Entrevista de Domingo

Da Vitória: "A divisão ideológica atrapalha a unidade da bancada"

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O poder pode atrapalhar ou alavancar o desenvolvimento do Estado e ter voz na hora de brigar por pautas é essencial. A competitividade do Espírito Santo depende disso. Quer conhecer um exemplo? O Aeroporto de Vitória, sob a administração da Infraero, uma autarquia federal, precisava de modernização. E isso desde os anos 1990, em função do crescimento da demanda e das limitações da infraestrutura antiga. Só em 2004 o governo anunciou o início das obras. A previsão inicial era concluir em 2007. 

As obras começaram em 2005, mas sofreram uma paralisação de aproximadamente 10 anos por causa de irregularidades. Entre idas e vindas, o aeroporto foi entregue em 2018. Para se ter ideia, o Aeroporto de Viracopos, em Campinas, passou por modernização e ampliação do terminal entre 2006 e 2011. Cinco anos e a questão foi completamente resolvida. 

Ou seja, a história aponta que a articulação com o governo federal é essencial para questões logísticas. A gente fala aí de portos, aeroportos, estradas, ferrovias. É preciso ter poder e saber negociar lá em Brasília. Aí que entra a “tropa de choque capixaba”. A nossa bancada federal.

O deputado federal Josias da Vitória é o líder da bancada federal do Espírito Santo no Congresso Nacional. São 10 deputados e 3 senadores e ele articula as pautas que fazem, que podem fazer a diferença para o Estado. 

Veja abaixo a entrevista com o deputado federal Da Vitória:

Como o senhor avalia o cenário atual em comparação com o início dos anos 2000?

O exemplo do aeroporto é emblemático. Foram 13 anos para concluir uma obra que poderia durar quatro. Isso aconteceu pela falta de articulação política. Houve interpretações do Tribunal de Contas da União que travaram o processo por anos. 

Naquele momento, a senadora Rose de Freitas liderou esforços para destravar a obra. Não faltava dinheiro, faltava coordenação política.

Hoje, a bancada federal capixaba tem mais força do que naquela época?

O Espírito Santo tem uma população pequena e, portanto, menos representantes no Congresso. Temos apenas 10 deputados federais, enquanto estados vizinhos têm muito mais. Nesse sentido, isso exige qualidade no lugar da quantidade. 

O problema é que a divisão ideológica atrapalha a unidade da bancada. 

Em 2019, assumi a coordenação da bancada e trabalhamos para priorizar pautas econômicas. Avançamos em obras como o Contorno do Mestre Álvaro e a Rodovia BR-447, a Estrada de Capuaba, em Vila Velha, com 70% dos recursos garantidos pela bancada.

Que pautas o senhor considera prioritárias para o desenvolvimento econômico do ES?

A independência financeira do Estado é essencial. A prorrogação dos incentivos fiscais até 2032 foi uma vitória. Tivemos união da bancada, da esquerda à direita, para garantir isso.

Agora, cabe ao governo estadual transformar esse equilíbrio fiscal em infraestrutura e oportunidades de investimento.

Como a bancada dialoga hoje com os setores produtivos?

A bancada tem dado exemplo. Nas pautas econômicas, conseguimos unidade.

Independentemente de partido, todos priorizam o Estado. Essa união trouxe resultados concretos. Conseguimos recursos para o contorno do Mestre Álvaro, a BR-447, o Hospital Geral de Cariacica, a Ponte de Colatina e a duplicação da BR-259. 

Também garantimos investimentos na educação, com R$ 126 milhões para o Ifes, e na segurança pública, com mais de R$ 75 milhões.

E quanto ao novo contrato da BR-101, como foi a atuação da bancada?

Foi uma negociação difícil. O Tribunal de Contas da União exigiu mudanças no contrato da Ecovias. Sem articulação política, corríamos o risco de travar novamente, como aconteceu com o aeroporto. 

A bancada se uniu e conseguimos destravar o processo. Hoje, há a previsão de duplicação da rodovia em trechos estratégicos.

E em relação à BR-262, quais avanços tivemos?

O acordo de Mariana foi decisivo. Conseguimos garantir R$ 2,3 bilhões já depositados na conta do governo federal para o DNIT.

O projeto (da BR-262) está avançado e deve estar pronto até dezembro, com a primeira licitação prevista para março de 2026. 

A nova pista vai de Viana até Iúna, ligando o Estado ao centro do Brasil.

O senhor também citou a BR-259. Há expectativa de avanços por lá?

Sim, já estão em andamento. O DNIT está concluindo o projeto, com recursos alocados pela bancada. A duplicação vai custar cerca de R$ 1,5 bilhão em todo o trecho estadual.

O governador também se comprometeu a contribuir com recursos, o que aumenta nossa chance de viabilizar a obra.

Passando para as ferrovias, como o senhor avalia o impasse com a Vale sobre a F-118?

A Vale se comprometeu publicamente a construir o ramal até Anchieta. Se descumprir, perderá credibilidade. A bancada capixaba está unida, da esquerda à direita, para cobrar a empresa. 

Já convocamos a Vale para prestar esclarecimentos na Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados. Não aceitaremos investimentos na Bahia enquanto o Espírito Santo é ignorado.

O senhor é do PP, partido de centro-direita. Como está sua relação com o governador, do PSB?

Tenho uma relação de amizade e respeito com o governador. Ele conduz o Estado com equilíbrio, ouvindo empresários e priorizando investimentos sociais e de desenvolvimento. Apesar das diferenças partidárias, conseguimos construir pontes em prol do Espírito Santo.

Há chance de o senhor disputar o governo do Estado em 2026?

Ainda é cedo para decidir. Presido a federação Progressistas-União Brasil no Espírito Santo, o que exige alinhamento nacional.

Temos bons nomes, como Ricardo Ferraço, Arnaldinho Borgo, Euclério Sampaio e Lorenzo Pazolini. O mais importante é manter o diálogo e respeitar a vontade da população.

O senhor apoia a legalização dos cassinos no Brasil?

Apoio, sim. O Brasil precisa avançar e gerar empregos e turismo. O Espírito Santo, especialmente Guarapari, pode se beneficiar. Defendo regras claras que preservem a segurança e combatam a criminalidade.

Até onde o ES pode chegar?

O Estado já se destaca em equilíbrio fiscal, segurança e ambiente político. Estamos cercados de gigantes, mas que lidam com problemas sérios. 

O Espírito Santo é organizado, competitivo e fiscalizado pela sociedade. Temos tudo para seguir avançando e nos consolidar como referência nacional.

Da Vitória é deputado federal do ES pelo PP
Edu Kopernick

Editor de Economia

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.

Edu Kopernick é jornalista formado na Faesa, especialista em Comunicação Organizacional pela Gama Filho, com experiência em reportagens especiais para veículos nacionais e séries sobre economia do Espírito Santo. Já teve passagens pelos principais veículos de TV, rádio e webjornalismo do Estado. É editor de Economia do Folha Vitória desde 2024, apresentador de TV e host do videocast ValorES.