
Os métodos contraceptivos representam um papel fundamental na autonomia reprodutiva da mulher. Seja de forma física ou hormonal, eles agem evitando a fecundação do óvulo e prevenindo a gravidez.
Por existirem muitas opções disponíveis no mercado, a hora da escolha pode gerar muitas dúvidas. Entre os métodos mais conhecidos estão o dispositivo intrauterino, conhecido como DIU, e o implante contraceptivo hormonal, o Implanon.
Algumas diferenças e similaridades entre os dois métodos podem ajudar nesta decisão. Confira algumas informações que podem indicar qual a melhor opção para cada mulher.
Como cada um dos métodos funciona?
A primeira diferença e, talvez, a mais memorável, é a forma como os dispositivos são inseridos no corpo. O Implanon é um pequeno bastão implantado no braço da paciente, já o DIU é inserido no útero.
Além disso, eles se diferenciam na forma como agem no organismo, apesar de terem o mesmo objetivo. Também é válido destacar que existem classificações diferentes para o DIU, o que faz com que cada tipo tenha suas características específicas.

Segundo a ginecologista e obstetra Mariana Rocha Galvão, O DIU não hormonal libera íons de cobre que dificultam a movimentação e a sobrevivência dos espermatozóides. “Assim, eles não conseguem chegar aos óvulos”, complementa a professora do Unesc e preceptora do Unesc Saúde.
Já o DIU hormonal engrossa o muco cervical, dificultando a entrada dos espermatozoides e podendo inibir a ovulação em algumas mulheres. Com o Implanon, o bloqueio é uma característica efetiva.
No caso do Implanon, além de alterar o muco cervical e dificultar a passagem dos espermatozoides, ele impede os ovários de liberar óvulos, bloqueando a ovulação.
Mariana Rocha Galvão, ginecologista e obstetra

Tanto o Implanon quanto o DIU de cobre e o DIU hormonal são considerados contraceptivos reversíveis de longa duração (Larc).
De acordo com uma entrevista concedida ao Estadão pela presidente da Comissão Nacional Especializada em Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ilza Maria Urbano Monteiro eles podem ser usados por, praticamente, todas as mulheres.
“Os LARCs são efetivos e seguros. Eles não contêm estrogênio e têm a segurança de que podem ser usados por praticamente todas as mulheres, o que aumentaria o número de pessoas que teriam acesso ao método“, explicou.
Qual a taxa de eficácia?
A taxa de eficácia dos métodos é similar, segundo Mariana Galvão, com 99% ou mais de aprovação.
“A eficácia do DIU não hormonal em uso perfeito é próxima a 99%. A eficácia do DIU hormonal gira em torno de 99,3%. Já a eficácia do Implanon é em torno de 99,95%”, destacou a especialista.
Qual o tempo de duração?
Outra característica essencial e que deve ser levada em consideração na hora da escolha é o tempo de duração do efeito de cada um dos contraceptivos. Apesar do DIU e do Implanon serem considerados Larcs, cada um tem seu prazo de validade:
- DIU de cobre tradicional: 10 anos;
- Minidiu de cobre ou DIU de cobre com prata: cinco anos;
- DIU de kyleena: cinco anos;
- Mirena: recentemente modificado para oito anos;
- Implanon: três anos de eficácia.
Há contraindicações?
De acordo com Mariana Galvão, cada um dos métodos possuem contraindicações específicas e que são levadas em conta pelo especialista ao indicar o melhor método para a paciente.
- DIU não hormonal
Contraindicações absolutas: gravidez atual ou suspeita de gravidez; infecção genital ativa, como endometrite, doença inflamatória pélvica, cervicite purulenta; infecção puerperal ou aborto séptico nos últimos três meses; sangramento vaginal de causa não esclarecida; malformações uterinas ou miomas que deformem a cavidade uterina, impedindo a correta colocação; alergia ao cobre ou doença de Wilson (doença rara de acúmulo de cobre no organismo).
“Além disso, é contraindicado para pessoas com câncer de colo de útero ou câncer de endométrio não tratado”, complementa a especialista.
Contraindicações relativas (que são aquelas que dependem de avaliação médica): histórico de doença inflamatória pélvica recorrente; infecção sexualmente transmissível recente; anemia grave (o DIU de cobre pode aumentar fluxo menstrual; útero muito pequeno (nulíparas jovens podem ter maior risco de dor ou expulsão, mas não é uma proibição); uso de medicamentos ou condições que aumentem risco de infecção.
DIU hormonal
Contraindicações absolutas: gravidez confirmada ou suspeita; infecção genital ativa, como endometrite, cervicite purulenta, doença inflamatória pélvica; infecção uterina no puerpério ou após aborto séptico recente; sangramento uterino de causa desconhecida; malformações uterinas ou miomas que deformem a cavidade uterina; câncer de mama atual (como contém hormônio, é contraindicado); câncer de endométrio ou colo do útero não tratado; doença hepática grave ou tumor de fígado (por interferência com o metabolismo do hormônio).
Contraindicações relativas: histórico de câncer de mama tratado e em remissão; doenças hepáticas menos graves (hepatite aguda, cirrose compensada); enxaqueca com aura (não é absoluta, mas exige cautela); doença inflamatória pélvica recorrente ou infecção sexualmente transmissível recente; malformações uterinas leves ou miomas que não deformam significativamente a cavidade.
Implanon
Contraindicações absolutas: gravidez confirmada ou suspeita; câncer de mama atual ou histórico recente (por ser hormônio à base de progesterona); doença hepática grave ou tumores no fígado (adenoma hepático, carcinoma hepático); sangramento vaginal anormal não diagnosticado; alergia a algum componente do implante (etonogestrel ou excipientes).
Contraindicações relativas: histórico remoto de câncer de mama tratado – pode ser discutido caso a caso -; doenças do fígado menos graves (hepatite viral, cirrose compensada); uso de medicamentos que induzem enzimas hepáticas (alguns anticonvulsivantes, antirretrovirais, rifampicina), pois podem reduzir a eficácia do implante.
Quais os efeitos colaterais
No caso do DIU hormonal, Mariana Galvão ressalta que o ciclo menstrual pode ser consideravelmente afetado. Cólicas menstruais mais fortes (dismenorréia) e sangramentos intermenstruais (escapes ou “spotting”) podem acontecer, geralmente nos primeiros meses após a colocação.
O aumento do fluxo menstrual, com menstruações mais intensas e volumosas, também é comum nos primeiros meses.
Já no caso do DIU hormonal, os efeitos na menstruação são similares, mais frequentes nos primeiros três a seis meses. Os sangramentos irregulares ou em escapes também são comuns.
“Em até 30% das mulheres, ocorre amenorreia (ausência de menstruação) após um ano de uso — não é prejudicial. Além das cólicas leves nos primeiros meses, até o corpo se adaptar.”
O Implanon segue o mesmo padrão. Os sangramentos irregulares (escapes ou “borra de café”), menstruação mais longa ou mais curta e ausência de menstruação (amenorreia) em até 30% das usuárias também são registrados.
“Vale ressaltar que esses padrões podem mudar ao longo do uso. Além disso, pode levar a alterações dermatológicas como acne, oleosidade da pele e queda de cabelo (em algumas mulheres)”, complementou a médica.
Qual a disponibilidade de cada um dos métodos
A partir do último dia 1º, após uma decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), os planos de saúde particulares devem oferecer o Implanon para pessoas entre 18 e 49 anos. Em nota, a Agência ressaltou que o oferecimento é obrigatório em qualquer situação, “não sendo permitida, sob qualquer alegação, a negativa indevida de cobertura assistencial”.
No Sistema Único de Saúde (SUS), o método é oferecido desde julho deste ano.
O cobertura do DIU pelos planos de saúde já é obrigatória desde 2008. O DIU também está presente no SUS, sendo o de cobre o mais comum de ser encontrado.
Afinal, DIU ou Implanon?
A verdadeira resposta é: depende. Assim como todos os outros métodos contraceptivos, ambos possuem seus benefícios e desafios específicos. De acordo com Mariana Galvão a escolha depende do que a paciente procura e da análise médica.
A indicação dos métodos de longa duração leva em consideração o ciclo menstrual da paciente, os efeitos colaterais desejados ou não desejados, a ausência de contraindicações e o desejo da mesma. Sendo assim, é sempre uma decisão em conjunto da paciente e do ginecologista.
Mariana Galvão