
As festas de fim de ano podem ser uma fase mágica para muitas pessoas, mas a pressão emocional gerada pelo encerramento simbólico de um ciclo pode ter efeitos psicológicos nocivos para alguns.
A reportagem do Folha Vitória ouviu duas psicólogas para entender se as metas de Ano Novo são importantes e se elas podem ser positivas para planejar o futuro e avaliar o ciclo que termina.
Para a psicóloga Brenda Zambom Sampaio, pensar nos objetivos a serem alcançados na próxima etapa pode ser algo produtivo.
“Do ponto de vista da Psicologia Cognitivo-Comportamental, estabelecer metas para o ano novo pode ser saudável, sim, desde que elas sejam realistas, flexíveis e alinhadas com a realidade de cada pessoa. As metas funcionam como direcionadores de comportamento: elas ajudam o indivíduo a organizar pensamentos, escolhas e ações ao longo do tempo”, explicou a especialista.
Metas precisam ser realistas
Mas a psicóloga Ana Cláudia Gama Barreto pondera que é necessário estabelecer metas mais realistas.
“Temos que considerar se nossas metas são de fato alcançáveis, no tempo e no contexto que temos disponíveis. Por vezes estabelecer metas muito dependentes de fatores externos ou de mudanças radicais em nossas vidas, pode levar a um tempo maior para realização ou até impossibilitar que cheguemos aonde queremos”, destacou.
Brenda explica o que leva as pessoas a ter uma resposta ruim ao estabelecimento de metas.
“O problema não está em ter metas, mas em transformá-las em cobranças rígidas ou em expectativas irreais. Quando isso acontece, a pessoa pode desenvolver pensamentos automáticos negativos, como sensação de fracasso ou inadequação, o que aumenta a frustração e o sofrimento emocional”, destaca.
Revisão do ano favorece autoconhecimento
Antes de estabelecer novos objetivos, é importante avaliar o desempenho de cada um no ano que está terminando. Mas essa avaliação precisa seguir alguns critérios para não ser fonte de frustração excessiva.
A revisão do ano pode ser muito positiva quando feita de forma consciente e equilibrada. Esse exercício favorece o autoconhecimento, ajuda a identificar aprendizados e reforça a percepção de progresso, mesmo em pequenos passos. No entanto, essa revisão pode se tornar negativa quando a pessoa olha para o ano apenas com um filtro de cobrança ou comparação.
Brenda Zambom Sampaio, psicóloga.
Brenda alerta que quando o foco está exclusivamente no que não foi alcançado, surgem pensamentos automáticos de desvalorização, como ‘não fiz nada direito’ ou ‘fiquei para trás’, que não refletem a realidade de forma justa.
“O mais saudável é ampliar o olhar: reconhecer conquistas, entender dificuldades dentro do contexto vivido e perceber que evolução não significa perfeição, mas adaptação e aprendizado. Uma revisão funcional é aquela que acolhe limites, considera as circunstâncias e transforma a experiência em informação para escolhas futuras, e não em motivo de culpa”, afirma.
Ana Cláudia orienta sobre como lidar com o sentimento de frustração que pode vir com o não cumprimento de algumas metas.
“Precisamos lidar com muitas frustrações ao longo da vida. É preciso parar e refletir sobre o que alcançamos ou não, pensar com cuidado nas dificuldades que enfrentamos, valorizar o que conseguimos, refazer o rumo. Às vezes vamos ficar tristes, sofrer um pouco, mas isso é parte do curso da vida. O importante é não ficar preso ao que não foi possível e traçar novas possibilidades de futuro”, direciona.
Sensação de que o tempo passou rápido é comum
Outra sensação comum nessa época do ano é a de que o tempo está passando rápido demais. As psicólogas ouvidas pelo Folha Vitória explicaram esse fenômeno. Brenda esclarece que a percepção que temos do tempo não é apenas objetiva, mas influenciada por fatores cognitivos, emocionais e comportamentais.
“A sensação de que o tempo está ‘voando’ costuma estar relacionada à forma como a pessoa está vivendo sua rotina. Quando os dias são muito repetitivos, automáticos e cheios de tarefas, o cérebro entra em um modo de funcionamento mais acelerado e menos consciente. Vivemos no ‘piloto automático’, com pouca atenção ao momento presente. Nesses casos, a memória registra menos experiências marcantes, o que gera a sensação retrospectiva de que o tempo passou rápido demais”, detalhou a psicóloga.
Outro fator que contribui para essa sensação é a sobrecarga sentida pelas pessoas por causa do excesso de exigências relacionadas ao trabalho.
“As exigências crescentes no mercado de trabalho, as necessidades criadas pelo mercado, as dificuldades no traslado de casa para qualquer lugar. O que as pesquisas têm mostrado é uma sensação de sobrecarga nas pessoas, pouco tempo para parar e refletir”, esclareceu Ana Cláudia.