As bebidas energéticas fazem parte do cotidiano de muitas pessoas, sejam estudantes enfrentando maratonas de provas, motoristas em longas jornadas ou atletas em busca de rendimento.
O consumo, porém, ainda gera dúvidas. Afinal, é seguro tomar Red Bull ou similares? A resposta é: depende. De quem consome, da quantidade ingerida e da finalidade.
Um dos pontos centrais na discussão é o uso consciente. Bebidas energéticas são seguras para a maioria das pessoas adultas saudáveis, mas não devem ser vistas como substitutas de alimentação, descanso ou hidratação.
A nutricionista Talyta Machado, que atua em Brasília, explicou em entrevista ao Metrópoles que os energéticos funcionam como uma fonte rápida de energia, ajudando a afastar o sono e aumentando a disposição.
A cafeína, principal composto presente no energético, atua no cérebro gerando efeitos estimulantes, podendo melhorar o estado de alerta, aumentar a concentração e batimentos cardíacos, explica ela.
Segundo Talyta, o consumo moderado da bebida não representa riscos significativos à saúde, mas se deve tomar cuidado com os excessos.
A cafeína em excesso e com frequência pode gerar adaptações no cérebro pois ela se liga ao mesmo receptor da adenosina, neurotransmissor relacionado com o sono. Com o consumo frequente, a produção da molécula pode aumentar e gerar no usuário a sensação de que ‘precisa de sempre mais’ ou que ‘não faz mais efeito’, alerta Talyta.
COMO FUNCIONA UMA BEBIDA ENERGÉTICA
A maioria dos energéticos disponíveis no mercado contém uma combinação de cafeína, taurina, glucoronolactona, inositol e, em alguns casos, vitaminas e minerais. Esses componentes atuam em conjunto para estimular o sistema nervoso central, retardar a fadiga e melhorar a percepção de esforço.
Em uma lata padrão de 250 ml, há cerca de 88 mg de cafeína, quantidade semelhante a um café expresso. A cafeína, presente também em outros alimentos como chocolate, chás e refrigerantes, é uma substância considerada segura em doses moderadas. Seu efeito começa cerca de 30 a 60 minutos após o consumo e pode durar entre três a seis horas.
Estudos científicos reforçam o efeito positivo da cafeína no desempenho esportivo, especialmente em modalidades de longa duração, como corridas, ciclismo, futebol e basquete. Ela ajuda a reduzir a sensação de cansaço e melhora a concentração, o tempo de reação e a motivação.
Uma boa opção segundo a nutricionista é procurar as opções mais saudáveis disponíveis no mercado.
Algumas marcas estão produzindo opções mais limpas, sem açúcar, adoçadas com stevia e taumatina, sem corantes artificiais, e algumas já adicionam outros nutrientes que auxiliam na função energética do corpo, como coenzima q10, explica a nutricionista.
QUEM NÃO PODE BEBER ENERGÉTICO?
Apesar dos benefícios, as bebidas energéticas não são indicadas para todos os públicos. Crianças, gestantes, pessoas com hipertensão, cardiopatas, portadores de gastrite ou sensíveis à cafeína devem evitar o consumo. Nessas populações, a ingestão pode causar arritmias, picos de pressão, convulsões e até mal súbito em casos extremos.
Além disso, a mistura de energético com bebida alcoólica representa um risco real. A cafeína presente nos energéticos mascara os efeitos do álcool, criando uma falsa sensação de alerta e controle. Isso pode levar ao consumo excessivo de álcool e ao comprometimento da coordenação motora e do discernimento, o que eleva riscos, especialmente quando associado à direção.
Caminhoneiros e motoristas também devem ter cautela. Embora os energéticos sejam usados para manter o estado de vigília, o uso contínuo e em grandes quantidades pode gerar tolerância e exigir doses cada vez maiores para obter o mesmo efeito. O uso prolongado e não orientado pode ter impacto direto na saúde cardiovascular e mental.
OS COMPONENTES PRESENTES
Além da cafeína, outras substâncias têm papel importante nas fórmulas dos energéticos.
TAURINA
A taurina é um aminoácido não essencial, produzido pelo corpo a partir da cisteína e metionina. É encontrado naturalmente em carnes, peixes, leite e frutos do mar. Na bebida energética, a taurina tem função neuromoduladora, antioxidante e anti-inflamatória. Ela também participa da detoxificação hepática e atua na função contrátil dos músculos, contribuindo para o desempenho físico.
GLUCORONOLACTONA
A glucoronolactona é um carboidrato biossintetizado a partir da glicose, presente também em frutas como maçã, pera e em bebidas como vinho tinto. Tem função importante na eliminação de toxinas e medicamentos do organismo por meio da conjugação hepática. É um dos componentes que colaboram para a sensação de “energia limpa” relatada por alguns usuários.
INOSITOL
Já o inositol, uma forma de açúcar encontrada em diversos alimentos, inclusive cereais e frutas, atua nas membranas celulares e no metabolismo de lipídios. Está presente nas bebidas energéticas em quantidade menor, mas é associado à regulação do humor, do sono e da função cerebral.
QUANTO VOCÊ PODE TOMAR POR DIA?
A recomendação segura para adultos é de até 400 mg de cafeína por dia, o que equivale a cerca de quatro a cinco xícaras de café ou quatro latas de energético de 250 ml. Acima disso, podem surgir sintomas como irritabilidade, insônia, tremores, dor de cabeça, aumento da frequência cardíaca e, em casos mais graves, arritmias.
É importante lembrar que a tolerância à cafeína varia entre os indivíduos. Pessoas que consomem com frequência podem desenvolver resistência, exigindo doses maiores para alcançar os mesmos efeitos. Isso pode levar a um consumo abusivo sem percepção imediata dos riscos.
Em termos esportivos, a recomendação internacional para uso de cafeína como recurso ergogênico gira em torno de 3 a 6 mg por quilo de peso corporal, mas deve sempre ser orientada por nutricionista ou profissional de saúde especializado.
ENERGÉTICO É DIFERENTE DE SUPLEMENTO
É importante diferenciar o energético de suplementos esportivos. Enquanto os suplementos são formulados com foco em necessidades específicas de desempenho e recuperação, os energéticos têm como principal função estimular o estado de alerta. Ambos podem conter cafeína, mas em concentrações e contextos de uso bastante diferentes.
Também é comum confundir energético com isotônico. O isotônico tem como função principal a reposição de líquidos e eletrólitos perdidos no suor. Já o energético visa estimular o corpo e a mente, não substituindo a hidratação em nenhuma hipótese.
SEGURANÇA NA ESCOLHA
A presença de bebidas energéticas no mercado exige que o consumidor esteja atento à leitura dos rótulos e à composição dos produtos. Embora a ANVISA regulamente a presença dos principais ingredientes, a variedade de marcas e a diferenciação nos teores podem levar a erros de avaliação.
Também é necessário considerar o consumo de outros produtos com cafeína ao longo do dia, como cafés, chás, refrigerantes e chocolates. A soma desses alimentos pode ultrapassar o limite seguro sem que o indivíduo perceba.
CONSUMO CONSCIENTE É A CHAVE
O energético pode, sim, ser aliado em momentos pontuais da rotina. Quando usado com critério, por pessoas saudáveis e dentro das recomendações, não apresenta riscos significativos. No entanto, o consumo excessivo ou em situações inadequadas pode transformar o que seria uma ajuda momentânea em um problema de saúde.
Assim como qualquer outra substância com ação estimulante, o energético deve ser tratado com moderação. O alerta maior se aplica às populações vulneráveis e ao consumo combinado com álcool ou em excesso.