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Conclave ao vivo: o complexo processo do Vaticano para criar a fumaça preta ou branca para anunciar o novo papa

A escolha do novo papa é um dos eventos mais aguardados pela Igreja Católica e o processo de sinalizar o resultado por meio da fumaça

Conclave irá começar nesta quarta-feira (07). Foto: Reprodução/ Vatican Media
Conclave irá começar nesta quarta-feira (07). Foto: Reprodução/ Vatican Media

O conclave que marca a eleição de um novo papa é um dos momentos mais aguardados pela Igreja Católica e, ao longo dos anos, tornou-se um espetáculo de repercussão mundial.

No entanto, por trás da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina, há um processo minucioso, cuidadosamente projetado para transmitir uma mensagem clara ao mundo: se a fumaça é preta, não há novo papa. Se for branca, a decisão foi tomada – Habemus Papam.

Apesar dos avanços tecnológicos que possibilitam comunicação instantânea, o Vaticano preserva a tradição de anunciar a escolha do Papa por meio de um sinal de fumaça. Esse ritual remonta ao século XV e passou a ser um símbolo de transparência dentro da Igreja, além de ter um forte significado religioso e simbólico.

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Chaminé vaticano
Foto: Reprodução/Instagram @vaticannewspt

CONCLAVE: O PROCESSO DA FUMAÇA

A fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina durante o conclave é o principal sinal que informa ao público se a eleição do papa foi concluída ou não.

A fumaça preta indica que nenhum novo papa foi escolhido, enquanto a fumaça branca confirma a eleição de um novo pontífice.

Essa prática foi adotada com o intuito de manter a confidencialidade do voto, ao mesmo tempo em que permite que o mundo saiba o resultado sem a necessidade de divulgações oficiais imediatas.

Embora o processo de produção de fumaça tenha se tornado parte do imaginário coletivo, poucos sabem da complexidade envolvida.

A fumaça não surge de qualquer material, e há uma série de preparativos antes de o conclave começar, garantindo que o sistema funcione com precisão. Além disso, o uso de fumaça remonta a práticas antigas, onde o próprio ato de queimar materiais como incenso era visto como uma forma de comunicação com o divino.

PROCESSO E ENGENHARIA DA FUMAÇA

Dentro da Capela Sistina, duas estufas específicas são instaladas para garantir a produção de fumaça. Uma delas é responsável por queimar as cédulas de votação dos cardeais, enquanto a outra gera os sinais de fumaça, que são enviados para o exterior por meio de um tubo conectado à chaminé.

A Capela Sistina, um dos maiores patrimônios culturais do mundo, construída há mais de 500 anos, não foi projetada para comportar sinais de fumaça. Por isso, o processo de instalação da chaminé exige cuidados extremos. Técnicos e bombeiros do Vaticano trabalham juntos para garantir que tudo esteja funcionando corretamente e de forma segura.

Cada componente do sistema de fumaça é cuidadosamente montado. O tubo que conecta as estufas à chaminé é feito de materiais como ferro ou aço e passa pelo telhado da capela até o exterior. Para evitar vazamentos, todas as juntas do sistema são seladas e rigorosamente testadas antes de ser colocado em funcionamento. Esse procedimento de teste acontece nos dias que antecedem o início do conclave, com simulações de fumaça para garantir que o sistema esteja operando corretamente.

COMPONENTES QUÍMICOS E A FUMAÇA

Para gerar a fumaça, o Vaticano utiliza uma combinação de compostos químicos. Quando é necessário produzir fumaça preta, que indica a não eleição de um novo Papa, queima-se uma mistura de perclorato de potássio, antraceno e enxofre.

Essa combinação resulta em uma fumaça densa e escura. Por outro lado, a fumaça branca, que sinaliza a eleição de um Papa, é produzida pela queima de uma mistura de clorato de potássio, lactose e colofônia de pinho, que gera uma fumaça clara e limpa.

Esses compostos químicos são armazenados em cartuchos e acionados eletronicamente, eliminando qualquer possibilidade de erro. Essa precisão é essencial, pois qualquer falha no processo poderia gerar confusão ou, em um cenário mais grave, afetar a imagem pública do Vaticano.

cardeais no vaticano
Cardeais durante reunião (Foto: Vaticano News)

SEGREDO E TRANSPARÊNCIA NO CONCLAVE

O Vaticano tem sido rigoroso em preservar o sigilo e a precisão dos procedimentos durante o conclave, especialmente no que diz respeito à comunicação externa. Embora haja uma crescente pressão por parte de alguns setores para modernizar o sistema, como por meio de luzes coloridas ou alertas digitais, o Vaticano defende que o ritual da fumaça está intimamente ligado à tradição da Igreja.

A ideia de se manter o sigilo durante o conclave, mesmo em um mundo hiperconectado, reflete o desejo da Igreja Católica de garantir que a escolha do Papa seja feita de maneira reservada e com respeito à importância do momento.

“Se algo der errado, não é apenas uma falha técnica, mas um incidente internacional”, afirma Kevin Farlam, engenheiro de estruturas que trabalha com edifícios patrimoniais, explicando a seriedade do processo.

Além disso, o simbolismo por trás da fumaça também tem um valor teológico. A fumaça, que sobe em direção ao céu, remete à tradição católica de que as orações “sobem” até Deus, criando um elo entre o divino e o humano.

A simplicidade do ritual também permite que milhares de pessoas que se reúnem na Praça de São Pedro se sintam incluídas no processo, como se fizessem parte desse momento secreto e cheio de mistério.

A IMPORTÂNCIA DO CONCLAVE COMO RITUAL E TRADIÇÃO

Apesar dos avanços tecnológicos e da pressão para tornar o processo mais moderno e acessível, o Vaticano continua a defender que o conclave, com toda a sua pompa e mistério, é essencial para preservar a continuidade da Igreja Católica.

“A Igreja Católica e a vanguarda estão longe de ser sinônimos”, afirma Candida Moss, professora de teologia da Universidade de Birmingham. “A inovação é quase antitética ao ritual.”

A preservação do processo de fumaça no conclave também está ligada a um valor mais profundo: a ideia de que a eleição do Papa deve ser um ato espiritual, longe das influências externas. O processo mantém o sigilo e garante que a decisão dos cardeais seja tomada de forma livre e sem pressões externas, respeitando o legado e a história da Igreja Católica.

O uso da fumaça como forma de comunicação reflete não apenas uma tradição que remonta séculos, mas também o compromisso do Vaticano com o simbolismo, a espiritualidade e o segredo. Apesar das tentativas de modernização ao longo dos anos, a fumaça do conclave continua sendo um elemento vital na escolha do novo Papa, unindo o passado e o presente de forma única.

ESCOLHA DO PAPA

O processo de escolha do Papa, especialmente a maneira como a fumaça é utilizada para sinalizar a eleição, continua sendo um ritual fascinante e altamente simbólico.

Embora o mundo moderno tenha a capacidade de se comunicar de formas instantâneas e variadas, o Vaticano preserva a tradição de usar a fumaça para marcar a conclusão do conclave.