Economia

Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC

Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC Alocação de recursos por governos passados foi ineficiente, diz presidente do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, criticou nesta quinta-feira, 16, a alocação de recursos pelos governos passados em maneiras que julgou “ineficiente”. “O principal erro foi achar que o crescimento seria feito pelo governo e não pelo setor privado. O governo ocupou o espaço do setor privado por tanto tempo que o setor privado ficou sem capacidade de reação” afirmou, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional.

E completou: “O governo estimulou consumo errado e financiou projetos ineficientes. Não adianta agora tentar achar solução pública, porque não há espaço fiscal.”

Estratégia errada

O presidente do Banco Central também criticou “experiências” no passado quando a instituição teria sido, segundo ele, mais tolerante com a alta da inflação em troca de uma aposta maior no crescimento da economia. “Já fizemos várias experiências no passado onde se trocou inflação mais alta para ter crescimento mais alto e isso se mostrou errado. A crise de 2014 decorreu disso e houve perda de credibilidade que levou a dois anos de recessão”, afirmou.

Segundo Campos Neto, é errado achar que o BC só olha par a inflação e não se preocupa com a recuperação da atividade. “Achamos que a melhor forma de crescer no longo prazo é ter a inflação controlada”, afirmou. “Os exemplos estão marcados na nossa história. Achar que vamos trocar inflação controlada de longo prazo por crescimento no curto prazo leva a voos de galinha”, completou.

Campos Neto reforçou que Comitê de Política Monetária (Copom) avalia três fatores para tomar suas decisões sobre a taxa básica de juros Selic: o cenário internacional, que tem potencial de injetar ou retirar bastante liquidez do mercado; o cenário de perspectivas de reformas, que pode reduzir a taxa de juros estrutural brasileira; e o hiato do produto, que é o quanto que existe de folga na economia.

Crédito

O presidente do BC culpou a baixíssima taxa de recuperação de crédito e os altos custos operacionais e financeiros dos bancos pelo nível dos spreads no mercado brasileiro. Segundo ele, toda a agenda do BC, com 14 grupos de trabalho, endereça alguma medida relacionada ao custo do crédito. “Temos olhado bastante para os spreads, talvez seja a nossa principal tarefa. O dinheiro não está chegando na ponta com um custo acessível para as pessoas”, afirmou. “As taxas juros estão nas mínimas histórias e spreads estão muito altos”, admitiu.

Campos Neto voltou a argumentar que a concentração bancária não é a maior culpada pelos altos spreads no crédito. “Trocamos a competição pela estabilidade. Diversos países, inclusive os Estados Unidos, acharam que esse sistema tem menor vulnerabilidade”, alegou.

Ele explicou os quatro principais componentes dos spreads: inadimplência, custo operacional, custo financeiro e lucro – sendo que a lucratividade dos bancos corresponderiam a 15% dos spreads. “O custo trabalhista no Brasil ainda é alto, mesmo após reforma trabalhista. Jornada bancária é de seis horas, enquanto a maioria dos países é de oito horas. Também temos um problema sério de segurança das agências em muitos municípios”, elencou.

Segundo Campos Neto, o custo financeiro dos bancos também é alto, devido ao nível dos depósitos compulsórios exigidos pelo BC e ao baixo retorno das modalidades de crédito direcionado.

Ele alegou ainda que o maior custo é o custo de inadimplência e lembrou que o BC tem tomado medidas para reduzir o custo de informação, como cadastro positivo, Open Banking. “Quanto mais conheço da pessoa que estou emprestando, menor será a inadimplência. Além disso, temos um problema sério de recuperação de crédito, na média de apenas 13 centavos de cada real, com demora de quatro anos. A inadimplência brasileira não é tão mais alta que a do resto do mundo, mas não se recupera nada de volta. Isso faz uma diferença enorme”, completou.

Por isso, Campos Neto voltou a reforçar a necessidade de aprovação de medidas microeconômicas que reduzam o custo do crédito. “Juro alto é como dirigir avião sem instrumento, quando o juros baixa você consegue enxergar mais em volta, viver com juro alto por muito tempo criou muitas ineficiências, está na hora de atacá-las”, concluiu.

Microreformas

O presidente do Banco Central afirmou que a agenda de microreformas é a saída para melhorar a vida dos empreendedores no Brasil. Como exemplo, ele citou a ampliação do microcrédito, das cooperativas de crédito e ainda novas tecnologias como o Open Banking e o sistema de pagamentos instantâneos.

“As microreformas podem ajudar com o fato de País ser ‘inferno de empreendedores’. Nossa agenda é fazer medidas micro e a competição é enorme dimensão para atuarmos”, disse o presidente do BC.

Segundo ele, o objetivo do órgão é diminuir o “inferno” que é a vida do empreendedor. Também garantiu que o que está nas mãos do BC é, como órgão regulador, é estimular a competição no setor bancário.

O Open Banking, por exemplo, conforme Campos Neto, vai permitir que qualquer pequeno banco entre nos maiores possa oferecer produtos mais baratos com o consenso do cliente.

Cooperativismo

O presidente do Banco Central defendeu a ampliação do funding para as cooperativas de crédito e uma maior integração tecnológica para fomentar o microcrédito. “O cooperativismo no Brasil tem desenvolvimento muito heterogêneo entre as regiões. No Sul é mais que 10% do crédito do total, e há regiões onde não existe. Nosso objetivo é dobrar o cooperativismo não apenas no crédito para agricultura, mas também para outras áreas. O comprometimento do BC com o setor é total”, afirmou, em audiência na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional.