
A menopausa é uma fase natural na vida da mulher, marcada pelo fim dos ciclos menstruais e mudanças hormonais significativas.
Esse período pode ser acompanhado por diversos sintomas que afetam a qualidade de vida, como fogachos, secura vaginal e alterações emocionais.
Para muitas mulheres, a Terapia de Reposição Hormonal (TRH) surge como uma opção para aliviar esses sintomas. No entanto, a TRH é cercada de dúvidas e questionamentos sobre os riscos à
saúde, especialmente no que diz respeito ao aumento do risco de câncer de mama e trombose.
A endocrinologista Dra. Lorena Lima Amato, especialista no assunto, esclarece essas e outras questões que comumente chegam ao consultório.
QUEM PRECISA DE REPOSIÇÃO HORMONAL?
Nem toda mulher na menopausa precisa de reposição hormonal. A indicação para a TRH é geralmente para aquelas que apresentam sintomas mais intensos e que afetam sua qualidade de vida.
Entre os sintomas mais comuns estão os fogachos, ondas de calor repentinas e intensas, a secura vaginal, que pode causar dor e desconforto durante as relações sexuais (dispareunia), e alterações na massa óssea, como a osteopenia e osteoporose. Além disso, há mulheres que apresentam outros sintomas geniturinários, como a perda urinária a longo prazo.
No entanto, para mulheres assintomáticas, a decisão de iniciar a reposição hormonal deve ser tomada com cautela. A terapia pode não ser necessária nesses casos, e deve-se considerar o custo-benefício, levando em conta as condições de saúde e a intensidade dos sintomas.
QUAIS OS BENEFÍCIOS DA REPOSIÇÃO HORMONAL NA MENOPAUSA?
A Terapia de Reposição Hormonal oferece múltiplos benefícios, muitos dos quais são bem documentados pela ciência. O alívio dos fogachos, da secura vaginal e da perda de massa óssea são alguns dos principais efeitos positivos da TRH. Além disso, a terapia também pode reduzir o risco cardiovascular e melhorar o bem-estar mental, com estudos associando a TRH à melhora de sintomas depressivos, ansiedade e qualidade do sono.
Porém, é importante ressaltar que, apesar dos benefícios, a TRH também apresenta riscos. Embora esses riscos geralmente sejam baixos, é necessário avaliá-los individualmente.
Existe uma preocupação em relação ao risco de aumento da incidência de câncer de mama e o aumento do risco de eventos tromboembólicos, como trombose, além de acidentes vasculares cerebrais (AVC), principalmente quando a terapia é iniciada fora do período considerado ideal, conhecido como “janela de oportunidade”.
O QUE É A “JANELA DE OPORTUNIDADE”?
A “janela de oportunidade” refere-se ao período ideal para iniciar a Terapia de Reposição Hormonal, que é geralmente nos primeiros dez anos após o início da menopausa. Durante esse período, os benefícios da TRH superam os riscos.
No entanto, após esse intervalo, os riscos associados à TRH tendem a superar os benefícios. A chance de eventos como AVC, trombose e problemas cardiovasculares aumenta, o que faz com que a medicina sugira cautela e uma avaliação individualizada em casos posteriores a esse período.
Essa diretriz serve como um guia para o início da TRH, mas é importante ressaltar que não há uma regra rígida e cada caso deve ser analisado com cuidado. Para algumas mulheres, a TRH pode ser benéfica além dos dez anos, se a saúde estiver estável e não houver contraindicações.
QUAIS SÃO OS HORMÔNIOS INDICADOS PARA A REPOSIÇÃO HORMONAL?
Os hormônios mais comuns na Terapia de Reposição Hormonal são o estrogênio e a progesterona. Esses hormônios podem ser administrados de diversas formas, oferecendo flexibilidade para a paciente e o médico. Existem opções como comprimidos, adesivos, cremes e géis vaginais, especialmente indicados para sintomas geniturinários localizados, e até dispositivos intrauterinos (DIU) que liberam progesterona.
Em alguns casos, para mulheres com transtornos do desejo sexual, pode ser indicada a testosterona transdérmica, que é utilizada para aumentar a libido e melhorar o bem-estar sexual.
HORMÔNIOS MANIPULADOS SÃO SEGUROS?
No Brasil, os hormônios manipulados são uma opção disponível para mulheres que desejam personalizar a dosagem e a formulação de sua reposição hormonal. No entanto, é importante destacar que a manipulação de hormônios pode apresentar um risco maior, uma vez que a fiscalização sobre esses produtos pode ser menos rigorosa do que para os produtos industrializados, que seguem padrões mais estritos.
A quantidade de hormônio nas formulações manipuladas exige confiança na farmácia e no acompanhamento médico rigoroso. Portanto, se a mulher optar por hormônios manipulados, é fundamental que haja um acompanhamento contínuo e uma avaliação cuidadosa para garantir que a dosagem seja a correta e que o tratamento não represente riscos adicionais à saúde.
COMO AVALIAR SE A REPOSIÇÃO HORMONAL PODE SER UM RISCO PARA OUTRAS DOENÇAS, COMO CÂNCER DE MAMA E TROMBOSE?
A TRH pode, sim, aumentar o risco de câncer de mama e trombose em alguns casos, principalmente quando não há um acompanhamento médico adequado. A avaliação médica completa é essencial e deve incluir uma série de fatores, como a realização de mamografia anual, o histórico familiar de câncer e trombofilia, e o estilo de vida da paciente.
Fatores como obesidade, que está relacionado a um maior risco cardiovascular, e o tabagismo, que aumenta o risco de trombose, devem ser considerados. A anamnese detalhada e exames de rotina são fundamentais para monitorar os riscos associados à TRH e garantir a saúde da paciente durante o tratamento.
Durante o uso de reposição hormonal, o acompanhamento médico contínuo é essencial. Isso envolve uma boa anamnese e exames de rastreamento de rotina. Caso surjam contraindicações, como o aparecimento de um nódulo na mama ou sangramento uterino não diagnosticado, é importante ajustar ou interromper o tratamento até que a causa seja investigada. O tratamento também deve ser revisto se surgirem condições adversas que façam com que os riscos da reposição hormonal superem os benefícios.
REPOSIÇÃO HORMONAL NA MENOPAUSA
A Terapia de Reposição Hormonal é uma opção eficaz para aliviar os sintomas da menopausa, mas como qualquer tratamento, envolve riscos que devem ser cuidadosamente avaliados. Cada mulher tem uma condição única e a decisão de iniciar ou continuar a TRH deve ser tomada em conjunto com um médico, levando em consideração o histórico de saúde, os sintomas e os fatores de risco.
Além disso, o acompanhamento médico regular é fundamental para garantir que o tratamento seja seguro e eficaz, evitando complicações e ajustando a dosagem ou interrompendo a terapia caso surjam problemas. Com um acompanhamento adequado e uma avaliação cuidadosa, a TRH pode ser uma ferramenta valiosa para a melhoria da qualidade de vida durante a menopausa.