
Artigo escrito por Érico Colodeti Filho, especialista em investimentos pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Abima). Especialista em criptomoedas pela Associação Nacional das Corretoras Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord). Professor universitário e apresentador do “Me Tira do Perrengue“.
O colapso da Ambipar não é apenas mais um caso de empresa em recuperação judicial. É um retrato incômodo de como o mercado insiste em cair na mesma armadilha: acreditar em narrativas sedutoras e fechar os olhos para a governança frágil. A Ambipar surfou a onda ESG, comprou dezenas de empresas, se vendeu como símbolo de sustentabilidade e crescimento global. Porém, bastou a maré baixar para revelar o óbvio: caixa fraco, dívida alta e disclosure insuficiente. O resultado foi previsível: ações derretendo, credores em pânico e investidores enganados.
Se isso soa familiar, é porque já vimos esse filme. A Americanas, com seu rombo de R$ 20 bilhões, mostrou que até uma das marcas mais tradicionais do varejo pode esconder um castelo de cartas. Antes dela, Eike Batista prometia transformar o Brasil em potência global com suas empresas “X”, até que a realidade e a Justiça, expuseram a manipulação de mercado e o uso de informação privilegiada. A Parmalat, nos anos 2000, deixou um rastro de bilhões em ativos fictícios. E, no cenário internacional, a Enron se tornou o maior símbolo da contabilidade fraudulenta, levando junto a Arthur Andersen, então uma das maiores auditorias do mundo.
O denominador comum é cristalino: governança ruim, auditoria complacente e investidores dispostos a acreditar em histórias bonitas demais para serem verdade. O mercado adora culpar estruturas complexas, COEs, FIDCs, alavancagem “do bem”. No entanto a verdade é que nenhuma engenharia financeira resiste a controles frouxos e balanços maquiados. O investidor é induzido ao erro. Ou seja, quando a bomba estoura, quem paga a conta é sempre o mesmo: o cliente.
Ambipar: convite a desastre
É hora de parar de romantizar “teses” e voltar ao básico. Empresa boa é aquela que gera caixa, tem dívida controlada e balanço simples. O resto é ilusão. Diversificação não é frescura, é sobrevivência. E concentração excessiva em histórias sedutoras é convite ao desastre. O mercado precisa amadurecer: governança não é detalhe, é a própria tese de investimento.

Enquanto continuarmos premiando narrativas em vez de fundamentos, novos casos Ambipar continuarão surgindo. E cada vez que isso acontece, não é só uma empresa que quebra, é a confiança no mercado que se esfarela.