O assassinato de Isabella Nardoni, em 29 de março de 2008, tornou-se um dos crimes mais emblemáticos da história recente do Brasil.
A menina, de apenas 5 anos, morreu após ser jogada do sexto andar do edifício London, na zona norte de São Paulo.
As investigações apontaram que o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Jatobá, foram responsáveis pela morte da criança.
O caso teve ampla cobertura da imprensa, mobilizou a opinião pública e levou a julgamentos que ganharam repercussão internacional.
O Brasil acompanhou cada detalhe, desde as investigações até a condenação do casal, em 2010.
O NOVO DESDOBRAMENTO
Em setembro de 2025, uma nova reviravolta trouxe o caso de volta aos noticiários. A Associação do Orgulho LGBTQIAPN+ apresentou ao Ministério Público de São Paulo uma representação que pede a investigação de Antônio Nardoni, avô paterno de Isabella.
Segundo reportagem publicada por Fábia Oliveira, no portal Metrópoles, a denúncia baseia-se em um relato de um policial penal que teria acompanhado Anna Carolina Jatobá durante o cumprimento da pena. O servidor afirma que Jatobá teria admitido, em conversa, que o sogro teve participação direta no crime.
De acordo com o documento, Antônio Nardoni teria atuado de forma efetiva ou instigadora no assassinato, em um momento em que Isabella ainda apresentava sinais vitais antes de ser arremessada da janela.
A DENÚNCIA AO MINISTÉRIO PÚBLICO
O texto encaminhado ao Ministério Público sugere que o avô teria prestado auxílio consciente aos autores do crime, inclusive colaborando na criação de um álibi para proteger Alexandre e Anna Carolina.
Um trecho da representação afirma:
“Segundo o relato da servidora pública, o referido indivíduo teria prestado auxílio consciente aos autores do crime, colaborando com a criação de álibi para acobertar os réus.”
Até 2025, Antônio Nardoni não havia sido investigado formalmente no processo que condenou o filho e a nora. O novo pedido, caso aceito, poderá reabrir linhas de investigação 17 anos após a morte da menina.
A POSIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO
O deputado estadual Agripino Magalhães Júnior, presidente da Associação do Orgulho LGBTQIAPN+, defendeu a iniciativa de buscar nova apuração. Em entrevista à coluna de Fábia Oliveira, ele disse que a sociedade não pode aceitar a impunidade e reforçou que o caso exige justiça contínua.
Magalhães classificou o crime como brutal e imperdoável e afirmou que Alexandre Nardoni e Anna Jatobá não deveriam circular em liberdade, mesmo após a progressão de regime. Para ele, a investigação de Antônio Nardoni é parte do processo de responsabilização e de reparação da memória de Isabella.
COMO FOI A NOITE DO CRIME
As investigações apontaram que Isabella sofreu agressões antes de ser jogada pela janela. De acordo com a polícia, a madrasta teria asfixiado e agredido a menina. Alexandre, em seguida, teria cortado a tela de proteção do quarto do casal e arremessado a filha.
Laudos indicaram que Isabella ainda estava com sinais vitais quando caiu. Ela foi socorrida, mas morreu a caminho do hospital.
O caso rapidamente ganhou espaço nos noticiários, com transmissões ao vivo do prédio e análises diárias sobre a investigação. A comoção pública foi tão intensa que o julgamento tornou-se um marco no sistema judicial brasileiro.
O JULGAMENTO DE ALEXANDRE E ANNA JATOBÁ
O júri popular ocorreu em março de 2010, dois anos após o crime. O julgamento durou cinco dias e recebeu ampla cobertura da mídia. Ao final, o tribunal condenou Alexandre Nardoni a 31 anos, 1 mês e 10 dias de prisão por homicídio triplamente qualificado e fraude processual.
Anna Carolina Jatobá foi condenada a 26 anos e 8 meses pelos mesmos crimes. Ambos iniciaram o cumprimento da pena em regime fechado.
O julgamento ficou marcado pela atuação incisiva do Ministério Público, pela comoção dos jurados e pelo acompanhamento da opinião pública, que lotou os arredores do Fórum de Santana, em São Paulo.
PROGRESSÃO DE PENA E VIDA EM LIBERDADE
Ao longo dos anos, tanto Alexandre quanto Anna Carolina obtiveram benefícios previstos pela lei penal. Jatobá deixou a prisão em 2023, passando a cumprir a pena em regime aberto. Alexandre obteve o mesmo benefício em dezembro de 2024.
Atualmente, o casal vive junto no bairro de Santana, zona norte de São Paulo. O retorno deles à vida em sociedade, no entanto, continua a gerar debates e revolta em parte da população.
REPERCUSSÃO SOCIAL E POLÍTICA
A possível investigação de Antônio Nardoni reacende a indignação pública em torno do crime. A sociedade brasileira acompanhou de perto o caso em 2008 e, passados 17 anos, ainda o considera um símbolo da luta por justiça.
O novo pedido também gera discussão no meio jurídico, já que envolve a reavaliação de um caso considerado encerrado após condenações definitivas. Para especialistas, será necessário analisar se os novos relatos têm consistência suficiente para abrir um inquérito.
O PAPEL DA IMPRENSA NO CASO
O assassinato de Isabella Nardoni foi um marco no jornalismo policial brasileiro. A cobertura intensa, em tempo real, levou milhões de pessoas a acompanhar cada detalhe do caso. Jornais, televisões e portais de notícias transformaram a tragédia em um dos assuntos mais comentados de 2008.
Ao mesmo tempo, o caso levantou discussões sobre os limites da exposição midiática, especialmente em crimes que envolvem crianças e repercussão nacional. Ainda hoje, a morte de Isabella é lembrada como um episódio que mobilizou tanto o sistema judiciário quanto a opinião pública.
CRIMES CONTRA CRIANÇAS: UM ALERTA CONSTANTE
Casos como o de Isabella reforçam a importância de políticas públicas voltadas para a proteção da infância. Organizações não governamentais e entidades de direitos humanos lembram que o Brasil ainda enfrenta altos índices de violência contra crianças e adolescentes.
Segundo o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, denúncias de violência infantil registradas pelo Disque 100 representam milhares de casos por ano, incluindo maus-tratos, negligência, abuso e até homicídios.
Esse contexto mostra que, apesar da comoção gerada por crimes emblemáticos, a violência contra menores permanece como um desafio urgente a ser enfrentado pelo Estado e pela sociedade.
O QUE ACONTECE AGORA
Com a representação apresentada, caberá ao Ministério Público de São Paulo avaliar se há elementos suficientes para iniciar uma investigação formal sobre Antônio Nardoni. Caso isso ocorra, a polícia poderá reabrir parte do caso para analisar a suposta participação do avô da menina no crime.
Enquanto isso, a família materna de Isabella e setores da sociedade civil continuam a acompanhar de perto cada movimentação, reforçando que a luta por justiça segue viva, mesmo 17 anos depois.