O governo Luiz Inácio Lula da Silva enviou aos Estados Unidos uma nova carta endereçada ao governo Donald Trump, na qual cobra respostas sobre uma proposta de negociação e manifesta indignação com as tarifas de 50% anunciadas na semana passada.
O documento é assinado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
A carta foi enviada nesta terça-feira, 15, por via diplomática. A embaixada do Brasil em Washington já protocolou o documento nesta quarta-feira, dia 16, perante as autoridades do governo Trump.
Os destinatários finais são o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, e o representante comercial (USTR) dos EUA, embaixador Jamieson Greer.
Alckmin havia revelado que, dois meses atrás, enviou uma carta com uma proposta de negociação sobre as tarifas até então anunciadas, de 10% sobre o Brasil, cujos termos foram mantidos confidenciais. Porém, o governo americano jamais respondeu.
O vice-presidente e o chanceler alteraram uma versão anterior da carta, em que citavam questões de soberania e respeito à separação de poderes no Brasil.
Agora, restringem o teor a questões comerciais, como o superávit dos EUA na balança com o Brasil. Eles pedem a retomada do diálogo técnico, com negociadores comerciais e diplomáticos de Brasil e EUA. A última rodada de conversas ocorreu em 4 de julho, segundo o governo brasileiro.
Apesar do apelo dos exportadores ouvidos no MDIC para que o governo tentasse postergar o tarifaço de 50% por 90 dias, Alckmin e Vieira não solicitam extensão de prazo ao governo Trump.
Segundo diplomatas, os americanos afirmaram que o próprio presidente decidiu na Casa Branca adotar as tarifas de 50%, sem comunicar antes a decisão a suas autoridades de comércio exterior, e estabeleceu como prazo 1º de agosto.
Teor da carta
Os ministérios divulgaram a seguinte nota conjunta sobre o teor da carta, antecipado pelo Estadão.
No contexto do anúncio por parte do governo norte-americano da imposição de tarifas contra exportações de produtos brasileiros para os EUA, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, enviaram ontem, dia 15 de julho, carta ao secretário de Comercio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, nos seguintes termos:
1. O governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto. A imposição das tarifas terá impacto muito negativo em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma parceria econômica historicamente forte e profunda entre nossos países. Nos dois séculos de relacionamento bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos, o comércio provou ser um dos alicerces mais importantes da cooperação e da prosperidade entre as duas maiores economias das Américas.
2 . Desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril de 2025, e de maneira contínua desde então, o Brasil tem dialogado de boa-fé com as autoridades norte-americanas em busca de alternativas para aprimorar o comércio bilateral, apesar de o Brasil acumular com os Estados Unidos grandes déficits comerciais tanto em bens quanto em serviços, que montam, nos últimos 15 anos, a quase US$ 410 bilhões, segundo dados do governo dos Estados Unidos. Para fazer avançar essas negociações, o Brasil solicitou, em diversas ocasiões, que os EUA identificassem áreas específicas de preocupação para o governo norte-americano.
3. Com esse mesmo espírito, o governo brasileiro apresentou, em 16 de maio de 2025, minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação nas quais poderíamos explorar mais a fundo soluções mutuamente acordadas.
4. O governo brasileiro ainda aguarda a resposta dos EUA à sua proposta.
5. Com base nessas considerações e à luz da urgência do tema, o governo do Brasil reitera seu interesse em receber comentários do governo dos EUA sobre a proposta brasileira. O Brasil permanece pronto para dialogar com as autoridades americanas e negociar uma solução mutuamente aceitável sobre os aspectos comerciais da agenda bilateral, com o objetivo de preservar e aprofundar o relacionamento histórico entre os dois países e mitigar os impactos negativos da elevação de tarifas em nosso comércio bilateral.