A proposta que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para quem ganha até R$ 5 mil mensais promete mudar o bolso de milhões de brasileiros.
O projeto, já aprovado na Câmara e em análise no Senado, representa uma das alterações mais relevantes da política tributária recente, com efeitos diretos sobre a renda líquida da população e impactos no orçamento público.
NOVA FAIXA DE ISENÇÃO
Atualmente, a isenção do IRPF cobre rendas mensais próximas de R$ 2.259,20. Quem ganha acima desse valor já precisa pagar imposto, de acordo com a tabela progressiva. Com a mudança, trabalhadores que recebem até R$ 5 mil por mês deixam de contribuir, um salto significativo na base de isenção.
O governo estima que cerca de 10 milhões de contribuintes fiquem totalmente livres do pagamento. Além disso, aqueles que ganham entre R$ 5.000,01 e R$ 7.000 terão um desconto parcial, reduzindo consideravelmente o valor do imposto devido.
QUANTO SE ECONOMIZA NA PRÁTICA
Para entender os efeitos, é possível comparar situações comuns de trabalhadores:
- Exemplo 1 – Salário de R$ 4.500 mensais
Pela regra atual, esse contribuinte paga algo em torno de R$ 200 de imposto por mês, considerando o desconto padrão. Com a nova faixa de isenção, o valor retido na fonte seria zerado. A economia anual é de aproximadamente R$ 2.400, que permanecem no bolso do trabalhador. - Exemplo 2 – Salário de R$ 6.200 mensais
Hoje, alguém nessa faixa paga entre R$ 400 e R$ 500 de IR por mês. Com a nova regra, parte da renda (até R$ 5.000) fica isenta, e só a diferença é tributada. Esse contribuinte passaria a pagar em torno de R$ 150 a R$ 200, dependendo das deduções. A economia anual pode superar R$ 3.000, em comparação com o sistema anterior.
Esses números mostram que, mesmo para quem não está totalmente isento, a redução é significativa.
CUSTO PARA O GOVERNO
A renúncia fiscal estimada com a ampliação da faixa de isenção gira em torno de R$ 25 bilhões anuais. Para compensar essa perda de arrecadação, o projeto prevê medidas voltadas às rendas mais altas. Entre elas, a criação de uma alíquota mínima de 10% sobre grandes fortunas e a revisão de benefícios que hoje permitem a alguns contribuintes de maior renda pagar menos imposto proporcionalmente.
Segundo dados oficiais, a proposta também busca corrigir uma distorção: atualmente, rendas do trabalho são mais tributadas que algumas rendas do capital, como lucros e dividendos. A ideia é equilibrar o sistema e torná-lo mais progressivo.
QUEM GANHA E QUEM PERDE
A principal faixa beneficiada é a de trabalhadores assalariados, aposentados e profissionais liberais que recebem até R$ 5 mil mensais. Essa parcela passa a ter um alívio direto no orçamento, aumentando o poder de compra.
Já os contribuintes de renda mais alta tendem a arcar com parte da compensação. Para eles, a tributação mínima pode elevar a carga efetiva, reduzindo brechas que antes permitiam declarações com baixa incidência de imposto.
IMPACTO ECONÔMICO
Especialistas apontam que a medida pode estimular o consumo, já que o dinheiro que deixará de ir para os cofres públicos tende a circular na economia, especialmente no comércio e nos serviços.
No entanto, há questionamentos sobre os efeitos fiscais de longo prazo. A renúncia bilionária precisa ser compensada sem comprometer o equilíbrio das contas públicas. Estados e municípios, que recebem parte da arrecadação do IR, também observam a proposta com cautela, já que eventual queda nos repasses pode pressionar os orçamentos locais.
RELAÇÃO COM A REFORMA TRIBUTÁRIA
A ampliação da faixa de isenção ocorre em paralelo à implementação da reforma tributária mais ampla, que prevê a substituição de impostos como PIS, Cofins, ICMS e ISS por um Imposto sobre Valor Agregado (IVA). A proposta do IR faz parte do segundo eixo da reforma, voltado à tributação da renda, enquanto o primeiro trata do consumo.
O objetivo é construir um sistema mais progressivo, em que quem ganha mais contribua proporcionalmente mais, e os de menor renda tenham alívio fiscal.
COMO CALCULAR IMPOSTO DE RENDA
Calcular o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) segue uma lógica baseada na tabela progressiva da Receita Federal, ou seja, quanto maior a renda tributável, maior a alíquota aplicada. Vou te explicar passo a passo com um exemplo simples:
1. IDENTIFICAR A RENDA TRIBUTÁVEL
- Considera-se o salário bruto mensal.
- Deduzem-se descontos legais, como:
- INSS pago no mês
- Dependentes (R$ 189,59 por dependente/mês em 2024)
- Pensão alimentícia judicial
- Outras deduções previstas
O valor após essas deduções é chamado de base de cálculo.
2. APLICAR A TABELA PROGRESSIVA MENSAL (2024/2025)
Atualmente, a tabela mensal é:
Base de cálculo mensal (R$) | Alíquota | Parcela a deduzir (R$) |
Até 2.259,20 | Isento | 0,00 |
De 2.259,21 até 2.826,65 | 7,5% | 169,44 |
De 2.826,66 até 3.751,05 | 15% | 381,44 |
De 3.751,06 até 4.664,68 | 22,5% | 662,77 |
Acima de 4.664,68 | 27,5% | 896,00 |
Obs.: essa tabela é usada na retenção mensal, mas o cálculo anual segue a mesma lógica progressiva.
3. CÁLCULO PRÁTICO
Exemplo:
Um trabalhador recebe R$ 3.000,00 brutos.
- INSS descontado: R$ 270,00 (aprox.)
- Sem dependentes.
Base de cálculo = 3.000 – 270 = R$ 2.730,00
Agora aplicamos a tabela:
- O valor de R$ 2.730,00 está na 2ª faixa (7,5%).
- Fórmula: (Base × Alíquota) – Parcela dedutível.
Cálculo:
(2.730 × 7,5%) – 169,44 = R$ 35,81 de IR no mês
4. CÁLCULO ANUAL
Na declaração anual, o contribuinte soma todos os rendimentos do ano e aplica a tabela progressiva anual, deduzindo:
- Despesas médicas (sem limite)
- Despesas com educação (limitadas a R$ 3.561,50 por dependente/ano)
- Contribuição à previdência oficial
- Dependentes (R$ 2.275,08 por dependente/ano)
- Pensão judicial
O cálculo anual define se o contribuinte tem imposto a pagar ou tem restituição, considerando o que já foi retido na fonte ao longo do ano.
O FUTURO DA PROPOSTA
Embora já tenha sido aprovada na Câmara, a isenção de até R$ 5 mil ainda depende da aprovação no Senado. Se mantida, entra em vigor a partir do calendário de 2026, impactando a declaração de 2027. O governo trata a medida como cumprimento de promessa política e marco importante na tentativa de aliviar a classe média e estimular a economia.
A isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil representa uma mudança estrutural no sistema de tributação brasileiro. Mais que um ajuste de tabela, trata-se de um reposicionamento sobre quem deve financiar a carga tributária.
Para milhões de trabalhadores, o efeito será sentido diretamente no salário líquido, com mais recursos disponíveis mês a mês. Para o Estado, o desafio será equilibrar a renúncia fiscal com a necessidade de arrecadação.
O debate no Senado e a implementação das regras mostrarão se o país conseguirá conciliar alívio para os contribuintes e sustentabilidade fiscal, em um momento em que a reforma tributária já redesenha o sistema como um todo.