Economia

Capacidade ociosa da indústria permite ocupação sem pressão de preços, diz BC

Capacidade ociosa da indústria permite ocupação sem pressão de preços, diz BC Capacidade ociosa da indústria permite ocupação sem pressão de preços, diz BC Capacidade ociosa da indústria permite ocupação sem pressão de preços, diz BC Capacidade ociosa da indústria permite ocupação sem pressão de preços, diz BC

Brasília – O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Altamir Lopes, destacou nesta terça-feira, 28, ao comentar o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho, que o nível de ociosidade na indústria ainda é elevado. Portanto, qualquer retomada da produção e da ocupação do parque industrial não traria pressões de preços. Ao mesmo tempo, ele destacou que a produção industrial está em processo de estabilidade, tendendo à recuperação.

Lopes afirmou durante a entrevista coletiva que, do ponto de vista da demanda, o consumo continua moderado, em linha com o ajuste pelo qual passa a economia brasileira. “O consumo das famílias segue em queda”, resumiu. Falando do cenário interno, o diretor pontuou também o ritmo menor de redução dos investimentos.

Já com relação à contínua distensão do mercado de trabalho, ele chamou a atenção para o fato do aumento da taxa de desemprego já resultar em uma queda no rendimento nominal dos trabalhadores. Até então, o BC identificava uma redução apenas nos rendimentos reais.

Ao comentar as estimativas de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, Lopes destacou a contribuição do setor externo para PIB de 2016. “Nossa projeção para queda de 3,3% do PIB neste ano conta com a contribuição positiva de 3 pontos porcentuais das exportações líquidas”, citou.

Ele relatou ainda que a taxa de absorção interna passou a cair um pouco menos, mas ainda há uma contribuição muito forte para a queda do PIB, de -6,3 p.p. O diretor falou ainda em “alguma” recuperação das projeções do PIB industrial, cuja previsão para este ano é de queda de 4,6%. “Também revisamos projeção do PIB agropecuário para uma queda de 1,1% em 2016, devido à redução da produção de grãos”, completou.

Pressão salarial

O diretor de Política Econômica do BC explicou que o colegiado realmente decidiu retirar o termo “significativo” ao falar dos impactos do mercado de trabalho para a inflação. “Os reajustes nominais eram um grande ponto. Os salários nominais continuavam muito elevados e sem tendência de desaceleração. Hoje estamos vendo uma tendência clara dos salários nominais. A pressão é menor, sem dúvida”, continuou.

Altamir Lopes enfatizou que os reajustes nominais ainda estão em torno de 8%, patamar que supera a produtividade. “Isso é um risco”, disse. Para ele, no entanto, com o andar do tempo, esses reajustes salariais devem mostrar alguma acomodação e mitigar esses riscos mais à frente.

Desinflação em serviços

O diretor de Política Econômica do Banco Central destacou a desaceleração da inflação de serviços que, segundo ele, responde por 33% do IPCA. De acordo com ele, a alta de preços nesse setor continuará arrefecendo até o fim do ano.

Ao comentar a parte fiscal do RTI, Altamir disse que, a despeito da queda das despesas do setor público, o recuo das receitas tem sido mais intenso. Apesar disso, o diretor pontuou que, com a aprovação no Congresso do teto de gastos proposto pelo governo, estima-se uma queda de 1,5 ponto porcentual a 2 p.p. das despesas em relação ao PIB em três anos.

Altamir, que mais cedo destacou positivamente o resultado da balança comercial brasileira, avaliou ainda que turbulências nos mercados globais podem levar a uma redução das exportações. Ele citou incertezas no que diz respeito à economia chinesa, com impacto sobre commodities que estão na pauta de vendas do País. “Isso pode reduzir um pouco o ritmo das nossas exportações com algum impacto sobre o setor externo, mas vejo esses possíveis impactos com uma intensidade não tão elevada”, completou.

PIB

Ao contrário do prometido em setembro do ano passado, o Relatório Trimestral de Inflação de junho não trouxe a previsão do Banco Central para o PIB do primeiro trimestre do ano que vem. O diretor de Política Econômica, Altamir Lopes, justificou que isso ocorreu porque o momento é de muita volatilidade. “Se para projetar o PIB deste ano está difícil, para o primeiro trimestre do ano que vem, então…”, considerou.

Altamir disse que há dificuldades de fazer projeção para o ano fechado, mas evitou se comprometer com a atuação futura do BC porque ele deve deixar a casa na próxima semana. “Isso vai ficar a critério do novo diretor de política econômica”, afirmou. O indicado para a vaga é Carlos Viana de Carvalho. “Preferimos investir mais na projeção anual, de 3,3% e não mais de 3,5%”, justificou.

Sobre política cambial, o diretor voltou a dizer que as ferramentas disponíveis ao BC são as mesmas. “O câmbio continua flutuante”, afirmou.

Ajuste do setor externo

Altamir Lopes avaliou que o ajuste do setor externo ocorre de maneira mais intensa e será bem mais duradouro do que os demais ajustes da economia. Ele destacou a projeção de superávit comercial de US$ 50 bilhões em 2016, embora o resultado decorra principalmente da redução das importações e da desvalorização cambial.

Lopes comentou que o saldo da balança de serviços também tem apresentado resultados melhores, bem como há redução nas remessas de lucros e dividendos ao exterior. “Há uma trajetória impressionante de reversão do saldo das transações correntes. Depois de um déficit de US$ 25 bilhões em 2015 (1,5% do PIB), a projeção para 2016 é de um déficit de US$ 15 bilhões (0,9% do PIB)”, afirmou, lembrando que a projeção de Investimentos Diretos no País (IDP) foi elevada de US$ 60 bilhões para US$ 70 bilhões.

Taxa de juros

O diretor de Política Econômica do BC disse que a projeção da instituição para o IPCA de 2017 no cenário de referência contempla obviamente a manutenção da Selic nos atuais 14,25% ao ano. “Entendemos que, no decorrer no tempo, para o andar dos acontecimentos, essa taxa de juros é suficiente para trazer a inflação de volta para a meta em 2017”, disse. Nesta terça, no Relatório Trimestral de Inflação, o BC apresentou estimativa de 4,7% para o IPCA de daqui a um ano e meio ante previsão do dia 16 deste mês de uma taxa de 4,5%.

Para cumprir a meta de inflação em 2017, o BC dispõe, de acordo com o diretor, das “ferramentas que estão aí”. “Temos o conjunto de parâmetros”, disse. Juros de 14,25% dentro de um quadro de ajustes que estão para ocorrer são suficientes, conforme Altamir, para fazer com que a inflação convirja para 4,5%.”

Revisão

Altamir Lopes também fez coro com o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, ao dizer que a revisão da projeção de inflação para 2017 em pouco mais de 15 dias não tem “absolutamente nada de anormal”. No RTI divulgado nesta terça, o BC projeta a inflação do próximo ano em 4,7% no cenário de referência, enquanto a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada no dia 16 trazia essa previsão no centro da meta de 4,5%.

“Não há absolutamente nada de anormal na revisão das projeções. São processos correntes”, respondeu Altamir. Assim como Goldfajn, ele explicou que o aumento das estimativas para a alta dos preços administrados neste e no próximo ano levou ao ajuste das projeções para o IPCA de 2017. “O ponto focal da revisão foi a mudança dos preços administrados em 2017 de 5% para 5,3%, que tem a ver com a revisão que se fez também para 2016”, completou.