Alvo de pesquisas em diversos países, o suco de romã voltou ao centro das atenções após um estudo publicado na revista Clinical Nutrition apontar que seu consumo diário pode reduzir em até 30% a obstrução das artérias.
A afirmação despertou o interesse de profissionais da saúde e do público em geral, principalmente por envolver um alimento de origem natural, acessível e culturalmente aceito.
Os efeitos cardiovasculares observados estariam relacionados à alta concentração de antioxidantes presentes na fruta, especialmente os polifenóis, como a punicalagina, que se destacam por sua ação anti-inflamatória e vasodilatadora.
O ESTUDO QUE DEU ORIGEM À REVELAÇÃO
A pesquisa citada, conduzida por um grupo internacional de cientistas e publicada no periódico Clinical Nutrition, envolveu pacientes diagnosticados com estenose da artéria carótida, uma condição caracterizada pelo estreitamento das artérias responsáveis por levar sangue ao cérebro. Esse quadro está diretamente associado ao aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC) e infarto do miocárdio.
Durante o estudo, um grupo de pacientes consumiu diariamente cerca de 50 ml de suco de romã por um período de um ano. Ao fim desse período, observou-se uma redução significativa — próxima a 30% — na espessura das paredes arteriais, além de melhora na pressão arterial e aumento do fluxo sanguíneo.
Esses achados sugerem que o suco de romã pode exercer um efeito protetor contra o avanço da aterosclerose, doença inflamatória crônica que leva à formação de placas de gordura nas artérias.
COMO A ROMÃ AGE NO ORGANISMO
A romã (Punica granatum) é uma fruta rica em compostos bioativos, sendo os polifenóis os mais estudados. Entre eles, a punicalagina tem ganhado destaque por sua potente atividade antioxidante.
Essas substâncias ajudam a neutralizar os radicais livres, moléculas instáveis que danificam as células e estão associadas ao envelhecimento e ao desenvolvimento de doenças inflamatórias e cardiovasculares. Além disso, os polifenóis:
- Ajudam a inibir a oxidação do colesterol LDL (“mau colesterol”), impedindo que ele se deposite nas paredes das artérias.
- Atuam na melhora da função endotelial, favorecendo o relaxamento dos vasos sanguíneos.
- Inibem a enzima conversora da angiotensina (ECA), o que pode ajudar a controlar a pressão arterial.
- Contribuem para aumento das defesas antioxidantes naturais do organismo.
Esses mecanismos combinados explicam por que a romã tem sido estudada como uma possível aliada na prevenção de doenças cardíacas.
REDUÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL E OUTROS BENEFÍCIOS OBSERVADOS
Além da melhora na espessura arterial, os pacientes que participaram do estudo também apresentaram uma redução média de 12% na pressão arterial sistólica (a pressão máxima durante a contração do coração). Esse efeito é significativo, considerando que hipertensão é um dos principais fatores de risco para infarto e AVC.
Os benefícios adicionais relatados em estudos complementares incluem:
- Melhora da função cardíaca em pacientes com doenças coronarianas.
- Redução de marcadores inflamatórios no sangue, como a proteína C-reativa (PCR).
- Aumento da capacidade antioxidante total do plasma.
Esses dados, no entanto, devem ser interpretados com cautela. A maioria dos estudos envolve amostras pequenas e de curto prazo, o que limita a generalização dos resultados. A adoção do suco de romã como estratégia terapêutica deve ser sempre orientada por profissionais de saúde.
A DIFERENÇA ENTRE ALIMENTO FUNCIONAL E TRATAMENTO MÉDICO
É importante reforçar que, embora os resultados sobre o suco de romã sejam promissores, ele não substitui medicamentos ou intervenções clínicas indicadas para doenças cardíacas. Trata-se de um alimento funcional, ou seja, que possui propriedades nutricionais que complementam os cuidados com a saúde, mas não atuam como tratamento isolado.
Pessoas com estenose arterial, hipertensão ou colesterol alto devem manter o acompanhamento médico, seguir as orientações sobre dieta, atividade física e uso de medicamentos, além de realizar exames periódicos para monitoramento da função cardiovascular.
EXISTEM RISCOS NO CONSUMO EXCESSIVO?
Até o momento, o consumo moderado de suco de romã tem se mostrado seguro para a maioria das pessoas. No entanto, seu uso em grandes quantidades ou em forma concentrada pode interferir na ação de medicamentos, especialmente os utilizados para pressão arterial e anticoagulantes.
Algumas interações já observadas envolvem:
- Warfarina (varfarina): anticoagulante que pode ter sua ação alterada pela ingestão regular de suco de romã.
- Inibidores da ECA: como captopril e enalapril, que podem ter efeito potencializado.
- Possíveis reações alérgicas, embora raras.
Por isso, antes de iniciar o consumo diário ou em grandes quantidades, é recomendado consultar um profissional de saúde, especialmente se a pessoa já faz uso contínuo de medicamentos.
ALÉM DO SUCO: FORMAS DE CONSUMO DA ROMÃ
O suco é a forma mais popular de consumo da romã, mas a fruta também pode ser aproveitada de outras formas:
- In natura: os arilos (sementes envoltas em polpa) podem ser consumidos diretamente.
- Em saladas e sobremesas: combinações com folhas verdes, iogurte ou frutas cítricas.
- Extrato concentrado: disponível em cápsulas ou pó, utilizado em suplementos alimentares.
- Chás da casca: utilizados na medicina tradicional para efeitos digestivos e anti-inflamatórios.
O ideal é sempre priorizar formas naturais e minimamente processadas da fruta, a fim de preservar os compostos ativos e evitar adição de açúcares e conservantes.
O QUE DIZEM OUTRAS PESQUISAS SOBRE A ROMÃ
Estudos conduzidos em diferentes universidades e institutos têm investigado os efeitos da romã não apenas na saúde cardiovascular, mas também em áreas como:
- Câncer: efeitos antioxidantes e antiproliferativos em células tumorais, ainda em fase laboratorial.
- Diabetes: melhora da sensibilidade à insulina e controle glicêmico.
- Função cerebral: possíveis benefícios na memória e na prevenção de declínio cognitivo.
- Envelhecimento celular: redução do estresse oxidativo sistêmico.
Apesar dos avanços, esses estudos estão em estágios variados de desenvolvimento e ainda não há recomendações formais das principais sociedades médicas sobre o uso clínico da fruta.
COMO PREPARAR O SUCO DE ROMÃ DE FORMA SEGURA E NUTRITIVA
O suco de romã pode ser preparado em casa de forma simples, sem a necessidade de aditivos ou equipamentos especiais. O ideal é optar pela fruta fresca, madura e sem sinais de deterioração, garantindo a preservação de seus compostos antioxidantes naturais.
O primeiro passo é higienizar bem a casca da romã, mesmo que ela não vá ser consumida, para evitar a contaminação durante o corte. Em seguida, a fruta deve ser cortada ao meio com cuidado, e os arilos (as sementes envoltas por uma polpa rubi) devem ser extraídos manualmente.
Para preparar o suco, os arilos devem ser colocados no liquidificador com cerca de 100 ml de água filtrada para cada romã. O processo de trituração deve ser breve e em velocidade baixa, para evitar que as sementes internas sejam moídas em excesso, o que pode resultar em sabor amargo. Após bater, a mistura deve ser coada com uma peneira fina ou pano limpo.
Não é necessário adicionar açúcar, mel ou adoçantes. O sabor levemente ácido e adstringente é característico da fruta e indica a presença dos polifenóis — compostos antioxidantes que contribuem para os possíveis benefícios à saúde.