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*Artigo escrito por Paulo Baraona, presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes)

Quando penso na força da nossa indústria, não enxergo apenas máquinas, processos e números. Vejo histórias que se constroem a cada dia com pessoas que ousaram empreender, acreditaram em seus sonhos e que transformaram ideias em negócios que impactam a economia e a sociedade.

Mas o que faz com que algumas dessas empresas consigam atravessar décadas, ou até mesmo séculos, enquanto outras acabam desaparecendo em poucos anos? A resposta passa, inevitavelmente, pela forma como tratamos a sucessão e a governança.

De acordo com dados do IBGE, o Brasil tem hoje cerca de 7,9 milhões de empresas em funcionamento. E dessas, apenas 6,7 mil são centenárias, o que representa menos de 0,5% do total.

Esse número, embora pareça expressivo à primeira vista, revela uma realidade preocupante: a maioria esmagadora dos negócios não consegue atravessar gerações.

A pesquisa mostra ainda que 82% das empresas possuem até quatro anos de existência, e apenas 1% chega a ultrapassar meio século de vida.

O que diferencia aquelas que resistem ao tempo sem dúvida alguma é a capacidade de planejar o futuro. Muitas empresas centenárias têm em comum o fato de terem preparado sucessores, seja dentro da própria família ou formando lideranças ao longo do caminho.

Esse processo exige coragem e visão. Não é apenas escolher quem vai “herdar” o legado. É permitir que novas gerações tragam ideias, adaptem às transformações do mercado e mantenham a empresa viva e competitiva.

Aqui no Espírito Santo temos um exemplo que merece destaque. A taxa de sobrevivência das empresas capixabas é superior à média nacional.

Entre as que nasceram em 2017, 38,9% ainda estavam ativas em 2022, enquanto no Brasil o índice foi de 37,9%. Estamos entre os seis melhores estados do país, com desempenho próximo ao de Sergipe, que lidera o ranking.

Esse resultado mostra a resiliência do nosso ambiente de negócios, mas também nos lembra que há um longo caminho pela frente e espaço para melhoria.

Afinal, cerca de 90% das empresas brasileiras têm perfil familiar, todavia, segundo um estudo do Banco Mundial, apenas 30% delas chegam à terceira geração. E mesmo entre essas, apenas metade sobrevive.

São números que nos impõem uma reflexão: quantas oportunidades de riqueza, de empregos e de desenvolvimento estamos perdendo por não estruturarmos bem a sucessão?

É justamente esse o convite que o Fórum IEL de Gestão 2025 trouxe ao discutir o tema “Ownership: Negócios que atravessam gerações”. Este ano, teremos a honra de receber o professor John A. Davis, referência mundial no assunto.

Seu Modelo dos Três Círculos, que analisa as dimensões da família, da propriedade e da gestão, nos oferece um guia valioso para compreender as complexidades das empresas familiares e encontrar caminhos para a continuidade.

Mas não se trata de uma pauta restrita às grandes corporações, até porque a maior parte das empresas nascem pequenas. O planejamento sucessório é essencial também para micro, pequenas e médias empresas.

São elas que compõem a base da nossa economia, sustentam milhões de empregos e movimentam a renda das famílias brasileiras.

Quando elas desaparecem por falta de preparação, perdemos muito mais do que um CNPJ: perdemos histórias, talentos e legados.

Por isso, é preciso encarar o tema com seriedade e visão estratégica. Sucessão não é apenas a troca de comando. É a construção de governança sólida, de cultura organizacional forte e de lideranças preparadas para inovar e assumir responsabilidades.

É um exercício de humildade e generosidade, no qual o fundador reconhece que seu maior legado não está apenas nos resultados que alcançou, mas na capacidade de perpetuar o que construiu ao longo da sua jornada.

Tenho convicção de que discutir sucessão é falar de futuro. É pensar em sustentabilidade, em geração de empregos de qualidade, em competitividade.

É olhar para as próximas décadas com a certeza de que nossas empresas não serão apenas estatísticas de mortalidade, mas protagonistas de histórias que inspiram, geram segurança e riqueza e atravessam gerações.

O desafio está posto. Cabe a nós, líderes empresariais e industriais, assumirmos essa responsabilidade com coragem.

Ao fazermos isso, estaremos não apenas garantindo a continuidade de nossas empresas, mas também contribuindo para um Espírito Santo, e um mundo, ainda mais próspero e duradouro.

Paulo Baraona é presidente da Findes. Foto: Renan Donato/Findes