso não devem ser ignorados. A saúde deve ser sempre a prioridade, e os efeitos adversos dessas substâncias podem ser devastadores para o corpo humano.

O uso de esteroides anabolizantes e implantes hormonais para fins estéticos é uma prática que não tem respaldo médico adequado. A recomendação de especialistas é clara: esses procedimentos devem ser realizados apenas quando há uma necessidade médica específica e com acompanhamento constante de profissionais capacitados. A busca pela beleza ou pelo corpo ideal não deve colocar em risco a saúde de forma alguma.

Laísa Menezes, repórter do Folha Vitória
Laísa Menezes

Repórter

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.

Formada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Viçosa, pós-graduanda em Branding pela Universidade Castelo Branco, Alumni do Susi Leaders (Ed. 2023). Atua no Folha Vitória desde maio de 2024.